39. thanksgiving christmas

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Enquanto o carro de táxi desliza pelas ruas de Vermont lentamente, penso em como chegamos até ali. Imprevistos adiaram a viagem para o dia 23 de dezembro, quase a vespera de natal. Esperamos as férias de todos, da escola e do trabalho, e então, uma semana antes, Camila havia estado cansada demais, e nós quase decidimos cancelar tudo. Minha mãe descobriu que a inscrição para um curso único de gastronomia que a fazia sorrir só de falar aconteceria no dia 20, então não podíamos partir antes disso se quiséssemos que ela fosse. Deixamos Camren com Lucy, e tivemos um dia para saber se o cachorrinho se adaptaria. Aparentemente, os dois se tornaram amigos inseparáveis. Pensando sobre tudo isso de dentro do carro, enquanto observo um monte de neve recém afastada aos pés de uma árvore de galhos vazios de folhas, e mais neve caindo, formando uma nova camada na estrada; parece quase bobo. E é sempre assim. As coisas parecem terríveis na hora em que acontecem, no momento, parecem com o fim do mundo. E então depois, em um momento como esse, elas parecem tão... insignificantes. É uma pena que nunca lembramos disso na hora de desespero.

- Como se sente? - Camila pergunta baixinho, deitando a cabeça em meu ombro e passando um braço em volta de minha cintura. Estava dormindo abraçada com Dinah desde que entrara naquele táxi. Desvio os olhos da paisagem para encontrar o rosto da garota mais bonita que já conheci.

- Como uma garota de Miami que nunca tinha visto neve em toda a vida.

Escuto sua risada, e isso me faz rir também. Facilmente.

- É mágico, não é? Vermont é pura mágica. Estou feliz de estar com vocês aqui.

- Oh, eu vejo, Camz - Digo o que é verdade. A felicidade irradia dela, e qualquer um a quilômetros de distância saberia que está verdadeiramente feliz. O sorriso não deixou seus lábios desde que saímos de casa, até mesmo quando cochilou no avião, acordou sorrindo com todos os dentes. E agora exibia um sorriso genuinamente feliz que me aquecia por dentro mais do que o sobretudo branco que estava usando. Deixo um beijo casto em seus lábios e ela rouba outro logo depois. É uma bolha. Uma bolha adorável de carinho que é quebrada por nosso adorável squad, como sempre.

- Agora de língua, vai- Dinah fala de repente, e só então eu percebo que ela está bem perto de nós, com os olhos bem abertos.

- Vou encontrar um namorado no Tinder agora mesmo, e vamos nos beijar em baixo de algum visco em Vermont, com a neve caindo. Vocês vão ver, Camren e Norminah - Ally resmungou, determinada, digitando algo no celular com uma rapidez surpreendente- Antes que digam que eu posso ser sequestrada, coloquei meu nome como Yolanda, e uso meu sotaque britânico para mandar mensagens de voz. Esperteza mandou beijos.

Nós nos encaramos por um minuto antes de começarmos a sessão de gargalhadas. Até Mani que está no banco da frente e parece meio tensa por algum motivo precisa afrouxar o cinto, porque está tendo uma crise de riso. Ally ri de si mesma, enquanto ainda digita.

- Nunca esperé eso de ti, Allyson Brooke Hernandez - Camila fala em espanhol, o que faz com que um arrepio me atinja em cheio. Ela me lança uma piscadela rápida. Sabe que é meu calcanhar de Aquiles.

- Por que é que todo mundo acha que eu sou uma santa?

- Porque você fala "é uma bênção", "graças a Deus" e "Deus te abençoe" - Mani responde contando os três itens nos dedos. Ally para de digitar, parecendo pensar por alguns minutos antes de começar a falar de novo.

- Ah, é que eu acredito. Gosto de acreditar na bondade, no amor, que tem alguém nos protegendo... mas também gosto de rebolar e de beijar embaixo do visco, será que...

Ouvimos uma risada vinda da frente, e não era a de Mani. Estávamos paradas em um sinal vermelho, entre duas árvores enormes com os galhos secos cobertos de neve. O motorista do táxi virou para nos olhar com um sorriso nos lábios e uau.

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