28. and the universe said "i love you"

228 8 2
                                    

Minha mãe me chama para voltar exatamente meia noite. Eu já havia cochilado ao lado das Cabello, e tive que sair de mansinho para não acordar nenhuma das duas.

Quando estou quase alcançando a porta, ouço uma voz fraca atrás de mim.

- Fique... Fique aqui.

Me viro imediatamente, encontrando as duas garotas totalmente adormecidas, os olhos fechados, e o corpo imóvel. Devo estar ficando louca. Viro novamente, só pra ouvir a voz fraca de novo.

- Lauren...

Dessa vez, viro mais rápido. E encontro os lábios de Camila se movendo. Me aproximo o suficiente para poder sussurrar.

- Camz. Estou aqui.

Seus olhos se apertam e ela respira fundo. Está sonhando. Falando com seus sonhos como a pequena Camila.

- Minha Lauren... Fique aqui.

- Até o fim, Camz.

Ela parece relaxar em seus sonhos. E eu sinto que posso ir, depois de deixar um beijo no rosto das duas.

Até o fim. O peso dessas palavras me segue enquanto eu desço a escada em direção a minha mãe. Ela sorri, e cheira a vinho e felicidade. Um arrepio percorre meu corpo quando eu penso por alguns segundos que meu pai poderia estar ali. Pela primeira vez, eu penso nele. E dói.

Quando olho para a mulher em minha frente, sei que ela pensa o mesmo.

- Se despediu das meninas? Podemos ir?

- Elas... dormiram.

- Mas que belas anfitriãs, hm? - Tio Ale comenta, se aproximando ao lado de Tia Sinu. Sorrio, meio sem jeito - Foi um prazer receber vocês. Nossa casa sempre estará aberta. Sempre esteve.

Minha mãe e eu sorrimos, não sabendo bem como reagir. Ela parece diferente, mas eu ainda posso ver as mesmas sombras em seus olhos.

- Obrigada... Por serem tão bondosos. Por nos aceitarem de volta depois de... Bem. É. Nós precisamos ir. Eu agradeço por tudo.

Nós nos abraçamos e nos despedimos até que saímos daquela casa cheia de memórias. O caminho para casa é silencioso. Minha mente borbulhando com o até o fim, e ao mesmo tempo tentando desvendar o silêncio da mulher ao meu lado. Talvez tivesse sido intenso demais para ela. Não sei se isso é bom ou ruim, e simplesmente não consigo perguntar. Talvez o sorriso bobo nos seus lábios seja uma pista. É algo bom. Depois de anos, algo bom ocupa aquela mente.

Quando entramos em casa, eu quase escapo rápido demais para o quarto, mas antes, ouço-a falar.

- Obrigada, Lauren. Parece que você conseguiu me tirar da toca hoje.

Não é novidade que eu não saiba como responder. Felizmente, ela está acostumada, e apenas assente, indicando que eu estou livre para ir. Sorrio e assinto de volta, então corro para o quarto.

Até o fim. Escrevo as palavras e encaro, como se fossem uma aberração. Qual é o fim? O quão próximo está o fim pra ela? Talvez mais do que o meu, do que o de todos nós. Eu terei forças para ficar até o fim? Ela sabe o quanto estou aqui?

Afasto as perguntas. Uma súbita determinação me atinge. Eu vou estar aqui. Eu vou estar aqui o tempo inteiro. Porque ela esteve aqui por mim, o tempo inteiro.

E é pensando nisso que na manhã seguinte eu ligo para o seu celular. Demora um tempo, mas ela finalmente atende.

- Oi, Lo.

- Camz...

- Oi, Lo.

Ela ri baixinho. Travo. Não consigo falar. Minhas mãos geladas suam e tremem.

La VieOnde histórias criam vida. Descubra agora