21. infinitely finite

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Quando você se sente absurdamente satisfeita observando uma pessoa dormir, e sente que podia fazer isso pra sempre. Talvez isso seja uma das definições para "estar apaixonada". E nesse momento, eu estou muito apaixonada. Não que exista outra opção ou saída quando ela está dormindo em meus braços, e eu tenho total liberdade para encarar e encarar. E é nessa mesma hora que a dor vem com mais intensidade. A dor excruciante de se descobrir apaixonada pela sua amiga de infância que está escapando das suas mãos aos poucos, sem que você possa fazer nada. Não choro porque não importa o quanto eu chore ou grite que odeio a doença. Ela está lá.

Suas pálpebras balançam levemente e ela abre os olhos, bem devagar. Parece um pouco confusa, e depois chega mais perto, ainda sonolenta, tentando voltar a dormir. Um sorriso se abre no canto dos meus lábios ao ver aquilo. É tão Camila.

- Lolo? - Ela chama, com a cabeça deitada em meu peito. Aquela voz de criança que vem involuntariamente quando ela acorda está ali - Eu estou com dor de cabeça. E sono.

- Bem, então durma, Bela Adormecida.

- Eu não posso. Preciso ficar... com você. Você ficou acordada... esse tempo todo?

- Eu dormi, um pouco. Mas eu não estava entediada, Camz. Você é bonita dormindo.

Dois segundos de silêncio foram o suficiente para que eu começasse a gritar por dentro, sentindo meu rosto esquentar mais e mais a cada segundo. Por que eu não consigo me controlar? O que eu sinto parece estar pulando para fora.

Camila abre um sorriso tão brilhante quanto o sol enquanto passa os dedos por minha bochecha (que, a propósito, está queimando como o inferno), e só fica pior quando ela beija meu rosto, onde seus dedos estavam.

- Você é adorável.

Rápido demais para que eu perceba, Camila escorrega para fora da cama e dá alguns passos vagarosos, antes de cambalear para trás e quase cair.

- Camila! - Corro até ela e seguro seu corpo, e ela se apoia em mim, quase totalmente. Seu corpo totalmente mole, seu rosto pálido. Sinto o pânico me consumir e a pequena Lauren impotente voltar, vendo a pequena Camila dentro da ambulância. Por favor, faça alguma coisa. Por favor, acorde. Meu corpo parece paralisado, como naquela noite, e eu posso sentir tudo. Tudo de novo.

Mas algo não me deixa ceder. Algo fica estalando e piscando, gritando acorde, acorde.
Olhe pra você agora.
É agora que nós vemos o progresso.

E isso é o que ela fez comigo.

- Sofi! Sinu! Alguém, por favor! - Grito o mais alto que consigo enquanto me esforço para pegá-la no colo. Tenho que ter sorte o suficiente para que Sinu esteja trabalhando de casa, como geralmente está. Mas enquanto ela não chega, eu preciso manter Camila acordada. Ela parece pior a cada segundo, mas eu me impeço de ficar amedrontada - Camz, você está me ouvindo? Você está se sentindo fraca ou...

Ela solta o ar de forma desesperada apenas uma vez antes de desmaiar, e é bem quando Sofi entra no quarto correndo.

- Sofi, sua mãe está em casa?

- Ela saiu rapidinho pra... Kaki!?

- Eu preciso que você ligue pra ambulância agora. Pode fazer isso? Você só tem que ligar e dizer onde...

- E-Eu vi nos filmes, Lolo. Não chora, tá?

A pequena corre para fora e então eu percebo que estou chorando. Talvez porque seja impossível não chorar. Não sei o que vai acontecer, me sinto sozinha e tenho medo de fracassar e perder Camila. Mas preciso tentar.

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