23. friends.

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Demorou meio século, mas está aqui. Eu estava tendo dificuldades com esse capítulo e ainda acho que ele está meio muito ruim. Me perdoem por isso.

xx

Durmo como um bebê até alguma hora da tarde e acordo com um sentimento estranho. Como se eu tivesse tido um sonho muito bom e não conseguisse lembrar. Aos poucos, o que aconteceu vai voltando devagar, momento por momento até o beijo, que me faz tocar meus lábios devagar e fechar os olhos, e então do beijo até a ligação.

Deus, que memórias. Eu não consigo parar de sorrir por um segundo sequer. Quando saio do quarto, tudo é silêncio. E o silêncio naquela casa é algo que eu estou realmente acostumada. Vou até a cozinha e como uma maçã, ainda sorrindo. Não costumo ter muito apetite, mas de repente, comer parece algo legal para se fazer. Penso que talvez Camila esteja mesmo conseguindo ajudar. 

Depois de mais algum tempo sozinha, a campainha toca. E a campainha da minha casa não toca. Isso me deixa mais assustada do que uma garotinha sozinha em casa. A campainha continua tocando enquanto eu ando em círculos em frente a porta, com medo de olhar a janela. Por fim, decido perguntar:

  — Q-Quem é?

— Dinah Jane, a abelha rainha. As outras nem são zangões dela. 

—  Ridícula — Ouço Ally retrucar.

— Psst. Não falo zangonês.  Não vai abrir a porta, Jauregui?  

Abro a porta para encontrar Dinah, Normani e Ally, me encarando com um sorriso um tanto bizarro. Recuo um passo.

 — Ei... O que vocês estão fazendo aqui? 

 — Acabamos de sair da casa da Cabello. Ou devo dizer, da versão extremamente apaixonada dela. Você sabe algo sobre isso, Jauregui? Seus olhos me dizem que sim. 

Imagino que minha expressão seja a mesma de alguém que foi pego fazendo algo errado e está apavorado. Eu posso me ver correndo para longe das perguntas e dos olhares questionadores. Mas ao invés disso, apenas tropeço para trás e abro mais a porta. Elas entendem o recado e entram. 

Minha casa não recebe visitas há um bom tempo. Principalmente visitas da luz. Todas as cortinas estão fechadas e só então eu percebo o quão triste o ambiente parece. As meninas entram devagar e subitamente parecem intimidadas. Ou assustadas. Seus olhos correm por todo o ambiente e eu me sinto quase envergonhada por morar ali. 

— Laur... — Dinah chama, agora sem o tom brincalhão — Você está bem? 

— Sim. Estou. E-Eu sei que parece meio escuro mas é que... eu não costumo ficar muito... aqui. 

— E os seus pais? — Ally pergunta, mas logo parece perceber algo, e então encolhe os ombros.

— Está tudo bem, meninas — Olho para as cortinas. Não está tudo bem. Aquela casa não tem luz desde que meu pai se foi. Nós nunca somos corajosas o suficiente para abrir a janela e deixar a luz do sol entrar — Vocês querem ir até o meu quarto?  

Aquela pergunta soa estranha até para mim. Eu nunca pensei que estaria chamando pessoas para irem até meu quarto. Não depois de tudo. Mas ali estou eu, colocando minha confiança naquelas meninas. Sim, eu confio nelas.

— Adoraríamos — Normani responde, doce. Tenho vontade de abraçar todas elas, por algum motivo.  Talvez só por estarem ali.

Guio-as pela escada até meu quarto, e felizmente elas não comentam sobre a cama desarrumada. Ou sobre o quarto desarrumado. A vida desarrumada. Só sentam na cama,  a vontade, como eu peço que fiquem.

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