Ela não me liga de volta de manhã. Me odeio por ficar encarando aquele telefone, esperando e esperando. Eu não queria ficar assim. Por isso é tão perigoso falar com uma pessoa todos os dias: um dia sem ela pode ser realmente vazio.
Espero que não seja um dia inteiro. Espero não ter feito nada errado. Penso em todas as coisas que posso ter feito até pegar no sono de novo. Não há mais nada para fazer em casa, e eu não confio em mim mesma para ficar só.
Foi um dia inteiro. Um dia inteiro sentindo falta da luz da garota da casa ao lado. Um dia inteiro vagando por minha casa como um fantasma, me sentindo como um. Tentei escrever algo, mas todas as palavras que eu conhecia pareciam ser "eu sinto falta dela" e "que coisa mais idiota". Tentei fazer algo e esquecer o nome dela, esquecer o sentimento de paz que vinha com ele. Talvez eu precisasse encontrar esse sentimento sozinha. Talvez eu estivesse sozinha. De novo.
Minha mãe e eu nos ignoramos de noite, o que foi bom, porque eu não aguentaria ser derrubada de novo. Jantamos ao som dos talheres batendo no prato, um silêncio quase ofensivo. Queria tanto que ela se importasse com meus olhos tristes, com a expressão preocupada demais para uma adolescente de férias. Mas Clara apenas terminou o jantar, lavou o seu prato e me lançou um olhar triste antes de subir as escadas lentamente, como quem caminha para a morte.
Choro antes de dormir. Ela não ligou. Ela esqueceu. Essas palavras pesam tanto que em um minuto meus olhos também pesam. E eu durmo.
Só penso na doença quando abro os olhos de manhã. A ideia me atinge com tanta força que eu rolo para fora da cama e olho a janela como se fosse conseguir ver ela. Meus pés tocam o chão gelado e eu vou aos pulos até o banheiro, esperando que não seja tarde. Por favor, que não seja tarde.
Quando saio de casa, o sol está começando a aparecer. Ainda não está queimando como se ordenasse que nós, moradores de Miami, fôssemos a praia. É só o sol, iluminando. A ansiedade me impede de bater antes de ouvir algum barulho que me mostre que eles estão acordados, que não sou um incômodo, então fico plantada como uma flor no quintal, sentada na grama, sentindo os pequenos raios de sol que me encontram. Estou quase cochilando ali quando escuto uma voz familiar por perto.
- Lauren? O que você está fazendo aí?
Encontro o olhar confuso de Alejandro quando levanto os olhos e por um minuto, quero sair correndo. Mas ele estende a mão, e eu aceito a ajuda, quase saltando do chão.
- H-Hã... Oi, eu... Eu só, sabe...
- Estava passeando por aí ás seis da manhã e decidiu parar e dormir aqui, eu entendo - Ele fala tudo em um só tom, com a mesma expressão, e eu realmente não sei se é uma brincadeira - Eu aposto que minha esposa e minha filha adorarão ter sua companhia durante o café.
Alejandro coloca uma das mãos enormes em minhas costas e me guia para dentro de sua casa. Simples assim. Sem mais perguntas sobre eu estar sentada no gramado da sua casa seis da manhã.
- Ale? Esqueceu algo?
A voz de Sinu vem da cozinha, de onde vem o cheiro de café e torradas. Ele me guia até lá e para na porta, fazendo com que Sofia e Sinu me olhem, confusas.
- Convidei-a para tomar o melhor café que Miami já viu. Tudo bem?
- Mas é claro que está. Sente aqui, queridinha.
Alejandro se despede da família, e avisa que volta para o almoço. Uma Sofia sonolenta, de pijama e ainda de olhos fechados, se agarra no pai como se não quisesse deixa-lo ir. É tão adorável e deixa um buraco negro no meu coração.
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La Vie
RomansaCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.