Uma semana depois, deixo uma margarida no colo de uma garota em uma cadeira de rodas. Assim que eu a vejo na sala de sua casa, acredito que poderia ficar cega com aquele sorriso que iluminaria Miami inteira, e brilhava mais do que o próprio sol. Quando percebe as flores e me percebe abaixada em sua frente, o sorriso aumenta, como se fosse possível.
- M-Minha Lolo - Camila pula em mim, me fazendo cair no chão, e eu não dou a mínima. Me agarro a sua vida que ainda está ali, mesmo que seja difícil, mesmo que o câncer tenha atacado partes do seu corpo que não deveriam ser atacadas e agora ela não consiga ficar de pé por mais de vinte minutos; a vida ainda está toda ali, do lado de dentro, e eu posso sentir. O abraço dura mais do que duraria com qualquer pessoa que estaria em uma posição desconfortável. Dura tanto para compensar uma semana inteira quase sem contato. Nos três dias no hospital e três em casa, Camila dormiu quase a semana inteira. Não de forma contínua, como no coma. Mas passou muito tempo sonolenta. Tão sonolenta que não abria os olhos pra comer ou conversar, e as conversas sempre duravam pouco. Nós sabíamos o que era aquilo. Sabíamos que era ruim. Mas toda vez que ouvíamos sua voz sonolenta chamando, não podíamos evitar um sorriso. Ela está viva e é isso que importa.
Me esforço para levantar nosso peso do chão para ficar sentada quando ouço a voz se Dinah do lado de fora. Eu sempre acho que sei o que ela vai dizer, mas daquela vez é diferente. Eu vejo a emoção brilhando em seus olhos quando ela vem correndo e abraça a garota em meu colo. Camila pula para ela, e tudo que eu consigo ouvir é a voz da mais alta dizendo "minha pequena, minha bebê, fiquei tão preocupada, te amo tanto". É bom observar todo o carinho, todo o amor das duas. Mas fica melhor ainda quando Ally e Normani aparecem de algum lugar e me puxam para o abraço. E então somos cinco. Estamos completas.
- Mama, Papa. Cadê a Kaki?
Sorrio quando ouço a vozinha sonolenta. Sofi peguntou isso durante a semana inteira. Seus pais deixaram que dormisse comigo alguns dos dias, porque daquela vez, parecia estar sendo mais difícil ficar sem a irmã. Mesmo com Camren por perto, ela sempre voltava a chorar pedindo Camila de volta. E ali está ela.
Todas nós nos afastamos quando Sofia aparece na sala, porque sabemos que ela precisa correr para a irmã e abraçar, por um bom tempo. Chorar também. Só passar tempo com sua melhor amiga. O abraço é a coisa mais bonita. É apertado e demorado, cheio de palavras sussurradas que eu e as meninas nunca conheceremos, mas sabemos que cada uma delas é importante. Não temos nenhum plano para aquele sábado. Nada em mente além de comer besteiras e passar algum tempo em volta de Camila, que agora está de volta e brilha como o sol.
- O que querem fazer? - Mani pergunta. Eu já prevejo a piada da minha garota antes que ela a faça, apenas pelo sorrisinho divertido.
- Eu quero brincar de corrida, e ver um filme.
Todas nós sabemos que ela está sendo sarcástica, e que é uma das piadas leves que podemos rir junto sem culpa. Mas não há risada daquela vez. Eu e as meninas tocamos olhares rápidos antes de responder.
- Então vamos fazer isso.
Camila arqueia as sobrancelhas e sorri, como se dissesse "vocês não entenderam a piada", mas Sofi logo se agita em seu colo, com um sorriso enorme.
- Lolo pode levar a Kaki nas costas, e a Cheechee leva Ally, e a Mani me leva!
Nós assentimos sorrindo. Percebo quando Camz abaixa a cabeça e morde o lábio, um dos sinais de que vai chorar. Mas agora, é uma hora feliz. Me inclino para chegar os lábios perto do seu ouvido, onde soa como um segredo, mas nunca será um.
- Sobre a positividade: foi você quem nos deu.
Vejo um sorriso aparecendo quando uma lágrima solitária cai. Ela levanta a cabeça e enxuga a lágrima. Temos tempo para fazer todas as coisas, mas não para chorar.

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La Vie
RomansaCamila e Lauren se reencontram em um hospital, depois de oito anos. As duas estão doentes, e o tempo está passando mais rápido do que deveria. Mas sempre há mais tempo. Tempo de consertar; tempo de amar. E essa é a vida.