22. alive

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Três dias depois do desmaio, meu telefone vibra as três da madrugada com uma ligação. Eu sei quem é, mesmo sem olhar.

- Você não deveria estar dormindo? O doutor disse...

- Oi, Lo. Eu também senti sua falta- Ela sussurra, e eu sei que está sorrindo. Sorrio mesmo sem querer, e antes que possa falar qualquer coisa, ela volta a falar- Quer andar um pouco?

- O que?? Camila, você não pode... você precisa...

- Eu descansei por tempo demais, e vamos ter tempo o suficiente pra descansar quando morrermos, amém. Mas agora, eu preciso andar, e se você não for comigo, eu vou sozinha.

Eu rio, porque é tudo que eu posso fazer. Ela sempre ganha, de alguma forma. Ela e o seu brilho intenso. Camila é quase o próprio sol.

- Coloque um casaco. Está frio essa hora. Te encontro na frente da sua casa, e meu Deus, como você vai sair sem fazer barulho, Camila? Vão nos matar. Você não quer andar de manhã? Eu estava tendo uma adorável noite de insônia sem perigos e...

- Chata. Espírito de mulher idosa, sai desse corpo que não te pertence. Vamos, Lo! Vamos viver! Te vejo daqui a pouco.

Há tanta vida na sua voz. Tanta saúde. Apesar de tudo, Camila passa exatamente como está por dentro. Viva, e brilhando. Isso é tão bonito e tão contagiante que minha única opção é começar a me arrumar para "andar", com Camila Cabello, ás três da madrugada.

3:47. Estou parada em frente a casa dos Cabello há, provavelmente, dez minutos, e Camila não deu sinal algum de vida. Está tudo escuro demais e minha camisa de flanela não parece ser o suficiente para aquecer meus braços. Me pergunto se ela vestiu um casaco como eu pedi, ou se me ignorou totalmente.

Depois de mais alguns minutos, Camila abre a porta e tropeça para fora. Ela parece apavorada, olhando em volta enquanto tenta esconder a chave abaixo do tapete. Ou achar o tapete. Preciso de alguns minutos para me mexer porque, mesmo tendo me ignorado quase totalmente, ela está maravilhosa.

- Aqui. Acho que você precisa usar óculos, Camz - Sussurro, depois de empurrar a chave para debaixo do tapete. Ela quase dá uma gargalhada escandalosa, mas lembra onde estamos antes - Como você saiu?

- Ceguinhos tem seus truques - Sussurra de volta e pisca. E então entrelaça seu braço ao meu, e começa a andar. Eu não tenho certeza de como ela sabe pra onde estamos indo, mas me deixo ser guiada, ajudando-a apenas com algumas placas ou pedras no caminho. E logo, por algum motivo, ela está pulando apoiada em minhas mãos, e sua risada cheia de vida está lá.

- O que foi, Camz? O que aconteceu? - Rio com a empolgação semelhante á de uma criança. A garota de cabelos castanhos vira para mim e seu sorriso se abre mais ainda, como se pudesse me ver.

- Nós estamos aqui, Lo. Eu e você, andando pelas ruas de Miami de madrugada. As madrugadas podem te fazer sentir só ás vezes, mas também podem te fazer sentir único e especial. Vem cá - Ela me puxa para perto e coloca minhas mãos em sua cintura. E então, suave e graciosamente, começa a nos conduzir até o meio da rua.

- Estamos no meio da rua - Aviso, mas minha voz sai baixa, e rouca. O canto dos seus lábios se curva em um sorriso.

- Obrigada, guia. Você tem sido muito útil - Por que diabos ela precisa falar sorrindo e sussurrando? Eu me rendo, Camila. Pare de me atacar! - O resto da cidade provavelmente está dormindo, Lo. Não sente como se estivesse livre? Dos olhares, das coisas ruins. Como se aqui você pudesse ser o que quiser, dizer o que quiser...

Camila desliza os dedos por meus olhos e eu os fecho. E somos só nós no universo, definitivamente. Sozinhas o suficiente para rodar pelas ruas de madrugada, sendo o que queremos ser. Camila quer ser infinita. E eu quero me sentir viva. Exatamente como eu me sinto agora, o tempo inteiro.

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