Prólogo

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Primeiro ano do Ensino Médio


Ouvi as batidas apressadas na porta e a campainha que tocava sem cessar. Mesmo que não escutasse, gritei que já estava indo. Até estranhei porque já eram quase nove horas da noite e ninguém em casa esperava visitas. Abri a porta num súbito me surpreendendo com a visão de Hannah ali, parada, abraçando os próprios braços com o rosto vermelho e lagrimas escorrendo. Meu estômago revirou e não conseguia pensar em nada além do pior. Engoli seco tentado falar algo.

— Hannah? O-o que aconteceu?

Sem nenhuma resposta ela simplesmente me abraçou o mais forte que conseguiu passando seus braços finos em minha volta soltando suspiros de um pulmão cansado. Se afastou sem jeito limpando o rosto pro lado. Parecia envergonhada e desapontada a olhei novamente fazendo uma busca rápida de marcas de luta, manchas de sangue, até se a sua roupa estava rasgada. E nenhum vestígio, porque eu não me importava de sair atrás do filho da puta que tinha feito qualquer coisa pra machuca-la. Socar a cara do maldito seria muito bom pra que ele aprendesse que Hannah tinha alguém que a protegia.

— Eu precisava te abraçar e dizer pessoalmente que me arrependo de ter saído de casa hoje.

Sua voz saia baixa com jeito de estar contendo mais choro, e eu tentava ligar os pontos do porque ela se arrependia e não podia deixa-la ir embora sem que me explicasse.

— Por favor, vem quero te ouvir.

Peguei seu pulso sutilmente a puxando pra dentro de casa. Hannah olhou indecisa mas entrou discreta. A voz da minha mãe soou abafada do quarto.

— Quem está aí filho? — subi as escadas com Hannah atrás, abrindo a porta do quarto dela a vendo na cama assistindo televisão enquanto meu pai tomava banho. Pensei no que iria dizer sendo que ainda nem mesmo sabia —

— Hannah! Ela veio me contar sobre o jogo, a escola ganhou — menti sorrindo falso apertando a maçaneta — vamos conversar um pouco!

— Tudo bem, depois leve ela pra casa, não quero Hannah andando nessas ruas tão tarde.

Assenti me sentindo aliviado e encostei a porta indo em direção ao outro quarto. Olhei pra Hannah e sua cabeça baixa olhando para os pés não negava que estaria alheia a qualquer coisa no ambiente.

— Então, você está me deixando preocupado, alguém fez algo pra você? Foi aquele filho da mãe?

— É... fui traída, em público, uma incrível humilhação Nathan! E a única coisa que eu fiz foi empurrar um fotógrafo e jogar um copo de soda nos dois. Erick beijou Jessica no final do jogo, todos viram e tiram outras fotos para virar piada depois.

Ela abaixou a cabeça começando a chorar novamente e não iria parar. Me aproximei devagar a abraçando, sentindo aquela angustia maldita que a prendia. Passava as mãos nos seus cabelos macios como consolo, mas não adiantava, porque ela precisava colocar tudo pra fora, precisava superar.
Tinha uma grande dificuldade em ver mulheres chorando em uma situação frágil, e com Hannah isso era pior, por propriamente ela ser frágil. Se multiplicava por mil.
Ela me ligava as vezes para desabafar, e a voz falha era a sentença, sempre estava triste e com raiva se sentindo descartada por Erick. Dessa vez podia imaginar a cena com detalhes.

— Shhhh, Hannah, quero que pare de chorar — me afastei um pouco a vendo tirar o óculos e limpar as bochechas úmidas, arrumei a armação no seu rosto — aquele filho da puta não merece suas lágrimas e sim uma surra.

Se desvencilhando, sentou na beirada da cama ainda olhando pro chão. O silêncio servia como a própria sentença. Afinal ela só podia lamentar. E como amigo, tentei avisa-la, mas sem querer ouvir, terminou assim.
Há dois meses atrás brigamos e preferi me afastar por motivos óbvios, acreditava ser melhor. Vê-la namorando com Erick me incomodava. Não queria assistir aquilo. Aproveitei esse tempo saindo, conhecendo garotas novas e sabendo que nenhuma iria ocupar o lugar dela. Sem comparação, apenas fingindo que seria diferente, assim o papo fluía.

Jogada ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora