Capítulo 10 - Sarcasmo falso

2.1K 200 181
                                    


A professora fazia sinais pra que cada aluno se juntasse com seu parceiro que ela tinha escolhido na sala. Meu estômago revirou e ela me olhou através dos óculos na ponta do nariz e apontou pra mim e Hannah.

Porque o destino adorava fuder tudo.

Ela puxou sua carteira do meu lado me olhando rapidamente, sem falar nada, sentou colocou o livro aberto entre nós. Olhei pra lateral de seu rosto me lembrando da noite de ontem. Inevitável. Aquilo parecia a loucura mais real que já vivi, e agora conseguia despi-la com o olhar era desconfortável. Vi seu peito se encher de ar e ela se virar me olhando séria praticamente me fuzilando com o olhar.

– Da pra prestar a atenção na merda do texto que a professora pediu?

– É-e desculpa.

Ela voltou a atenção pro livro enquanto não conseguia sair do primeiro parágrafo que falava sobre nossa sociedade capitalista e as classes sociais. Observei seus olhos seguindo as linhas do texto e como o moletom college do nosso time de futebol americano com mangas em azul escuro e branco a deixava linda.

– Eu sei que deve estar se lembrando o quanto a festa do Greg foi legal, e sei que sua acompanhante te convenceu a ir...

– O-o que? – fiz uma expressão confusa arregalando os olhos pensando em tudo que eu tinha feito ontem. Murmurava enquanto só me lembrava da frustração que senti depois que cheguei em casa –

– Aposto que vocês conversaram bastante sobre corográficas e pon-pons coloridos!

– Levei Mellanie e... Nós divertimos normalmente e...

Me perdi no que dizia ao ver aqueles olhos verdes me importunando. Já havia chegado em muitas garotas apenas trocando olhares, mas a sensação com Hannah ali era como estar num beco escuro e ouvir barulho de tiros. Fazia o melhor pra não aparentar.
Ela virou a página do livro e anotou rapidamente algo que era da matéria no caderno. Bateu a caneta contra a mesa e continuou baixinho.

– Você não me deve satisfações... A não ser que está pecando. – ela me olhou penetrante como se soubesse dos meus pensamentos que estavam me incomodando e levando a loucura – Tenho certeza que você divertiu muito... E você parece um idiota tentando esconder as coisas de mim.

Hannah sorriu torto tentando me convencer de uma acusação. Ela não precisava saber que transei com Mellanie e vi ela, ou pensei. Pois era ridículo saber o quanto ela mexia comigo.

Mexia pra caralho, a ponto de loucura.

O sinal bateu e Hannah saiu rapidamente me deixando cheio de coisas pra perguntar. Entreguei o livro pra professora e sai correndo vendo sua silhueta no meio do corredor e corri pegando seu braço, e num súbito se virou.

– Espera, olha... eu... porque você está falando comigo desse jeito?

– Me solta por favor. – fiz o que ela pediu e ela me olhava como se tentasse entender o que diria – Vamos ser realistas... E mesmo que isso doa, estamos bem grandinhos e sabemos o que queremos não concorda? Foi uma boa escolha Nathan, se divirta... É a sua vida.

E por trás daquela lente vi seus olhos se encherem de lágrimas e toda ironia e sarcasmo desaparecerem. Era apenas uma armadura contra mim e tudo o que estava causando nela. O único jeito de encarar e falar com idiota aqui.

– Eu sei... Me desculpa?

– As coisas não estão como antes Nath, eu nem mesmo sei se posso te chamar assim...

– Você é a única que me chama assim.

– Não é sobre apelidos que eu quero esclarecer! – ela colocou as mãos como se fosse parar alguma coisa e sorriu fraco – Já conversamos. Isso só vai piorar, porque eu acabei fazendo o papel de "madrasta chata", sempre tentando convencer que a noite não é atrativa, mas você é apenas um garoto e tenho parte da culpa quando nos afastamos.

– Culpa?

– Deixa pra lá... Só não force mais diálogos como este.

Hannah me olhou por mais alguns segundos como se gravasse cada detalhe meu rosto e olhou por trás de mim vendo algo e logo se afastou.
Senti um braço envolto a minha cintura e cabeça se apoiou no meu braço. Era Mellanie.

– Quem era aquela míope?

Lutei contra a vontade e retirar seus braços envoltos em mim pela entonação pejorativa que ela usou. E a pergunta só poderia ser respondida com a voz da minha consciência.
A única garota que eu realmente amava, puramente e completamente. Que tive de abrir mão por ser o que sempre fui. Um canalha.
Porque quando as coisas ficavam difíceis eu recorria a copos de uísque e motéis baratos.
Ela não precisava e não merecia ter o coração fodido pela segunda vez por alguém que ela confiava e tinha carinho. Tinha que seguir o meu maldito caminho, mesmo que isso machucasse pra caralho.

– Estávamos fazendo um trabalho juntos. Ela é minha amiga.

Falei sério travando a mandíbula e Mellanie deu de ombros como se fosse superior. Ela se desvencilhou e eu agradeci mentalmente. Lembrei que daqui duas semanas haveria o outro jogo do campeonato. E precisava me preparar fisicamente e psicologicamente, e que nada daquela pequena histeria iria resolver alguma coisa.

Jogada ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora