Capítulo 24 - Alto nível de dopamina

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Segunda-feira, 15 de Junho de 2015

Estava aguardando chamar meu nome olhando um cartaz alertando sobre o índice de câncer de mama e a prevenção. Me sentei na cadeira desconfortável respirando fundo.
Não gostava de ir a hospitais. O ambiente monótono me dava a sensação de angústia, um local onde pessoas recebiam notícias ruins, recebiam prazo de vida. E choravam pedindo somente a ajuda divina. Arrepiei, lembrando de mamãe me contando da maldita pneumonia que tive aos três anos e quase morri.

– Nathan Campbell? – levantei num pulo vendo a enfermeira com um coque mal feito me chamar com uma prancheta nas mãos. O plantão com certeza foi exaustivo. – o doutor Carter irá atende-lo, o consultório é aquele.

– Obrigado.

Sorri fraco avistando a porta entreaberta. O doutor de cabelos grisalhos carimbava e assinava papéis até perceber minha presença.

– Bom dia senhor Campbell, sente-se – ele apontou pra cadeira mais confortável e assim fiz – olhei sua ficha, e realmente estou impressionado... Os resultados de todos os exames ficaram prontos e olha – ele deslizou uma folha na mesa que observei com mais atenção – colesterol num nível normal, assim como sua tireóide, diabetes... Todas as taxas em perfeita harmonia. Prática algum tipo de esporte ou é atleta?

– Futebol americano há três anos.

– Ótimo! Isso é aparente, espero que torça para os Patriots!

– É o meu time de coração! – ele riu colocando o óculos de armação fina no rosto circulando alguma coisa na folha –

– Tentei convencer meu filho, mas ele prefere os Saints! – ele falou desanimado brincando com a caneta entre o dedos e eu ri – Algum tipo de vício?

Agradeci mentalmente por ele ainda não me direcionar o olhar pois me movimentei na cadeira pigarreando.

– Não... Quer dizer... Andei exagerando na bebida ultimamente, mas nada de me embebedar e perder os limites...

– Não quero assusta-lo... Mas você sofreu um grave acidente recentemente e mesmo que seu fígado se regenere como um rabo de lagartixa, procure evitar. Não sei como foi o seu pré atendimento no local, e também não sou um médico pagão... Porque o único motivo de você está aqui na minha frente respirando vai muito além do que eu estudei todos os anos nos livros na faculdade.

– Eu sei. E acredito nisso. Mas poderia tirar essa coisa do meu braço?

Ele riu se levantando colocando o estetoscópio no ouvido apontando pra que sentasse na maca. Mesmo sobre a camiseta senti o metal gelado no peito ouvindo as batidas do meu coração.

– Agora respire fundo – assim fiz sentindo a mão dele pressionar minhas costas procurando algo suspeito no pulmão – tudo bem, agora abra a boca

Retirou o aparelho dos ouvidos, pegou um palito do bolso do jaleco enquanto abri a boca tímido analisando minha garganta enquanto mexia meu olho pra todos os cantos da sala. Um gosto seco e estranho de como mastigar um palito de sorvete.

– Seu raio-X mostrou que já podemos retirar o gesso – ele olhou por segundos no braço imobilizado – desculpe a curiosidade mas quem seria H. W?

– Praticamente minha namorada!

Ele soltou um risinho indo ao seu gabinete abrindo as gavetas até achar um uma pequena serra elétrica a ligando pra testa-la. Tentei não rir ao imaginar Luke no meu lugar, ouvindo aquele som tortuoso e estridente como nos filmes de terror do Jason que odeia.
A lâmina giratória passava cortando o material fazendo uma leve fumaça de poeira branca. Com o gesso partido até a extremidade ele pegou um outro aparelho parecendo um alicate grande que fazia o trabalho de abri-lo até a camada fina de tecido.
Finalmente aquela porcaria estava nas mãos do doutor e enquanto movimentei o braço esquerdo fazendo uma careta.

Jogada ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora