Capítulo 43 - Quarenta e oito horas

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Via meu celular vibrar com o nome dela no visor. Assim que uma ligação era ignorada a outra começava. Não sei das quais tentativas atendi, não querendo fazer aquilo.

– Nathan onde você está?!

– Onde não deveria ter saído! – soltei uma gargalhada – Não não! Se quer saber eu não fodi nenhuma prostituta! Nunca precisei pagar por sexo.

– Nathan, Nathan! Deus! Você está bêbado?

– Não precisa se preocupar comigo – falei enrolando as palavras começando a chorar de novo – Eu te odeio e eu te amo.

– Meu amor me escute... Não dirija agora! Chame um táxi e vá pra casa...

– Você costumava ser a minha casa. Não ligue mais. Por favor.

Desliguei o telefone sem aviso e ouvir sua voz. Fechei a mão em punhos socando a mesa.

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Senti tapinhas na perna me alertando pra que acordasse. Puta merda. Estava deitado abraçado a garrafa com dor muscular pelo corpo por dormir nos bancos acolchoados encolhido.
Me sentando, levei a mão na cabeça fazendo uma careta. E parecia que lá dentro Metalica, Kiss e Nirvana competiam pra quem fizesse mais barulho. Abri os olhos com preguiça com o sol irradiando o ambiente do bar.

– Ela tem um nome bonito.

Passei as mãos no rosto e baguncei mais o cabelo. Que merda era essa? Joseph apareceu retirando a garrafa de mim. Piscando surpreso, provavelmente tinha ingerido quase 700 ml daquela bebida.

– O que?

– Hannah. Você chamou pelo nome dela, que presumo ser sua namorada.

Soltei um risinho irônico. Namorada? Ela não precisava mais do namoro de verão, nem dos diálogos sobre o futuro ou os planos que nem tive chance de contar.

– Que horas são?

– Sete e dez da manhã.

Assenti meio zonzo retirando a carteira do bolso, deixando notas de dólares e levantei cambaleando. Mesmo com o  assobio estridente, continuei a me apoiar nas mesas derrubando algumas cadeiras.

– Ei Nathan!

Passando meu braço em volta de seus ombros, sabia que não passaria da porta de saída com todo aquele enjoo. O estômago mandava refluxos agressivos numa forma de expelir o álcool.

– Preciso de ir ao banheiro.

Cai de joelhos me apoiando na privada onde fiz o certo de deixar a ânsia vir. Tossi até perder o fôlego e me jogando no chão com os joelhos flexionados limpei a boca e meus olhos marejaram.

– Me desculpa rapaz. Deveria ter te tocado do meu bar.

– Eu iria pro próximo e talvez, não estivesse mais vivo. Obrigado Joseph.

Levantei dando descarga lavando o rosto e a boca. Fui até o balcão me escorando com a cabeça baixa.

– E-eu acho, que vou aceitar o taxi.

– Já está a caminho. Espero que se acerte.

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Minha mãe me abraçou e de novo as lágrimas vieram. Não queria dar satisfações, explicar o que aconteceu na noite passada e imaginar as quarenta e oito horas se passando.

– Meu filho! Nathan... O que aconteceu com você? Hannah me ligou desesperada e disse...

– Disse o que? – tirei a jaqueta a jogando no sofá junto com as chaves – disse que ferrou tudo? Que escondeu sobre ir pra outra cidade me deixando
assustado como um garotinho?

– Filho por favor...

– Não fale mais daquela egoísta pra mim.

Subi as escadas cambaleando. Com a cabeça latejando minha visão se embaçava. Cheirava a álcool e precisava relaxar com um banho quente e sono profundo.

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10: 34 PM

As batidas bruscas na porta denunciavam a impaciência do meu pai querendo entrar pra dar mais um de seus sermões de aceitação.

– Nathan abra essa porta! – gritou – vai ficar trancado até fazer trinta anos?

Revirei os olhos destrancando o fazendo entrar apressado me olhando com desdém. Afrouxando a gravata respirou fundo colocando as mãos na cintura enquanto sentei o encarando.

– Deixa eu ver se entendi... Você briga com a Hannah, pede pra que saia do carro e vai pra merda de um bar encher a cara e só volta de manhã? É realmente o filho que criei? – ele gritou e eu permaneci em silêncio – a sua mãe pode ser a mulher mais compreensível desse mundo por achar que é "coisa do momento" mas eu não Nathan!

– É a merda da minha vida! Não tive uma ideia inteligente? Que se dane...

Neguei com a cabeça e subitamente meu pai segurou meus ombros com força como se fosse me chacoalhar.

– Eu deveria te dar uma surra.
– cuspiu com raiva me olhando com desaprovação –

– E se mamãe fosse embora pra outra cidade amanhã?! O que faria?

– Iria atrás dela. Amanhã, daqui uma semana ou ano, sei lá. Porque quando amamos alguém, nos agarramos a um fio de esperança, nem que seja o único pra que dê certo. E acredito que na fórmula do whishy não veio um antídoto pra esquecimento seu idiota!

– Não entende que ela não me quer mais? – tapei o rosto em frustração e meus olhos já estavam lagrimejados  –

– Não foi isso que Hannah me disse ao telefone! – ele suavizou o tom de voz –
Filho, a maneira como ela te olha é a mesma em que sua mãe me olhou no altar, e tem dúvidas sobre o amor dela? Meu Deus! Que vontade de socar sua cara!

De fato estava ouvindo mais o meu lado irracional e impulsivo. Dar o braço a torcer era difícil quando seguia meus princípios. E ela realmente havia me machucado, quebrado as promessas e desfeito parte do que construímos. Mas estava disposto a tentar de novo, e de novo, porque um dos meus defeitos era ser teimoso. E das 103 ligações perdidas também sabia que ela insistia no erro. Propriamente eu.

– Nunca duvidei do amor dela, só...

– Prove. Porque ela me disse chorando que você é digno de todo o amor desse mundo. Se prefere rejeita-la por causa de seu orgulho ferido? Saiba que ela é linda, cativante e talvez se canse das suas infantilidades!

– Pai...

– Não! Qual é próxima desculpa? Se continuar agindo como um estupido, você não vai passar de lembrança dolorosa em que ela tenta se convencer que está cicatrizada, e por mais que ela te ame, vai entender que também não é insubstituível. Quer mesmo isso?

Me sentia péssimo. E a vergonha junto com a tristeza queriam fazer as lágrimas voltarem. Talvez admitir pra mim mesmo que também estava sendo egoísta era difícil. Só enxergar minha dor e incomodo nessa situação era somente uma defesa, autodestrutiva mas uma defesa. Aquilo nos afetava e o 
o "nós" parecia um paradoxo inviável, mas isso seria a única coisa que me faria feliz e completo: te-la por perto sem preocupações com a distância.

– O voo dela sai às nove da manhã. E por favor, haja como o homem que é pra ela. O que ocorreu foi um deslize imbecíl. Não se atrase e boa sorte.

Encostando a porta me joguei na cama. A forma dura em que meu pai falava costumava ser esclarecedora. Já sabia o que fazer no dia seguinte mesmo com todas as incertezas de vê-la pela última vez. Ser persistente a ponto de fazê-la ficar, ou ser forte deixá-la ir.

Jogada ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora