Capítulo 1 - Ensino médio, exceção não existente, e afins

8.4K 442 132
                                    


Segundo meus conceitos, deveria haver um manual. Sim, século 21, cheio de constituições que regem governos, e nenhum manual para o final de um ciclo importante na vida de qualquer um?!
Ensino Médio, aquela propaganda enganosa que todos acreditam. Você entra achando que tudo será diferente mas o máximo que acontece é uma garota que aparece grávida ou sabe que aquele cara que você acha metódico? Acaba fumando maconha em uma dessas festas...
Aquelas regras políticas implantadas há tanto tempo do tipo "não danifique qualquer objeto ou espaço da escola", "em sala de aula os alunos estarão proibidos de dormir, comer, ou praticar qualquer atividade pejorativa"
Essas regras são totalmente patéticas graças a turma passada que se formou, onde os garotos pixaram a parede da quadra, e outro foi pego se masturbando na sala.
Somos civilizados e as ocorrências mais graves foram, hum... Cinco brigas entre dois meses? É, pessoas indo pra enfermaria.
Mas admito, se existisse esse manual, não iria adiantar muito. Seria um porre e ensinaria tudo. TUDO. E se as pessoas acreditassem fielmente estaria criando um esquadrão treinado pra guerra.
Só queria a resposta pra alguns tópicos. Uma questão de sobrevivência, como resistir e a lutar contra o sono nas aulas de filosofia que explicavam tudo sobre a filosofia de Platão, sobre como conciliar treinos exaustivos com testes surpresas, ou como ver a garota que você gosta começar a namorar um idiota.
Capítulo cinco "Relações interpessoais" seria justamente maior por coisas como essas.

5.4 Como parar de pensar na garota na hora da prova de álgebra,
5.5 Como se desvencilhar de garotas fúteis com mal hálito
5.6 Como ouvir piadas, rumores nos corredores e ignorar isso.

Seria um livro que iria resolver metade dos problemas que se passam no ensino médio.
Adicionando observações sobre como suportar aqueles documentários repetitivos sobre as evoluções da espécie. E as aulas de álgebra que Hannah odiava, e que trocávamos as provas que ela dizia ser a salvação. Sempre fomos bons alunos, recebendo indicações para o grêmio estudantil, e recusamos porque eu e ela, concordamos achar um porre tedioso cheio de responsabilidades desnecessárias.
Mas quem escolheria um garoto de aparêcia tímida pra um grêmio? É que antes de qualquer mudança Hannah sabia que eu não iria abandonar meu jeito de ser.
Não é uma história triste quando me lembro que escolhi sair do "Time dos Fracassados". Aqueles que sempre se oprimem e aceitam a opinião de valentões. Que sentam nos bancos olhando os outros correm no campo.
Fazia parte interina quando se tratava de lamentações a si mesmo.
Magro, com problemas respiratórios e óculos que atrapalhavam. Andrew meu melhor amigo, até me escolhia algumas vezes, o problema era correr o suficiente sem parar no meio do campo sem colocar as mãos nos joelhos. O professor tinha medo que a bola me atingisse e fizesse eu engolir todo o aparelho ou estilhasse meu óculos.
Superar esses obstáculos foi fácil quando coloquei uma meta em minha mente que seria um sonho, conquista própria. Acreditar e mostrar que sou capaz e fazer parte do time de Futebol Americano por mérito.
Natação, dente alinhado, sem óculos de um grau. Condicionamento físico e músculos, fazem as pessoas pensarem que pode jogar o cérebro no lixo. Porque um jogador de futebol americano tem que ser idiota?
Comigo não seria assim. Hannah percebeu a mudança, e como o nosso círculo de amizades aumentou um pouco com Luke, Logan além de conhecer Andrew que logo começou a namorar Elizabeth, sua melhor amiga desde os oito anos.
A turma que se juntava pra falar besteira e rir disso, e Hannah não precisava de muitos motivos pra saber que ali era o seu lugar.
Sempre quis que minha amizade com ela fosse uma exceção, como costumava ser. Um garoto e uma garota com um propósito: permanecer em estado de amigos.
Foi aí que começou a bagunça, porque sempre pensava ser passageiro. Amigos fazem esse o papel de defender e continuar abraçando quando precisasse. Mas e quando você abraça e percebe que não quer mais soltar? Ou pior, quando mesmo repetindo a rotina de sair, conhecer tantas garotas com o rosto cheio de maquiagem, beber, transar, você só quer conversar com a sua amiga e nem comentar da noite anterior, porque não fazia sentido, porque aquilo é irrelevante em questão ao sentimento que foi alimentado esses anos.
No período de descoberta, acabava confundindo o que eu falava e sentia, só que hoje, não consigo separar. Foi um acaso, e o melhor desde então. Um acidente que me atirei na frente pra ser atropelado.

Apaixonado a palavra?

Começou a importar, os pequenos detalhes que começaram a vir em formato de lista, e sempre estiveram ali. Embora sempre fosse linda, meu olhar se voltava a observar cada vez mais o jeito meigo que transbordava uma doçura de deixar qualquer garoto diabético. O sorriso tímido, junto com a risada com som estranho. Seus lábios chamavam atenção por cada dia estar com um batom diferente, e pareceriam ser tão macios quando ela usava batom rosa.
Hannah tem traços de boneca de porcelana. Seus cabelos castanhos escuros quase loiros, caem chegando a linha de seu peito, o rosto num contorno redondo que facilmente se encaixaria naqueles filmes de românticos onde o cara faz tudo pra conquistar a garota. Suas bochechas redondas e rosadas, o queixo desenhado perfeitamente, as sobrancelhas.
E os olhos verdes, com um tom único, brilhantes, escondidos atrás de uma armação de óculos com contorno preto. Porque a miopia obrigava usá-los sempre.
A pele branca, fazia eu ver as veias finas e verdes correndo. Aspecto de saudável e macia, e toca-lá era o meu desejo. Olhava pra ela toda a manhã e me perguntava como alguém poderia acordar tão linda?
Mesmo acreditando no amor e que um dia alguém mudaria sua vida, ao lembrar da traição sentia raiva e se calava quando era o assunto, o que seria um escudo natural. E quando uma garota termina um relacionamento ela tem duas opções.

Aproveitar o tempo perdido, afinal nas festas da pra beijar mais de três caras e beber pra esquecer o porre que foi beijar a boca do ex cheia de bactérias.

Ficar em casa, chorar, comprar barras de chocolate e refletir o porque não deu certo, atualizar o Tumblr com frases tristes, apagar as fotos de casal no Facebook e escutar o 21 da Adele. E depois as músicas da Lilly Allen.

É, foi a segunda opção, com direito a esfaqueamento na foto de Erick, que ela sentiu ter "exorcizado" o ex. E repetida vezes dizia que não queria outros envolvimentos nem que fossem uma noite.
Demorou mas, tudo voltou ser como antes, até a discussão que ela tentava me convencer que o Capitão America estava certo em não querer o registro na Guerra Civil. Mas Tony é o gênio, bilionário, filantrópico etc. Por isso é incrível. A vida continuava e as pessoas falavam da vida de outras.
As conversas na madrugada se tornaram produtivas e dormir tarde olhando na tela do celular sorrindo era o que estava acontecendo ultimamente. A barriga doía de reprimir alguma risada de uma piada sem graça.
Conversar com Hannah só me causava um grave efeito colateral: a preguiça de levantar da cama as 6:15 da manhã.

Avistei a criatura de um e setenta que ainda ficava menor do meu lado e me aproximei silenciosamente e segurei sua cintura a fazendo dar um pulo de susto.

– Ei Nathan! não faça mais isso garoto, quer me matar de susto?

– Mandaria uma coroa de flores, não se preocupe! – Ela me olhou sorrindo e beijei sua bochecha breve –

– E aí, preparado pro teste de história?

– Li as páginas do livro, fiz um resumo, acho que dá pra arriscar... Quero perguntar como está sendo esses últimos dias de dezesseis anos?

– Ahhhh, igual. Por isso preciso comemorar já que no ano passado não deu.

– Nem precisa me convidar...

– Você pensou que eu iria chamar?! Ah sério? Meu grupo é seleto!

– Ei! Isso é um não? Vai ser uma festa fechada?

– Na minha casa, nada de agitação como você é acostumado, e sua reação em saber que não estaria foi ótima!

– Sei que fez meu convite VIP.
Ela pegou um papel pequeno fechando a porta do armário enfiando na mochila um livro e o sinal tocou. E me entregou.
_______________________
ANIVERSÁRIO NA MINHA CASA!
A boa notícia é que você está convidado!

• Teremos um delicioso bolo de chocolate com morango recheado
• Torta de maçã
• Coca-cola/Suco
• Ambiente familiar e alegre

Horário: 19:40 Local: Já indiquei.
_______________________

Observei o pequeno cartão impresso e sorri.

– Essa divulgação é ótima! Poderia chamar a escola inteira, falo pro Andrew levar as cervejas.

– Nada disso, minha mãe surtaria. Já que tem certeza, sua presença importante pra mim. Vamos entrar?

Ela enterrou o dedo indicador no meu ombro empurrando, sorrindo fazendo que seus olhos ficassem apertadinhos. Fofa como sempre, isso que me cativava, foda-se a matéria da prova.

Jogada ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora