Capítulo 7 - Porto

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Júlio, durante o começo da viagem, era o amor dos sonhos de Luísa. No começo ela se arrumava para ele, queria vê-lo, e derretia somente com o toque do garoto. Mas de uns dias para cá (precisamente desde o dia em que viu que ele e Bernardo tinham algum problema) ela apenas não sentia vontade de conversar com ele, de ser amiga dele. Não entendia direito se tinha ficado assim por conta da presença de Bernardo e, como teve uma amizade com o menino durante a adolescência, iria ficar ao lado dele, não sabia se estava sentindo algo por ele - ela já sentiu antes, para aquela chama reacender seria fácil- e não sabia se era o fato de Júlio não parecer se importar com nada e a ter deixado sozinha no dia do cassino. O fato era que Luísa não sentia mais nada por ele.

O beijo de Júlio não era nem um pouco como ela pensou que seria. Ele esperou aquele beijo de novela, que ao encostar os lábios as pessoas parariam de escutar tudo que acontecia ao redor, que seriam transportados automaticamente para um lugar calmo e quente. Pensou que seu corpo iria derreter nos braços do garoto, pensou até que poderia se apaixonar por ele naquele exato momento, que Júlio seria o causador da discórdia no coração de Luísa. Mas não. O beijo não chegou perto daquilo que ela tanto imaginou que seria, aquilo que ela idealizou como o beijo do amor da vida dela. Ele foi apenas um beijo. Sem graça, barulhento e com muita baba. Muita. Tanta que dava gastura.

Assim que Luísa separou as bocas deles ela procurou algum lugar aonde pudesse se secar disfarçadamente, mas não encontrou nada e passou a mão mesmo. Na cara de pau para que Júlio percebesse que não queria aquilo mais.

- Nossa... – Ela disse disfarçando o que realmente tinha achado.

- Uau! Uau mesmo. Temos que fazer isso mais vezes, Lú! – Júlio disse se aproximando dela na intenção de começar um novo beijo.

- É, quem sabe, Júlio. Mas, por hora, acho melhor não fazermos mais isso – Luísa disse se afastando. Procurou com os olhos Bernardo e Sarah, mas apenas encontrou o olhar de José, o senhor que tinha dançando com ela. Luísa fingiu que não percebeu aquele olhar de decepção no rosto do senhor, mas no fundo aquilo doeu dentro dela. Já tinha se arrependido daquele ato, fez sem pensar. Todos já agiram dessa maneira, Luísa não era a única, tinha certeza disso.

Alguns minutos atrás ela não estava se importando com o que as pessoas iriam pensar. Ela estava um pouco cansada de sempre fazer o que as pessoas esperavam dela, então ela quis aproveitar aquele pouco de atenção extra que estava tendo.

- Nós não somos namorados. Nem eu e Bernardo e nem eu e Júlio – ela achou melhor se explicar para José assim que chegou perto dele, não queria passar a ideia errada. Por mais que não ligase para o que pessoas desconhecidas pensassem dela, José tinha dado um jeito de entrar na lista dos queridos de Luísa.

- Eu sei. Tinha percebido que vocês eram apenas amigos, mas enquanto dançavam, minha esposa comentou o quanto de carinho tinha naquele momento. Então achei melhor ajudar o pobre Bernardo. Mas você não carrega tanto carinho por ele como ele carrega por você. Só não faça nada que se arrependa depois – José disse e deixou Luísa sozinha com seus pensamentos conturbados.

O resto da noite passou mais devagar do que ela pensou que seria e Luísa se viu solitária. Não sabia o que pensar daquele beijo com Júlio. Sim, ela errou, agora ela sabia muito bem disso. Sentia isso em todas as partes do corpo. Seu consciente gritava "erro, erro, erro, erro", só bastava ela escutar o que sua cabeça dizia. Não errou porque o beijou, mas porque fez isso na frente de Bernardo logo quando pensou que estivessem virando amigos (ou algo a mais).

Durante toda a noite ela ficou pensando em erro e acerto, se culpando e se aplaudindo, se elogiando e se criticando. Em alguns momentos ela pensava que estava mais do certa, estava em uma viagem para curtir e não para ficar se lamentando porque tinha beijado o garoto. Mas em outros momentos ela só conseguia se sentir arrependida por aquele ato sem pensar. Não foi um beijo longo, foram segundos, mas durou o suficiente para que Bernardo sumisse de vista e ela tomasse um banho de saliva.

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