Capítulo 8 - Porto

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Bernardo estava com Luísa desde o dia anterior, que a encontrou chorando feito um bebê recém-nascido no chão do Jardim. Ele pediu para Júlio que o liberasse para fazer companhia para a garota, mas lógico que ele não o liberou, então teve que deixá-la no hotel sozinha. Não queria ter feito aquilo, mas foi necessário se não perderia seu emprego.

Luísa estava deitada em posição fetal desde a hora em que tinha encostado naquela cama enorme e vazia. Já tinha passado a noite e Bernardo já tinha ido embora e voltado e ela ainda estava chorando e sofrendo pela irmã. Depois do passeio com a agencia ele mandou uma mensagem falando que passaria no quarto dela e chegou a surpreendendo com uma canja de galinha – a única sopa que Luísa suportava desde a infância. Era surpreendente como ele ainda lembrava de vários detalhes dela.

Assim que tinha chegado no hotel no dia anterior seu celular apitava mostrando que ela tinha recebido mensagem de seus irmãos também. Luísa ficou surpreendida com a rapidez do arrependimento da irmã mais nova, mas aquelas palavras de Ana Júlia ainda estavam gritando dentro de sua cabeça. Anajú podia pedir várias desculpas, mas Luísa ficaria pensando naquilo por muito tempo ainda. Não queria ser essa garota que guarda mágoas, mas sua personalidade era daquele jeitinho, queira ela gostasse ou não.

Anajú [19:33]: Eu sinto muito, não devia ter falado aquilo. Desculpa.

Anajú [20:10]: Eu entendo se você não quiser falar comigo, entendo de verdade. Mas eu estou arrependida.

Anajú [04:54]: Aqui no Brasil já amanheceu e eu não sei direito se aí também, mas eu estou com saudade, por isso te falei tudo aquilo. Foi errado e sem pensar...

Anajú [10:10]: Eu não queria te preocupar, mas eu e o Paulo terminamos, por isso estava daquele jeito ontem. Desculpa mesmo, eu amo você. Irmãs para todo o sempre, lembra?

Anajú [11:47]: Desculpaaaaaaaaaaa

Bruno Souza [12:02]: Luísa, eu não sei o que aconteceu ontem, mas a Ana Júlia não parou de chorar a tarde toda e ficou se culpando por algo que não sei o que era. Se você puder ligar aqui para conversar com ela seria ótimo, você sabe que não sei lidar muito bem com pessoas que começam a chorar. Estamos com saudade, ligue o mais rápido que puder.

Luísa tinha ignorado as mensagens mas sabia que alguma hora ela teria que responder seus irmãos, não dava para evitar e se esconder até o fim daqueles três meses. Sem vontade nenhuma ela levantou, deu alguns tapas no próprio rosto e criou coragem para levantar. Deu alguns passos, um de cada vez porque ainda não estava com aquela disposição toda.

Primeiro tomou um banho para se livrar daquela tristeza que estava impregnada na sua alma e do resto de lágrimas que seus olhos guardavam para futuramente, depois escolheu uma roupa confortável (moletom da época do terceiro ano do ensino médio e uma calça jeans – confortável nem sempre é muito bonito, mas é bem melhor naqueles momentos de tristeza). Quando foi sair do seu quarto colocou um óculos de Sol por conta dos olhos vermelhos e inchados – não ligou para as pessoas que pensariam que ela era retardada por estar andando de óculos escuros em um ambiente fechado.

A primeira coisa que fez foi comer (aquilo sempre ajudava no seu bom humor - mas só se comesse algo saboroso). Ela saiu para ir ao famoso fast-food português que Bernardo falou durante a noite inteira para ela, tentando anima-la, o que ele não conseguiu. Mas agora, que estava com o humor melhorado, tinha tido a ideia de experimentar o que seu "sem-definição" tinha dito que era maravilhoso. O nome do lugar era Francesinha e vendia um sanduíche típico da região, e de acompanhamento as saborosas batatas-fritas, a fórmula perfeita para que tudo melhorasse.

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