Capítulo 23 - Brasília

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Luísa ainda não estava muito forte, não se sentia bem e nem pronta para passar por nada muito emocionante de novo. O susto que Ana Júlia tinha dado a ela era emoção suficiente por anos. Na verdade, sempre fora daquelas que pagam de durona na frente das pessoas, mas na realidade é a mais sensível de todas, chorava escondida em baixo do cobertor. Ela tentava, e muito, mas nem sempre as pessoas conseguem ser fortes, nem sempre conseguem aguentar tudo que a vida joga em cima delas. Por isso que mesmo que ostentasse um sorriso enorme no rosto, seus olhos estavam sem brilho nenhum, estavam tristes.

O pior é quando ela tentava parecer forte na frente de todos para que ninguém perguntasse se ela estava bem, porque, a cada pergunta, seu mundo desabafava mais um pouco, sua base ficava um pouco mais frágil. Ela estava se sentindo exatamente daquele jeito enquanto voltavam para casa. Estava muito feliz com a volta da sua irmã para o conforto daquele "apertamento", mesmo que fosse passar ainda seu tempo quase integralmente no hospital entre consultas com psiquiatras e exames mensais sobre sua saúde. Mas só por estar em casa, com sua televisão, o conforto da sua cama e do seu banheiro já era um passo enorme para a felicidade.

Luísa já estava de volta a sua cidade amada e calorenta há mais de um mês - estava prestes a completar dois dali há cinco dias, mas ainda não tinha aproveitado o conforto da sua casa. Passava por lá somente para tomar um banho e comer alguma coisa decente, e ia direto para o hospital. Ela ainda não tinha entrado em contato com o chefe do hotel em que trabalhava, mas ela estava no período das suas férias premiun, então estava "aproveitando" seus últimos dias longe dos corredores chiques do hotel que ela já estava há anos trabalhando.

- Podíamos fazer algo antes de ir para casa, o que vocês acham? – Bruno perguntou, quebrando o silêncio confortável. Ele trocou um olhar cheio de significados com a irmã mais nova, e, os dois ao mesmo tempo gritaram – Cumarim!!! – Se referindo a hamburgueria que eles tanto amavam e que tinha o melhor sanduíche e molho de cebola do planeta Terra.

Luísa apenas riu da felicidade daqueles dois que pareciam crianças que estavam comendo um doce pela primeira vez.Os três costumavam ir a essa lanchonete com seus pais, depois de anos eles ainda tinham aquele costume que era mais tradicional do que almoço em família aos domingos.  Não queria ser uma velha chata que só reclama então deixou o cansaço, a vontade de correr direto para a sua cama e o sofrimento por conta de Bernardo de lado, e aceitou o convite daquelas duas pessoas que exalavam vontade de comer um hambúrguer. 

Luísa apenas levou seus pensamentos para a janela enquanto via aquela Brasília que as pessoas não conheciam. A capital do país, a "diferentona". Uma cidade enlouquecidamente maravilhosa, que mesmo com seus defeitos ainda sim era o lugar certo para viver. De fora parece a cidade perfeitinha, mas o centro da corrupção. Mas quem realmente morava ali sabia que não era nada dessas coisas, que podia sim ter muita gente corrupta, mas é um lugar mágico (e quente, muito quente). Brasília não era nem um pouco parecida com as outras que ela conhecera durante os dois meses, mas era tão mágica quanto.

Ela nunca se imaginou morando somente em um lugar, mas se pudesse escolher seria em um apartamento em frente à praia ou uma casa com uma cachoeira no quintal. Mas como era impossível no atual momento, ela se conformava em morar naquele apartamento pequeno, socado com vários móveis, mas que tinha o cheiro dos seus pais e lembranças em cada centímetro.

O carro parou em frente a lanchonete, que estava bem vazia, e os irmãos saíram na velocidade da luz. Estavam todos com vontade de comida de verdade, não aquela coisa sem gosto e super saudável que serviam no hospital. Passaram por vários momentos durante a vida: primeiro comeram besteiras sem fim, depois somente legumes ao vapor feito na cozinha do hospital e agora estavam na última fase, a que Luísa queria ter aquela besteira de equilíbrio entre comida saudável e coisas gordurosas.

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