"Oi Bernardo. Quanto tempo! Algumas semanas que se parecem anos.
Vinte dias – sim, eu estou contando, sei até quantos minutos se passaram! Mas é porque aqui é diferente. Não tem muita coisa para fazer aqui no hospital, na verdade não tem nada para fazer, somente assistir Grey's anatomy - eu e meus irmãos estamos viciados. Diferente de quando estávamos viajando aqui nós sentimos todos os segundos passarem lentamente, piscamos 90 vezes dentro de dois segundos. Então é inevitável que eu saiba até os centímetros que estamos longe um do outro.
Ana Júlia está melhorando aos poucos. Ela ainda tem algumas crises (a tentativa de suicídio foi por conta do estado avançado de depressão que nem eu e nem o Bruno sabíamos que ela tinha), mas já está bem melhor. Ela já fala sobre o futuro e coisas que quer fazer quando sair desse hospital. O que é maravilhoso, porque mostra que ela tem uma perspectiva de vida, entende?
Bem, eu te mandei mensagem para saber como foi o resto da viagem. Queria ter ficado, mas meus irmãos precisavam de mim aqui. Se tiver como, me conte todos os detalhes. Gosto muito da sua maneira de explicar as coisas, me faz parecer que estiva realmente lá.
Enfim, espero que tenha feito uma boa viagem de volta e que o resto da viagem tenha sido maravilhosa, do mesmo jeito que foi o começo (ou todos os dias ao seu lado).
Sinto falta de tudo que vivemos e espero um dia poder te encontrar de novo. Espero poder comer algum prato esquisito contigo e conhecer mais algumas culturas loucas - apesar que nem tivemos contato com coisas muito diferente. Se um dia formos a Índia, provavelmente veremos uma cultura bem diferente da nossa.
Bom, fica o convite!
Beijos, Lú"
Luísa lia em voz alta para Ana Júlia, pela milésima vez, a mensagem que tinha mandado para Bernardo na manhã anterior. Ela estava aflita pensando que tinha sido muito fria, ou dando muita bola de sua paixonite. Sua irmã mais nova apenas revirava os olhos e dizia que estava tudo muito bom, ela era quem estava exagerando. Ana Júlia estava tolerância zero para essas besteiras de romance.
- Não tem problema você parecer uma garota apaixonada, Luísa! Você está apaixonada. Na verdade, pelo o que você me diz, vocês dois estavam apaixonados. Não tem problema! Ele não deve ter respondido simplesmente porque tem várias coisas para fazer, tem um irmão pequeno para matar a saudade, familiares que estavam esperando por ele – Ana Júlia estava de volta. Aos poucos ela voltava a ser aquela menina doce igual a chocolate 70% cacau.
Luísa se sentiu meio culpada por estar desesperada para receber uma mensagem do namorado (ou ex-namorado, estava tudo muito confuso) enquanto ele tinha uma vida inteira para reorganizar. Ficar três meses fora é tempo demais, quando você volta o mundo está totalmente diferente. As coisas não param somente porque você não está mais lá, elas continuam e nem se importam com seu sumiço.
Bernardo tinha Matheus para matar a saudade, seu irmão em que ele era completamente apaixonado. Seus pais, que dependiam dele mais do que tudo. Ela estava mesmo sendo egoísta. Pararia de pensar nisso. Bernardo iria responder e ela não surtaria até lá!
Escutaram o barulho de duas batidas fracas na porta e esperaram a enfermeira entrar. Era horário de atendimento com o psicólogo de Ana Júlia. Ela era praticamente obrigada a ir em todas as consultas, um dia sem e outro não, desabafar sobre o que sentiu naqueles dias escuros, sobre como se sentia agora. Somente daquele jeito ela iria melhorar
- O Dr. João Paulo já está te aguardando, Ana Júlia – a enfermeira avisou. Anajú assentiu e começou a se levantar, bem devagar e com dificuldade pois ainda estava com algumas agulhas na mão e na parte de dentro do cotovelo.
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En(tre)cantos
ChickLit∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞ Luísa nunca imaginou que um dia viveria seu sonho. Ser o que sempre quis ser parecia cada dia mais longe da realidade. Lisboa, Porto, Burgos, Madrid, Barcelona, Ibiza, Paris... lugares que ficavam constantemente na imaginação dela e...