En(tre)cantos

Capítulo 24 - Brasília

Luísa abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi o relógio que tinha em cima do raque da sala. Demorou um pouco para perceber que horas eram já que o relógio era daqueles antigos que nem ao menos tinha números. Se assustou ao perceber que já eram quase meio dia, e entendeu por que o barulho frenético na cozinha que era bem atrás do sofá aonde ela estava.

Se esticou lentamente naquele espreguiço preguiçoso. Sentiu milhares de dores no pescoço, costas e trapézio pela maneira horrível que tinha deitado no sofá. Mesmo que Bernardo fosse seu travesseiro e fosse a pessoa mais confortável que existe no planeta Terra, não era o suficiente para fazer que ela não ficasse com tanta dor.

Se assustou com o barulho de uma panela caindo na cozinha, parecia que tinha quebrado. Correu para ver o que seus irmãos estavam aprontando, mas parou imediatamente na porta quando deu de cara com a cena mais linda que ela via em anos: Bernardo e Ana Júlia estavam cozinhando. Bem, para ser mais exato, eles estavam tentando cozinhar, mas tinha mais bagunça do que comida sendo feita.

Bernardo e Anajú estavam virando amigos, família. Eles riam um do outro na maior naturalidade, como se conhecessem a anos. O garoto pode até ter conhecido ela há muitos anos atrás, mas agora os dois eram pessoas totalmente diferentes. A verdade é que eles são completos desconhecidos, mas sentiam um carinho enorme um pelo outro.

Tinham Luísa como a maior ligação dos dois, o elo em que eles se juntara. Tanto a irmã quanto o ex-namorado queriam que ela fosse completamente feliz. Bernardo sabia que se Ana Júlia estivesse bem, estivesse feliz, Luísa também estaria. Já a irmã mais nova tinha certeza que a presença de Bernardo já tinha aflorado o coração da irmã mais velha, então faria o possível e o impossível para virar amiga dele (o que não era uma tarefa nenhum pouco difícil, na verdade era moleza já que Bernardo era uma pessoa maravilhosa e fácil de conviver) e fazer com que Luísa percebesse que os irmãos aprovavam e adoravam a ideia de ter uma pessoa ao lado dela. Uma pessoa que a ajudaria em tudo, a aguentar a barra de levar uma família nas costas e não ficar sozinha.

Os dois perceberam que Luísa os observava assim que a panela de pressão começou a gritar. Eles ficaram enlouquecidos de medo, pensaram que a casa iria explodir e estavam prestes a acorda-la, mas ela apenas riu e eles viram que ela já estava acordada. Deu um jeito na panela e riu da cara abestada e culpada dos dois.

- Acho que alguém acordou... – Bernardo disse e a puxou para um beijo de bom dia. Escutaram um "eeerg" de Ana Júlia e se soltaram (Luísa fugiu rapidamente daquele beijo, ninguém merece bafo matinal).

- Vocês são tão fofinhos – a irmã mais nova falou, apertando uma bochecha de cada um.  – Nós estávamos tentando fazer risoto de molho branco com quatro queijos – ela explicou aquela bagunça de tomate, cebola, queijo mozzarella e os grãos de arroz caídos no chão.

- E o que vocês estavam fazendo na panela de pressão? - Pelo o que Luísa sabia, mesmo que pouco, risoto não era feito nela, e sim em uma panela normal.

- Você sabe como o Bruno é chato com feijão, ele quis de todo o jeito que fizéssemos para ele – Ana Júlia revirou os olhos. As irmãs odiavam feijão, logo nunca faziam, e Bruno sempre sofria porque amava comer arroz, farofa, feijão, batata-frita e bife (prato que raramente acontecia naquela casa).

- E aonde seu irmão está? – Luísa era uma mãezona, essa é a verdade mais verdadeira do mundo inteiro!

- Foi encontrar com a "Paulinha" – ela falou com todo o desprezo do mundo.

- O que essa Paula tem de errado? – Bernardo perguntou sobre a namorada de Bruno. Depois foi para o lado de Luísa ajudar a arrumar a bancada da cozinha. Ela não era a máster chef, mas sabia cozinha bem até. Ela começou a picar tudo certinho, em uma rapidez que aprendera com o tempo. Bernardo tomou conta da função de lavar as verduras e saladas e ralar os queijos.