Capítulo 2 - Rio de Janeiro

10.8K 966 151
                                    

Luísa já estava arrumada para jantar com o grupo da viagem, mas tentava loucamente falar com os irmãos que não atendiam o celular e não estavam online no Skype. Ela queria o conselho da sua irmã mais nova sobre sua roupa, queria saber se estava com muita cara de sono ou se estava arrumada demais para um mero jantar. Queria falar com Bruno para saber se ela tinha feito as compras, se todo o dinheiro que ela tinha deixado iria dar para os três meses. Luísa não aguentava aquele silêncio que vinha dos irmãos. Ela só poderia curtir aquela viagem quando tivesse plena certeza que tudo estava certo.

A viagem até o Rio de Janeiro tinha sido calma. Luísa não tinha tido contato com Júlio depois que entraram no avião – o que era ruim, já que ela poderia aprecia-lo como obra de arte a vida inteira e não se cansaria. Sentou-se ao lado de um casal de idosos que dormiu durante o rápido voo. Agradeceu por não ter ficado ao lado alguém que estivesse afim de conversar. Se tinha uma coisa que ela odiava era ficar conversando com pessoas totalmente desconhecidas quando só queria ficar quieta e descansando.

O hotel em que o grupo passaria a noite para viajar no dia seguinte para Portugal era simples e perto do aeroporto, todos foram correndo para os quartos assim que pisaram no Hall de entrada. O combinado era que as 20:30 todos descessem para jantarem juntos. Luísa sabia muito bem disso, só que ignorava a parte em que todos estariam lá e focava somente em Júlio, esse era o maior motivo de ter colocado aquela roupa bem arrumada e passado um batom – coisa rara.

Enquanto ligava mais uma vez no celular de Bruno ouviu alguém batendo em sua porta. Logo ela pensou que era engano, não estava esperando ninguém. Mas a pessoa continuou batendo e depois chamou o seu nome. Foi automático, aquela voz mexia com os neurônios da garota. Ela, com pressa, abriu a porta e deu de cara com a pessoa que ela mais queria ver naquele momento.

- Júlio... Oi, não esperava te encontrar aqui! – Luísa falou com uma empolgação exagerada, fazendo com que a voz dela ficava 10 tons mais fina e bem chata de escutar.

- É, nem eu. Mas vi que só nós dois de Brasília estamos nesse andar e como já era hora de descer decidi passar aqui para te chamar. Espero não ter te atrapalhado em nada...

- Não, de jeito nenhum. Só vou calçar meu sapato – Luísa correu, calçou sua sapatilha, pegou a bolsa e voltou para Júlio. Eles foram até o elevador em um silêncio desagradável. Se passavam duzentas perguntas diferentes na cabeça de cada um, mas eles estavam envergonhados demais para puxar assunto.

O elevador parou no térreo e os dois saíram daquela caixa, que carregava um clima bem tenso, como se tivessem corrido uma maratona. Entraram no restaurante que já estava cheio e avistaram uma mesa redonda com algumas pessoas do grupo. Os lugares vazios eram separados, um ao lado de um rapaz com o boné da agencia de viagem que provavelmente era do grupo do Rio de Janeiro, já que Luísa não o reconhecia, e o outro era ao lado de uma adolescente ruiva que estava ao lado de um casal mais velho, provavelmente os pais dela.

Luísa andou um pouco rápido demais para se sentar ao lado do cara, e assim que encostou na cadeira sentiu seu um par de olhos em cima dela. Virou seu rosto de maneira bruta para o rapaz ao lado, prestes a perguntar se ele tinha perdido alguma coisa em cima dela, mas parou no mesmo instante.

Ele era bonito, lindo até. Mas não era bonito e só – como a maioria dos bonitos que existem no mundo, ele era lindo e tinha muitas outras coisas na bagagem. Tinha um rosto que a fazia se lembrar de todas as vezes em que brincava com seu irmão e seus amigos, ou quando ela tinha que cuidar das plantas da casa do vizinho quando eles viajavam porque era a única forma de juntar dinheiro para comprar seus livros. Ele a lembrava um velho crush que tinha quando não tinha idade nem para criar uma conta no Facebook.

En(tre)cantosOnde histórias criam vida. Descubra agora