Luísa já estava acordada há pelo menos duas horas. Ela, literalmente, viu o nascer do Sol da sua varanda enquanto se balançava na rede. Conseguiu dormir assim que voltou do quarto de Bernardo, fechou os olhos e capotou. Mas, as quatro horas da manhã, ela acordou pensando que já era manhã e que poderia enfrentar mais um dia. Mais um dia ou menos um dia?
Luísa levantou de madrugada com a sensação de que tinha algo acontecendo em seu quarto. Pensou que era seu celular avisando uma mensagem, pensou que estavam batendo em sua porta ou que tinha alguém deitado com ela, mas era apenas o vento que saia das enormes portas da varanda. Ela ainda tinha uma pontinha de esperança de que o dia anterior não tinha passado de um pesadelo horrível, mas no minuto seguinte viu que realmente estava sozinha e tinha sido enganada.
Passou o resto da madrugada e o começo da manhã pensando em uma vingança para Bernardo. Queria que ele se sentisse humilhado, traído e triste (esse era o pior sentimento que ela estava sentindo). Enquanto se balançava com o pé na rede, ela imaginava novecentas cenas diferentes para uma morte linda para aquele casal maravilhosamente odioso e que tinha um "relacionamento aberto". Não tinha problema nenhum você ter uma pessoa fixa e, se combinaram entre si, terem relações com gente de fora, quem tem esse tipo de relação deveria ser muito feliz, mas, se você quer se relacionar com a pessoa de fora ela tem que saber no que está se metendo. Se Luísa soubesse que estava sendo a terceira pessoa daquele namoro ela teria recusado no primeiro minuto, teria evitado se apaixonar por aquele sorriso e jeito bobo de Bernardo; ela teria deixado de lado aquela sensação maravilhosa que sentia quando se encontrava com aquele homem maravilhoso e encantador.
Quando o Sol começou a nascer Luísa se viu encarando a nova foto de Bernardo no whatsapp. Era em Madrid, ela tinha tirado. Ele estava de costas, usando aquela mochila enorme e que ele sempre estava acompanhado, sua blusa era branca e tinha as mangas vermelhas, o cabelo castanho dele estava bagunçado de acordo com o vento violento. Ela se lembrava exatamente daquele dia, tinha sido um dos maravilhosos que eles passaram juntos, dividiram segredos, piadas e muitos beijos.
Parecia exagero quando Luísa pensava que tinham passado "vários dias maravilhosos juntos", eles não tinham ficado mais do que uma semana. Mas, aqueles dias eram tão intensos, longos e pareciam cheios de sentimentos verdadeiros, que Luísa tinha a impressão de que eles estavam namorando desde o dia em que ele fora embora de Brasília para o Rio de Janeiro.
Se sentiu patética por ficar olhando para a foto do menino que estava gostando quando ele estava com outra pessoa, fazendo coisas que ela adoraria estar fazendo com ele. Deu uma olhada no grupo da agencia e viu que o cronograma para aquele dia ensolarado e quente era apenas a praia em frente ao hotel em que eles estavam hospedados.
Luísa levantou com a maior disposição que teve em dias, se arrumou de maneira exagerada para alguém que iria apenas para a praia, colocou o biquíni que valorizada seu corpo e soltou seus cabelos loiros. Finalizou tudo com seus óculos de Sol e uma saída de praia vermelha que causava um bom contraste com a pele pálida por falta de vitamina D.
Luísa chegou no saguão enorme do hotel se sentindo uma estrela se cinema. Era incrível como as pessoas pareciam nota-la cada vez mais apenas quando ela se mostrava confiante e com o nariz empinado. Amor próprio era tudo. O coração podia estar quebrado, mas aquela falsa confiança seria uma coisa que ela levaria para a vida: se mostrasse para o mundo que estava bem, todos iriam acreditar e ela também se sentiria daquele jeito, e, melhor ainda, se sentiria desejada. Bernardo não era mais tão necessário para essa função.
O grupo estava chegando aos poucos, ainda era bem cedo e eles só precisariam se encontrar dali há uma hora no bar do hotel na praia. Luísa foi para o enorme restaurante do hotel e aproveitou para comer todas as frutas que conseguiu, não comeria besteira porque ela queria estar mais do que linda na praia para Bernardo sofrer um pouco. Vingança era um prato que se comia frio, e Luísa não estava com pressa para fazer que ele comesse na palma da mão dela.
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En(tre)cantos
ChickLit∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞ Luísa nunca imaginou que um dia viveria seu sonho. Ser o que sempre quis ser parecia cada dia mais longe da realidade. Lisboa, Porto, Burgos, Madrid, Barcelona, Ibiza, Paris... lugares que ficavam constantemente na imaginação dela e...