Já era manhã e Luísa ainda estava enrolada nos cobertores da cama. Depois de ter se agarrado loucamente com Bernardo na noite anterior ela voltou para o quarto sozinha e com uma sensação esquisita demais na barriga, enquanto caminhava sentia seus pés flutuando. Demorou demais para dormir, ficou rolando de um lado para o outro da cama e pegava o celular toda hora. Queria mandar uma mensagem de boa noite ou perguntar se ele tinha gostado daquele beijo tanto quanto ela que não parava de pensar nele. Queria passar a madrugada trocando mensagens ou conversando no telefone com Bernardo, mas o que aconteceu foi sua insônia causada por sentimentos antigos, que a fez ficar acordada até as 4 horas da manhã.
O beijo de Bernardo era completamente diferente do de Júlio. Ele não era babado, tinha saliva o suficiente para que a fizesse arrepiar da ponta do pé até o último fio de cabelo. Bernardo sabia exatamente o que fazer e como deixar as pernas de Luísa bambas, sabia ir com calma e quando sentia vontade ele apressava o beijo, e Luísa, logicamente, seguia tudo que ele fazia, pois ela estava amando aquele momento. Podia ter continuado naquela dança mágica entre as bocas o resto da noite inteira, por ela eles nunca parariam aquilo, mas Bernardo era muito mais controlado que ela. Ele soube exatamente o momento de parar porque se não eles continuariam com aquilo e não se contentariam com meras trocas de saliva.
Agora, que já era manhã, sua preguiça não a deixava sair da cama, e ela ainda precisava arrumar sua mala, pois dali a duas horas seria a viagem para Madrid. Luísa não via a hora de poder sair de Porto. Aquele lugar tinha causado uma fusão de sentimentos nela. Raiva, raiva, raiva; tristeza, tristeza, tristeza; amor; paixão e sonhos. Esperava que Madrid pudesse ser ainda mais alegre e encantadora que os lugares que ela já tinha visto. Ou, como sua sorte não estava a das melhores, ela apenas esperava que conseguisse escrever algumas cartas que já seria uma ótima coisa.
Criou coragem e começou a arrumar sua bagunça. Dobrou as roupas que estavam jogadas pelo quarto, separou a que usaria naquele dia para viajar e para ir ao o festival de música que estava tendo em uma Praça de Madrid. Pegou uma saia rodada e vestiu uma blusa mais apertadinha, as duas peças eram pretas para mostrar como ela era gótica (ou tentava ser). Ela fez todos os cuidados que suas novas tatuagens precisavam ter, até tirou uma foto para mostrar para os irmãos.
Quando terminou de arrumar tudo o relógio já marcava o horário de saída. Luísa desceu para o Hall do hotel na maior velocidade que conseguiu e encontrou o grupo quase inteiro, só faltava Júlio Bernardo e a Sarah - essa última estava sempre grudada no pescoço de Bernardo. Luísa já estava perdendo a paciência com os dois, queria parar e ter coragem para enfrenta-los. Chegar e falar "ei, vocês são um casal? São bons amigos? Tem uma amizade colorida? Podem me falar para eu parar de criar expectativas." Mas lógico que ela não tinha um pingo de coragem.
Júlio chegou primeiro com aquele bom humor e o ar de conquistador barato. Cumprimentou todos, incluindo Luísa (com um beijo babado na bochecha). Bernardo e Sarah chegaram logo depois com vários sorrisos no rosto, rindo de alguma piada interna e só fazendo a Luísa revirar os olhos e morrer de raiva por não ter coragem de nada, ela até tentou não alimentar aquele bichinho chamado ciúmes que crescia a cada vez mais dentro de seu coração, mas ele já estava muito grande e tinha forças o suficiente para crescer sozinho. Ele a cumprimentou com um abraço de urso, fazendo com que qualquer desconfiança que ela sentia, sumisse.
- Preparada para Madrid? – Ele perguntou.
- Eu já nasci preparada, Bê bebê.
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O voo foi tranquilo, mas demorado. Luísa aproveitou para dormir um pouco mais, já que sairia a noite para um festival de música de cantores amadores.
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En(tre)cantos
ChickLit∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞ Luísa nunca imaginou que um dia viveria seu sonho. Ser o que sempre quis ser parecia cada dia mais longe da realidade. Lisboa, Porto, Burgos, Madrid, Barcelona, Ibiza, Paris... lugares que ficavam constantemente na imaginação dela e...