Capítulo 18 - Étretat

4.5K 425 29
                                    

           
Aquele dia tinha amanhecido de uma maneira completamente diferente: com uma bela e agitada tempestade. Em todos os quase 60 dias que Luísa tinha passado na Europa, em nenhum momento se deparou com uma chuva tão intensa e perigosa como aquela.

Completavam uma semana em Paris com uma bela despedida chuvosa. Aquela cidade romântica e encantadora, que ensinara Luísa a ver que tudo é arte, tudo é amor e paixão. Até mesmo aquele pedinte que fica na rua, que não tem opção nenhuma de vida, até mesmo ele é cheio de amor, é feliz por ter a opção de viver.

Luísa, aquela menina que enxergava problema em tudo, que sofria antecipadamente por qualquer coisa que viria no futuro, aprendera em Paris que o presente é algo mais importante que tudo. Ela não tinha que pensar no que aconteceria dali há um mês, quando a viagem acabasse, ou quando completasse um ano que fizera a melhor viagem de sua vida. Luísa tinha que focar no presente, naquele exato momento, nas 24 horas que estavam a sua frente e no que ela poderia fazer para que o dia terminasse sendo maravilhoso.

Poderia ser super clichê, mas Bernardo fazia parte de toda essa paz que a cercava. Acordar e dar de cara com aquele bom humor matinal, comer uma salada de fruta no café da manhã, receber aquele carinho divino que ele fazia na cabeça dela, até ir para a academia as sete horas da manhã valia a pena (sim, ele convidou a namorada sedentária para irem a academia, e, mesmo que ela tivesse ficado cheia de dores musculares, achou aquilo muito relaxante). Coisas pequenas e simples do dia a dia pareciam ainda mais coloridas, o mundo preto e branco que focava apenas nos irmãos, agora era todo cheio de detalhes maravilhosos e cheio de cores animadas.

Luísa amava quando o clima ficava frio. Em Brasília o tempo era totalmente bipolar: amanhecia com um frio igual ao Alasca, mas antes das oito horas da manhã já estava um calor igual ao deserto do Saara. Era insuportável ter que sair com um casaco enorme e ficar carregando-o pela cidade inteira por conta do calor insuportável. Mas aquela manhã estava cinza e com o clima todo maravilhoso, fazendo Luísa enrolar mais do que o normal no cobertor.

Com Bernardo na cama e com os braços protegendo Luísa de algum perigo que só existia na cabeça dele, ela ficava ainda mais preguiçosa e sem coragem para arrumar a mala para irem na cidade secreta que Júlio e o namorado falavam – os dois estavam fazendo o maior mistério dizendo que aquela passada por alguma cidadezinha não estava programada, mas que eles iam amar. Luísa, como uma boa pessoa curiosa, pediu, implorou para que ele contasse para ela o que tinha acontecido, mas o namorado nunca falava nada.

- Vamos acordar, preguicite? – Ele perguntou assim que Luísa se espreguiçou. Aquele era o novo apelido que Bernardo dera para Luísa quando viu a quantidade de sono que tinha acumulado naquele corpo pequeno dela.

- Nãooooo – zero coragem, como sempre!

- Você só tem uma hora para voltar ao seu quarto, arrumar toda a sua bagunça, tomar um banho e encontrar com o grupo lá embaixo – ele dizia com a maior calma do mundo. Isso porque depois de anos fazendo aquele tipo de viagem Bernardo aprendera a não fazer quase nenhuma bagunça no hotel. Mas Luísa, que praticamente se mudara para o quarto de Bernardo, ainda não tinha aquele dom e todas suas roupas estavam espalhadas pelo quarto inabitável.

Ela levou um susto quando viu que já eram onze horas da manhã. Como o dia estava escuro e frio ela pensou que ainda era madrugada (sete horas da manhã, para ser mais exata). Levantou em um pulo rápido expulsando todo o resquício de sono daquele corpo preguiçoso.

Uma hora.

Luísa desceu para seu quarto e se assustou com todas aquelas peças de roupa espalhadas pela cama, cadeira e chão. Em um movimento rápido demais ela catou tudo e jogou dentro de um saco plástico. Depois que todas as roupas estavam juntas, ela começou a dobrar uma por uma, se não ficaria a maior bagunça de todos os tempos e ela não poderia usar mais nenhuma daquelas roupas.

En(tre)cantosOnde histórias criam vida. Descubra agora