Capítulo 4 - Lisboa

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Luísa acordou com uma dor de cabeça que incomodava até para abrir os olhos. Ela estava se sentindo vinte quilos mais pesada, seu hálito era de limão e alguma coisa doce que ela não fazia ideia do que era. Suas memórias estavam todas embaralhadas. Se lembrava de Bernardo vencendo Júlio no Poker, de uma revanche e de muitos drinques coloridos. Mas, depois disso, era tudo um borrão.

Seu celular estava tremendo enlouquecidamente, mas ela só queria desliga-lo e ficar em posição fetal no escuro. Sua cabeça doía tanto. Muito mesmo. A claridade incomodava e aquela janela aberta só atrapalhava. Acreditava que não tinha dormido nem 5 horas pois o cansaço que sentia estava forte demais.

Como se já não bastasse seu celular fazendo a festa na mesinha ao lado da cama alguém começou a bater na porta de Luísa. Ela levantou sem vontade nenhuma e, naquele momento, ela não queria ver Júlio nem pintado de ouro. Esperava que não fosse ele, já que não entendia o porquê dele ter deixado ela beber aquele tanto. Não custava nada ele pedir para ela parar. Quando abriu a porta deu de cara com uma menina conhecida, mas não sabia o nome e nem de onde. Quando ela começou a falar Luísa se lembrou que ela era a garota que estava junto com o Bernardo na noite passada. Aquela loira estava em todos os lugares: tinha sentado ao lado do rapaz durante o voo, estava agarrada ao pescoço dele durante a noite no cassino, como se fosse sua dona. Luísa mal percebeu, mas aquilo a incomodava demais!

- Oi, então... Bom dia. Me mandaram vir aqui te entregar esse copo de suco de laranja e esse remédio para dor, já que provavelmente você deve estar com uma dor de cabeça enorme por conta daquele balde de álcool que você tomou ontem à noite. Sabe, você não deveria se comportar assim, essa é uma viagem de pessoas respeitosas, e você estava parecendo uma adolescente que só bebe para chamar atenção das pessoas. - A loira entregou o copo e a caixa de remédios para Luísa e foi embora, deixando a garota confusa e nervosa. Quem essa menina pensava que era? Luísa quase iniciou uma discussão com a loira, mas seus ideias feministas falaram mais alto e ela decidiu guardar aquilo. Com certeza ela tinha feito algo sério enquanto estava bêbada e não se lembrava. Dando motivos para a garota ter raiva e para que as pessoas falassem desesperadamente com ela pelo whatsapp.

Ela decidiu obedecer às recomendações da garota e tomou o remédio. Sua dor e a moleza do corpo não passaram de imediato, mas aquele enjoo que estava sentindo quando acordou foi embora depois de cinco minutos.

Ficou deitada quase uma hora pensando naquela menina. Não entendia o porquê dela ter ido levar o remédio se discordava com as ações de Luísa na noite anterior. Pensou bem e viu que quem tinha mandado era Júlio, com toda certeza desse mundo. Luísa se lembrava muito bem que tinha ido sair com ele e que durante a noite eles tinham ficado juntos, ou ela achava que tinha - sua memória estava mesmo ruim. Mas a loira estava acompanhada de Bernardo, não Júlio.... Estava perdida, não sabia quem tinha mandado aquelas duas coisinhas simples mas que deram a ela uma disposição que ela não tinha quando acordara. Desistiu de tentar achar uma solução para o problema da loira e dos acompanhantes e foi dar atenção para o celular que não parava de tremer.

O motivo daquela animação sem fim no celular era um novo grupo que ela fazia parte. Se chamava "Estamos na Europa, baby" e estavam quase todas as pessoas do grupo da viagem. Passou os olhos pelos números de todos os contatos e reparou em uma foto desenhada. Não conseguiu ver quem era, mas no desenho estava um garoto de cabelos cumpridos óculos, ostentava um sorriso tão grande e real que, mesmo sendo apenas um desenho, contagiava o humor de qualquer pessoa. Sem nem perceber ela já tinha adorado aquela foto e aquela pessoa, independente de quem fosse já tinha um carinho guardado no coração de manteiga de Luísa.

A conversa dentro do grupo era sobre os passeios do dia: eles iriam passar na estação Oriente, um lugar maravilhoso e que tinha uma arquitetura toda futurista (e era apenas uma estação de trem). Depois iriam para o Castelo de São Jorge.

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