Era o último dia do grupo e de Luísa em Madrid. Eles já tinham passeado pela cidade inteira e ela ainda não tinha se cansado daquele lugar mágico e que com certeza seria considerado uns dos mais especiais para ela. Aquela cidade poderia ser dita como um lugar em que ela viveu, realmente pensou em si mesma antes de tudo, ela tinha sido feliz em todos os momentos (menos naquela parte insignificante com Júlio que ela tinha decidido fingir que não tinha acontecido). Naquela sexta-feira ela tinha decidido ir com Bernardo para o último dia do Festival de música na Plaza Mayor, aquele mesmo lugar aonde eles se abriram um para o outro, mostraram seus sentimentos, contaram sobre aquelas coisas que ainda o atingiam e faziam com que eles não fossem integralmente felizes; naquele lugar enorme e diferente de qualquer outro lugar romântico eles se entenderam bem. A relação dela com Bernardo estava cada vez melhor, não tinha Sarah e nem Júlio que atrapalhasse aquela conexão maravilhosa entre os dois, não tinha nada no mundo, naquele momento, que poderia vencer o que os dois estavam sentindo.
Luísa ainda se via pensando em Júlio e na conversa que tinha tido com ele. Por mais que não se importasse com o que ele tinha dito, ela queria que o cara melhorasse um pouco, virasse alguém melhor e sem nenhum problema para guardar dentro de si, mas ela sabia muito bem que alguma diferença só aconteceria se Júlio deixasse seu orgulho de lado para virar um bom amigo dos dois, uma pessoa que não tenta apunhalar pelas costas as pessoas com que se importa. Júlio teria que mudar muito para poder ser uma pessoa boa, e somente se quisesse realmente mudar.
Faziam alguns dias que Luísa não recebia uma mensagem dos irmãos, eles estavam em um silêncio enlouquecedor, o que só deixava a menina mais agoniada e louca para encher os dois de pergunta - ela sabia que ela tinha pedido pelo tempo sozinha, mas pensou que pelo menos o irmão mais velho iria mandar alguma mensagem falando sobre o paradeiro deles-, mas o tempo ia fazer com que ela se acostumasse aquele vazio, e quando se acostumasse ela voltaria para o Brasil e voltaria à antiga rotina. O que Luísa achava mais esquisito de tudo era o fato de que eles dois tinham sumido de todas as redes sociais possíveis, não tinham atualizado mais nada – para uma pessoa normal isso significaria que eles estavam aproveitando a vida fora da internet, mas, para Luísa, a preocupada com tudo, significava que algo errado estava acontecendo.
Trezentas tragédias diferentes passavam pela cabeça de Luísa naquele caminho para a praça enquanto Bernardo não parava de falar sobre coisas aleatórias. Ela pensava que tinha acontecido um ataque terrorista em Brasília só porque iria acontecer as Olimpíadas em alguns dias, pensava que os dois morreram de fome porque Bruno não tinha comprado comida para eles, pensou até que eles tinham morrido porque só comeram besteiras nesses últimos 20 dias, pensou em várias mortes aleatórias, mas no fundo ela não acreditava realmente naquilo. Bernardo não calava a boca um segundo sequer, mas ele era assim sempre: alegre, com vários papos aleatórios, nunca estava cansado, levantava o astral de todo mundo, fingia que não percebia que estava falando sozinho e até falava umas coisas sem pé e nem cabeça somente para ver se Luísa estava mesmo ali ou em Marte.
- E mais uma vez você está me deixando falando sozinho – Bernardo concluiu em voz alta, encerrando o seu pensamento que, como sempre, começava como algo sério, como os ataques terroristas que está acontecendo na França, e terminando falando sobre como a unha continua crescendo mesmo quando estamos mortos.
- Você fala demais, não consigo acompanhar esse seu processamento rápido! – Luísa respondeu brincando. Bateu o seu ombro no dele, o que não adiantou nada porque ele era bem maior e bem mais forte. Bernardo, loucamente encantado por ela, a puxou para seu tronco, fazendo com que eles andassem abraçados até perto da praça. Ele, com sua grande altura, cercava o corpo mediano de Luísa e fazia com que ela ficasse encaixada perfeitamente nele. Luísa aproveitou aquele cheiro maravilhoso que ele tinha, aproveitou aquele braço ao seu redor para abraçar o quadril de Bernardo. Eles estavam quase tropeçando um na perna do outro, já andavam tortos e pareciam dois bêbados, mas estavam confortáveis demais naquela posição de casal recém-junto (sem um pedido oficial).
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En(tre)cantos
ChickLit∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞ Luísa nunca imaginou que um dia viveria seu sonho. Ser o que sempre quis ser parecia cada dia mais longe da realidade. Lisboa, Porto, Burgos, Madrid, Barcelona, Ibiza, Paris... lugares que ficavam constantemente na imaginação dela e...