Capítulo Bônus - Ana Júlia

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Deitada em uma cama totalmente desconfortável, dura e inclinada de um hospital, Ana Júlia pensava em todas as coisas que acontecerem no decorrer de sua vida. Não conseguia se lembrar de muita coisa dos seus primeiros anos de vida, na verdade, se ela tinha duas lembranças dos seus primeiros anos, já era muita coisa! Anajú tentava mesmo entender quais tinham sido os erros que fizeram que ela ficasse naquela situação, no seu atual status. Ela sempre foi uma menina normal, que levava uma vida tranquila. Tinha seus dois irmãos que a protegiam mais do que tudo, e uma ou duas amigas (colegas ela tinha várias, inclusive era super "amiga" da menina mais popular da escola, mas eram poucas pessoas que sabia que realmente se importavam com ela).

Ela sempre esteve bem. Na verdade, ela achava que estava bem. Achava porque ninguém reparava o quão triste e solitária ela realmente estava - mas Anajú era uma ótima atriz. Fingia que não sentia aquela dor, aquele medo. Ana Júlia fingiu que aquele término não significou nada para ela quando viu seu ex-namoradinho ficando com uma menina mais velha. Ela expressou bem demais a sua falsa felicidade ao ver sua irmã viajando para realizar seus sonhos e a abandonando. Por dentro seu corpo já gritava por ajuda, já ia se desfazendo bem lentamente, como uma peça de uma quebra-cabeça.

Ana Júlia crescera escutando seu irmão falar que ela tinha sido um erro na tabelinha da mãe, um cálculo errado que tinha criado um belo bebê quando seus pais já tinham dois adolescentes que davam mais trabalho que tudo. Logicamente seu irmão falava em tom de brincadeira, Bruno também sempre dizia para Luísa que ela tinha sido encontrada em uma plantação de repolho, coisas de irmão. Mas Ana Júlia aprendera desde cedo que toda mentira tem um fundo de verdade, todas as brincadeiras inofensivas são feitas para machucar de alguma forma. Sempre que Anajú ficava triste com qualquer coisa, sua mente relembrava as palavras do seu irmão, e isso só a deixava mais chateada.

Ela era o erro, a não planejada. A protegida, a sem defeito, a que tinha que ser perfeita a qualquer modo, de qualquer maneira. Todo dia que acordava se olhava no espelho e repetia para si mesma que não podia fazer nada de errado, ela conseguia.

Todo dia surgia aquela pergunta "mais um dia ou menos um dia? ". A escola representa uma luta por dia. Um dia de caça e o outro do caçador. Um ambiente lotado de pessoas cheias de hormônios e que não vêm a hora de poder falar mal um do outro. A cada metro um adolescente louco para destruir o próximo, louco para se tornar o rei ou a rainha.

Se você for muito magra, se prepare para ser chamada de Olívia Palito. Se você for um pouquinho acima do peso que a sociedade impõe ser "o bonito", "o correto", aguente caladinho os xingamentos diários de baleia atolada. Se você for negra irá escutar os piores tipos de palavras ditas por conta da cor da sua pele, por conta da história que o seu povo tem. Se por acaso você não for o que eles querem que você seja, sente e aguente todos os xingamentos, a exclusão e ódio gratuito que você irá receber.

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