Capítulo 5 - Lisboa

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As irmãs e melhores amigas conversavam há mais de uma hora. Skype era a melhor forma de matar um pouco daquela saudade que apertava no coração de ambas.

Já tinha se passado uma semana desde a última vez em que elas tinham tido um contado real, ao vivo. Mas a distância não mudava a relação das duas. Elas eram confidentes, carne e unha, panela e tampa, uma completava a outra em qualquer momento. O defeito de uma era a qualidade da outra. Por mais que Luísa tentasse negar e Anajú detestasse que falassem isso: elas eram idênticas.

Luísa tomou a frente da família quando Ana Júlia era uma garotinha que não entendia direito qual era o problema de seus pais terem feito "uma viagem", não entendia porque sua irmã mais velha, aquela que ela tinha uma admiração enorme (que só foi crescendo com o decorrer do tempo), tinha que arranjar um trabalho e começar a estudar na parte da noite. Porque o irmão não podia ajudar Luísa? Mas com o decorrer do tempo ela foi percebendo que aquela tal viagem que seus pais tinham feito tinha sido para virar uma estrelinha que iria protege-la de todo mal que pudesse se aproximar, que a irmã simplesmente não teve opção a não ser trabalhar para poder fazer com que aqueles três jovens garotos tivessem teto e comida em todas as refeições. Bruno, o mais velho dos três, mesmo que atrasado, ainda estudava muito para poder fazer com que Luísa conseguisse viver sua vida adulta – já que a adolescência tinha sido perdida com os cuidados extras para com os irmãos.

Luísa falava sem parar com sua irmã pelo Skype, esperava que Anajú estivesse tão empolgada como ela, ou que apenas risse do que ela dizia (aquilo já a deixaria supercontente), mas a caçula apenas escutava caladinha e não falava nada para a irmã, que insistia em saber o que estava acontecendo.

- Então você vai me deixar fazer esse monólogo? Não vai me contar sobre seu namorado? Qual era o nome dele mesmo? Pedro? – Luísa pensou, mas não se lembrava exatamente, eles ainda não tinham se conhecido oficialmente. Anajú tinha contado a novidade para eles um pouco antes do dia da viagem.

- É Paulo! A gente está bem, ele está viajando também, então não tenho como conversar muito – Anajú falou desanimada. Luísa estava perdida naquela história, a irmã era tão apaixonada naquele garoto que sempre que falava sobre ele era a maior felicidade. Mas ela falava como se estivesse em um enterro.

- Você está muito estranha, Aninha. O que está acontecendo?

- Meu Deus, Luísa – a menina se estressou. 

"Temperamento normal de uma aborrecênte." Pensou Luísa.

 – Já te disse quinhentas vezes que estou bem, para de enxergar problemas aonde não existe. Termina de me contar sobre a noite do cassino.

Luísa não queria deixar a irmã ainda mais nervosa, sabia que ela estava sim com algum problema e não queria contar para a irmã. Se sentiu chateada, mas sabia que todo adolescente tem seu momento de crise e que só precisa mesmo ficar quietinho porque com o tempo ele vai se abrindo. Então ela apenas continuou o que Bernardo tinha dito para ela.

- Eu não sei direito. Como disse para você eu não me lembrava de nada, só percebia que o Júlio estava mais soltinho que o normal e o Bernardo mais amigo. Entende? Eles têm essa competição louca para ver quem me tem primeiro. Depois do dia do cassino, ao invés deles continuarem com essa competição eles pararam. Nunca mais vieram tentar ver quem me chamava para sair primeiro, ou quem me conhecia melhor. Na verdade, o Júlio sumiu, e quando ele me vê o máximo que faz é rir para mim e dar aquela piscadinha ridícula. Eu até gostava, mas estou começando a ficar com raiva.

- Isso me parece mais dor de cotovelo. Você deve estar se sentindo mal porque um deles simplesmente parou de querer competir pela sua atenção... – Anajú jogou seu veneno, pronta para fazer com que a irmã perdesse a paciência.

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