Capítulo 19 - Étretat/Brasília

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Luísa estava no breu, em um lugar totalmente desconhecido. Estava tudo escuro, sua visão não acostumava nunca com aquele lugar. Sua cabeça latejava e seus olhos pesavam tanto que era praticamente impossível abri-los. Luísa sentia como se tivesse corrido uma maratona: exausta, ou pior: sentia-se como um escudo usado em uma Guerra, que tinha sobrevivido à um dia longo, mas ainda estava em uso (mesmo cansada e destruída). Seu corpo inteirinho estava gritando de dor e chorando por dentro, se afogando em lágrimas e tristeza.

- Luísa – alguém sacudia seu corpo sem parar. Sua cabeça fazia um movimento rápido e que só fazia doer ainda mais. Por dentro ela gritava e pedia para deixarem ela em paz, estava bem quando quietinha e sem fazer nada. Se já doía quando estava parada, imagina em movimento.

"Me deixa quieta, por favor". Luísa chorava tanto por dentro, gritava, esperneava. Não entendia mais nada que acontecia. Essa pessoa não estava vendo como ela estava destruída? "Por favor, para de mexer comigo!". 

Com uma dificuldade enorme e aquela falta de vontade Luísa conseguiu abrir os olhos bem lentamente. Primeiro a claridade a cegou, estava em um lugar escuro e de repente uma lâmpada clara brilhava na sua frente, depois viu Bernardo com uma expressão cheia de agonia e medo. Seus olhos, que costumavam sorrir sozinhos, estavam cheios de lágrimas e aquele sorriso cheio de dentes e que aquecia o coração de qualquer pessoa, sumira. Bernardo estava diferente, se ele não estava bem Luísa também não estaria. Tinha realmente acontecido alguma coisa. Não fora somente um sonho.

Bernardo abraçou com força a namorada, como se fosse a coisa mais preciosa e frágil do mundo inteiro. Queria passar toda a força que tinha dentro de si para Luísa (sabia que mesmo que ela fosse uma guerreira, uma mulher forte, naquele momento tudo que ela precisava era de apoio e ajuda), queria que os corpos juntassem e conseguissem superar todas as dores que apareciam na vida deles. Luísa ainda pensava que aquilo tudo era um pesadelo, não era nada, apenas uma cena da imaginação fértil dela e que parecia ter sido muito real, mas não era absolutamente nada!

"A Ana Júlia tentou se matar, Luísa. Duas vezes", dissera Bruno naquele sonho horrível. Mas Luísa não acreditou. Fala sério! Sua irmã era cheia de vida e alegre, ela não ia tentar se matar. Pelo amor de Deus!

Não acreditou até o momento em que Bernardo a abraçou e insistia em dizer que tudo ficaria bem. Não tinha nada para ficar bem, nada tinha acontecido!

Mas então ela se lembrou do irmão caindo em lágrimas sem fim no telefone. "Ela está internada e eu não tenho ideia do que fazer. "  Tudo fez sentido. Aquelas palavras que separadas não alteram a vida ninguém, não mudam histórias e nem sentimentos, mas que juntas podem ser a pior coisa que você vai escutar na vida inteira. Seu corpo ainda reagia como se aquilo tivesse sido um pesadelo, mas sua cabeça já entrava em desespero e ela não conseguia mais segurar as lágrimas rebeldes que caiam sem fim feito uma cachoeira. 

Ela se segurou muito forte no pescoço do namorado e chorou muito. Chorou como um bebê recém-nascido, chorou por todas as vezes que não disse para a irmã como ela era importante, como ela era a razão da vida de Luísa, do sorriso matinal e dos pensamentos positivos. Chorou pelas vezes que elas brigaram, ou quando Luísa tentava ser a mãezona e esquecia de deixar que a irmã fosse uma adolescente normal. Luísa morreu de ódio daquele ex-namorado de Anajú que terminou com ela no pior momento possível, quando ela ficara vulnerável por conta da viagem. Imbecil, idiota e boçal! Não merecia nunca o coração puro de Ana Júlia!

Bernardo segurou com força a namorada como se fosse a coisa mais frágil do mundo inteiro – e, naquele momento, ela era mesmo. 

Assim que escutou o barulho alto de Luísa caindo desmaiada no banheiro fechou o notebook com força, ignorando as perguntas dos pais, e correu direto para o banheiro - não foram nem 5 passos, mas ele fez em dois segundos. Se sentiu horrível quando viu a garota que ele amava jogada no chão, pálida e parecendo um zumbi sem vida. Viu que a chamada ainda acontecia no telefone e Bruno não parava de gritar pela irmã. Quando ele atendeu e Bruno confirmou o que tinha dito alguns dias antes para Bernardo, ele imaginou o que a namorada deveria estar sentindo. Bruno também estava muito mal, ele estava pesquisando o que tinha feito Anajú convulsionar e vomitar diversas vezes, ele tinha dito para Bernardo que achava que ela tinha tomado vários remédios antigos, mas não tinha certeza. Agora eles sabiam o que era, tinha acontecido de novo. Bernardo só esperava que ainda tivesse volta.

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