Há Dois Anos [Bônus]

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Paredes cinzas com aparência monótona me cercavam. Estava a cerca de uma hora sentado em um banco de plástico duro. A assistente social permanecia sentada ao meu lado o tempo todo. Naomi era elegante e simpática. O terno azul escuro que modelava seu corpo ornava com os sapatos de salto pretos. Ela me ofereceu algumas jujubas, que recusei com aceno de cabeça e o melhor sorriso que consegui colocar no meu rosto.

O que eu queria, ninguém podia me dar.

Naomi era mais simpática que a antiga assistente, que estava sempre com cara de poucos amigos. Por algum motivo que eu desconhecia a antiga foi substituída, Naomi assumiu meu caso poucos dias antes de Robb - pai de Liz - conseguir se tornar meu guardião legal.

- Você está nervoso? - perguntou Naomi.

Encarei seu rosto pacifico. Sua pele era lisa, com aparência macia e sedosa. Os cabelos negros estavam presos em um coque, e ela tinha cheiro adocicado de baunilha.

- Estou bem. - respondi, voltando a encarar meu par de allstars rabiscados.

O relógio já marcava quase duas horas da tarde quando Robb apareceu. Ele me cumprimentou com um aceno e entrou em uma sala para conversar com Naomi. Os dois passaram cerca de meia hora juntos, falando sobre mim. Olhei para a TV, onde mais uma vez o noticiário transmitia uma reportagem sobre Jim. Ele vinha aparecendo frequentemente na mídia, devido ao seu caso ter se repercutido pelo país.

Do outro lado do corredor um garoto me olhava, com o rosto encoberto pelo capuz do seu moletom. Ele virou o rosto para o outro lado quando o encarei. Mas ele não era o único. Uma das moças na recepção não tirava os olhos de mim, ela cochichava com outra mulher que alternava o olhar entre mim e a TV. Eu era a sensação em qualquer lugar que fosse. E seria assim por um longo tempo.

Depois de finalizar sua conversa com Naomi, Robb saiu da sala onde ele estava e veio em minha direção. As pessoas desviaram os olhares. O homem jovem, com os cabelos levemente grisalhos, sentou ao meu lado e bateu com uma das mãos em meu ombro. O sorriso de Robb era singelo e acolhedor. Os olhos claros se mantiveram firmes em mim, enquanto ele puxava minha mala e a colocava mais próximo a ele.

- Pronto para conhecer sua casa nova? - apertou o meu ombro.

- Rob, eu já conheço a sua casa. - falei em um quase sussurro.

Ele riu baixinho e levantou, pegando minha mala no processo.

- Você sempre foi como um filho mesmo, não é? - ele apoiou sua mão em minhas costas, íamos em direção a Naomi. -- Vá se despedir de Naomi. Ela foi muito gentil em cuidar de você enquanto resolvíamos isso tudo.

- Foi um prazer conhecê-lo, Matthew. - ela deslizou as costas de sua mão em meu rosto. - Pena ter sido em uma situação desagradável.

- Você foi muito legal comigo. - forcei um sorriso.

Apesar da situação, eu realmente gostei de Naomi e imaginei como seria se tivéssemos nos conhecido de outra maneira.

- Estou torcendo para que dê tudo certo em sua vida, Matthew. - ela ajeitou o meu cabelo que caía sobre o meu rosto e sorriu de forma delicada. - Ainda vamos nos ver algumas vezes daqui pra frente.

- Então até a próxima. - falei me aproximando mais de Robb.

- Tchau.

Naomi abraçou a pasta que carregava em uma das mãos e seguiu pela direção contrária da que fomos. Robb colocou o braço em torno do meu ombro enquanto caminhávamos juntos para saída daquele lugar. Eu já não suportava mais aquilo, porém, não tinha muita escolha.

Não enfrentamos muito trânsito até chegar onde seria minha casa pelos próximos dois anos. Sem esperar que eu colocasse os pés dentro de casa, Liz pulou no meu pescoço e me abraçou o mais forte possível. Seu pai lutou durante semanas em um processo para conseguir se tornar meu guardião legal. Não foi fácil. Eu não tinha mais ninguém e estava a caminho de morar em uma instituição para menores quando Robb entrou com o processo.

Sempre fui próximo de Liz, desde que nos conhecemos na quinta série. Eu frequentava sua casa, tanto quanto ela a minha. Quando algo dava errado em casa, era para junto dela que eu corria. Quando meu pai e meus irmãos estavam encrencados, era em sua casa que eu encontrava abrigo. Karen e Robb sempre souberam de tudo e me aceitavam mesmo assim. Deviam ter pena de mim, ou algo parecido. Nunca soube. Mas eles me recebiam como um filho que nunca tiveram. Acolhiam-me quando eu estava desamparado. Encontrei neles mais estabilidade do que nunca tive com a minha própria família.

A não ser por Tyler.

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