Desastre [Bônus]

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A empolgação estava em seus olhos naquela noite. Tyler havia gasto muito tempo do seu dia tentando me convencer a assistir sua luta. E ele me venceu pela insistência. Enquanto enfaixava suas mãos, como de costume, ele tagarelava sobre os lugares que conheceríamos durante o verão. Ele pensou em tudo. Durante todo o inverno ele vinha aceitando todos os desafios impostos a ele, e convenceu o cara que lhe colava nas litas - nosso pai - a conseguir lutas extras. Tyler juntou a grana para que ele pudesse me dar as férias que ele sempre prometera.

Os braços musculosos estavam em meus ombros durante todo o caminho até o ringue. Tyler me deixou no meu lugar de costume, próximo à entrada, onde ele dizia que podia manter os olhos em mim durante as lutas. Ele venceu qualquer um que teve o azar de aparecer na sua frente naquela noite. A maioria por nocaute. Os caras saíam inconscientes, ou apoiados por membros de suas equipes. A multidão gritava o nome de Tyler como se fosse um mantra, ele estava sendo reverenciado. E ao fim da cada luta, ele via o orgulho em meus olhos. Quando os olhos castanhos encontraram os meus, ele sussurrava "Vegas" e fazia sua dancinha da vitória. Era a forma dele de me dizer que estávamos cada vez mais perto de irmos a Las Vegas, mesmo eu não tendo idade suficiente para entrar absolutamente em lugar algum naquela cidade.

- Não se preocupa. - ele dizia com um sorriso malicioso no rosto. - Já disse que vou cuidar disso.

Nunca vou descobrir sobre o que ele estava falando.

Era a sua última luta. Com movimentos rápidos, Tyler socava várias vezes o adversário, que já cambaleava desnorteado. Quando seu corpo bateu na lona preta, fazendo um barulho oco, gritei em comemoração. Ignorando o mestre de cerimônia que anunciava sua vitória, Tyler correu até as grades de proteção. Aquela seria a última luta dele naquela temporada. Em um piscar de olhos ele estava na minha frente, coberto de suor e sangue, com um corte na maçã do rosto, um pouco abaixo do olho esquerdo. Tyler me ergueu, com um abraço tão forte que quase não consegui respirar. Não me importei com o fato dele estar suando e que eu teria que tomar um bom banho depois daquilo.

- Não saia daqui. - ele falou no meu ouvido, quando voltou para o ringue e foi ovacionado pela multidão de fãs.

Mesmo em um mundo conturbado, eu era feliz. Não é o tipo de felicidade que se possa explicar. Nem ao menos a que você conquista com uma vida perfeita. Eu tinha irmãos e um pai problemáticos. Tyler cuidava de mim desde que minha mãe desapareceu no mundo, meu pai se tornou um homem com problemas de temperamento e meu irmão agressivo e viciado em drogas.

Uma garota vestindo top e short jeans do tamanho de uma calcinha abraçou o meu irmão, que lhe beijou fazendo gritos e assovios virem de todas as partes. Algumas garotas ficaram furiosas por não terem a mesma sorte que a garota no ringue.

Saindo do ringue, os olhos de Tyler mudaram. Quase que instantaneamente seu humor se transformou. Meu irmão desceu as escadas até mim bufando. Eu não entendi o que poderia deixá-lo tão furioso. Então tudo aconteceu tão rápido, que não tive tempo de processar. O aperto em meu pescoço me impedia de respirar. Enquanto me debatia, vi Tyler se aproximar furioso, socando a todos que surgia na sua frente. Seu rosto estava coberto de sangue, que se misturava ao suor e alguns hematomas que começavam a surgir em seu rosto.

O barulho seco silenciou a todos. O aperto em meu pescoço desapareceu e todos começaram a correr. Procurei Tyler e o vi imóvel, com os olhos fixos em mim, corri até ele, empurrando a todos que corriam na direção oposta. Meu irmão caiu de joelhos e sumiu do meu campo de visão. Precisei dar cotoveladas em algumas pessoas para conseguir chegar a Tyler. Havia uma poça de sangue em torno dele, Tyler estava com a mão sobre o peito, os olhos quase sem vida. Eu sabia o que viria a seguir no instante em que o vi caído no chão, sabia o que estava acontecendo, o que eu estava perdendo.

Caí de joelhos e puxei a cabeça de Tyler para o meu colo. Ele me puxou pela gola da camisa e sussurrou no meu ouvido. Quase não dava para escutá-lo.

- Ei, caçula. - meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu não conseguia chorar. Odiei-me por não chorar, por não me permitir a isso. - Parece que sua viagem de férias vai ficar para outra hora.

O nó que se formou na minha garganta foi quase tão sufocante quanto o aperto que levei poucos minutos antes. Queria dizer a ele que estava errado, que não ia deixá-lo partir, mas fui arrancado de perto do meu irmão. Lutei para não deixá-lo, queria ficar e impedir de que algo ruim acontecesse com ele. Mas nada adiantou.



Ainda tem mais!!!

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