Capítulo 34

6.2K 664 95
                                    

A escuridão se tornou minha única companheira. Vozes vinham e iam o tempo todo, a dor aumentava e amenizava, mas apenas a escuridão permanecia.

Havia algo em meu rosto que dificultava a minha respiração. Eu respirei fundo. Péssima ideia! A dor se espalhou por todo o meu peito, como se estivesse sendo atravessado por uma faca. Eu gemeria, se conseguisse encontrar minha voz. Meus dedos mexeram. Conseguia senti-los, e o tecido áspero abaixo de mim, que arranhava a minha pele.

— Bom dia, Matthew. – alguém cantarolou. Era uma voz feminina.

Eu escutava as vozes o tempo todo, quase sempre não compreendia o que diziam. As vezes elas ficavam distante demais, antes de voltar ao silêncio da escuridão. No início, o silêncio era tranquilizante. Era quando a dor parecia ir embora, e todas as preocupações deixavam de existir. Eu gostava do silêncio. Pensava que poderia permanecer nele para sempre. Então eu lembrava de Bryan. Talvez eu poderia ficar no silêncio junto dele. Mas ele não estava ali. Não conseguia encontra-lo.

Então o silêncio deixou de ser uma opção.

Quando a dor retornava, junto das vozes, eu me lembrava de Tyson, caído na minha frente, com os olhos sem vidas, assim como os de Tyler. O silêncio era agoniante demais. Eu queria gritar, mas minha voz parecia ter me abandonado. Era uma sensação de desespero. Querer deixar o vazio, mas eu não encontrava uma saída. Mas isso não durava muito. Em pouco tempo, eu era puxado de volta pela escuridão, até tudo sumir novamente.

— Como você estar hoje?

Esperei pela escuridão me levar novamente, mas dessa vez ela não veio.

A luz florescente incomodou meus olhos, quando tentei abri-lo. Depois de alguns segundos, o teto branco começou a entrar em foco. Pisquei algumas vezes. Havia uma máscara de oxigênio em meu rosto. Ao meu redor, um monitor, com linhas verdes e vermelhas, e alguns números apitava regularmente a cada segundo. Uma janela enorme estava em meu canto direito, apenas a cortina estava aberta, para que a luz do sol entrasse no quarto. Uma cadeira reclinável estava em meu canto esquerdo, onde uma mulher vestida de branco me encarava sorridente. Sua pele era bronzeada, e os olhos tão escuro quanto a mexa de cabelo solta ao lado do seu rosto.

— Ai meu Deus, você finalmente está acordando. – disse ela, prendendo a prancheta em sua mão junto ao peito. — Tem uma pessoa que vai querer vê-lo.

Ela se virou e desapareceu. Tentei me mover, mas mais uma vez a dor em meu peito fez parecer que minha decisão era uma péssima ideia.

— Eu vou chamar o médico. – ouvir a voz da mulher, mas não consegui vê-la.

Permaneci olhando na direção em que a voz vinha, sem conseguir ver o que estava acontecendo. Não demorou muito para Bryan entrar no meu campão de visão. Ele sorriu e se inclinou para beijar minha testa. Apontei para a máscara em meu rosto, evitando qualquer movimento brusco. Ele puxou a máscara, permitindo que eu conseguisse respirar melhor.

— Bem vindo de volta. – disse Bryan, colocando sua mão sobre a minha.

— Por quanto... – minha voz soava estranha para mim. — Por quanto tempo... eu apaguei?

— Por dois dias. – ele respondeu. Como se adivinhasse que eu queria saber mais, ele continuou. — Você levou um tiro peito. Felizmente o Adam não conseguiu acertar o seu coração. Mas... foram dois longos dias, Gracinha.

O rosto de Bryan ficou sombrio. Ele aparentava estar cansado. O contorno de seus olhos estavam fundo e escuro. Os fios do seu cabelo que voltaram a crescer nas últimas semanas, estavam desgrenhados. Ele parecia estar mais magro e o seu bronzeado havia dado lugar a uma pele pálida. Meu peito doeu novamente, mas dessa vez a dor não era física.

No LimiteOnde histórias criam vida. Descubra agora