Capítulo 14

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- Matt? - a voz ecoava em minha mente, invadindo meus sonhos. - Matt, acorda. - eu queria obedecer, abrir meus olhos e sair daquele pesadelo horrível. - Ei, Gracinha. Acorde.

Tive uma sensação horrível de estar em queda livre, caindo no vazio, sem nunca chegar ao chão. Não conseguia emitir nenhum som, mesmo me esforçando ao máximo para gritar, pedir ajuda para me tirar daquela situação. E sem nenhum aviso prévio, eu fui colocado para fora do meu pesadelo.

Puxei o máximo de ar possível para dentro dos meus pulmões. Havia mãos sobre mim. Debati-me para afastá-las, tentando levantar. Senti o peso sobre meu corpo, a pressão me prendendo contra o colchão. Abri meus olhos, que demoraram um pouco para se acostumarem com a luz e identificarem onde eu estava. Bryan entrou em foco em minha visão. Engoli em seco, me acalmando aos poucos.

- Ei, lutador. - disse ele, aliviando a pressão sobre mim. - Achei que você ia me nocautear.

- Por favor, não me chame assim. - coloquei minhas mãos sobre meu rosto. As gotas de suor se acumulavam sobre minha pele. A camiseta emprestada de Bryan estava encharcada. - Desculpe.

- Sem problemas, Gracinha. - deslizou a mão por minha perna nua. - Pronto para voltar à rotina?

- Não vai ser bem minha rotina, com meu quarto chamuscado e meu nome circulando pela cidade. - minha voz transmitia todo o cansaço e estresse dos últimos dias. Delegacia, jornais locais que noticiaram o ocorrido, pessoas estranhas preocupadas com minha condição física e emocional. Meus ombros subiram quando suspirei. Eu estava agindo como um babaca nos últimos dias, sempre de mau humor e mais fechado do que de costume. - Droga!­ - rosnei.

- Ei, tudo bem. Não vou ficar chateado. - beijou minha têmpora. - É muita pressão. Vamos com calma. Ok?

Balancei a cabeça concordando.

- Preciso de um banho. - falei, depositando um beijo casto em seus lábios.

- Eu vou preparar nosso café.

Bryan ficou de pé. Ele se espreguiçou e arqueou as costas. Suas costas nuas tinham algumas escoriações - adquiridas na noite do incêndio - que já estavam sumindo aos poucos. Vestindo apenas sua boxer, ele saiu do quarto, fechando a porta logo em seguida.

Se houvesse um espelho na minha frente, ele refletiria meu rosto inexpressivo de frente para o que costumava ser o meu quarto no dormitório. As paredes cinza agora estavam enegrecidas pelas chamas, assim como o que sobrou de nossos móveis. Eu ainda conseguia sentir o cheiro dos objetos queimados, mesmo após dias do ocorrido. Uma faixa mantinha as pessoas do lado de fora do que sobrou do quarto. A perícia ainda fazia o seu trabalho, os primeiros resultados mostrando que o incêndio não foi causado por problemas com rede elétrica ou descuidos, e agora eles trabalhavam para provar que foi criminoso. A universidade se comprometeu em reformar o quarto, já que a estrutura do prédio não se danificou. Agora eu tinha um novo quarto em outro andar, mas ainda não me dei o trabalho de aparecer por lá.

Olhei para caixa aos meus pés, com o pouco que restou do incêndio. Algumas roupas, calçados e livros. A maioria dos discos que pertenceram ao meu pai foi danificado pelo calor. Recebi meus pertences assim que cheguei ao prédio. Pedi a Bryan que me levasse ali, após uma de suas corridas.

- Venho aqui, todos os dias, olhar o que sobrou do nosso quarto.

Assustei-me com a presença repentina de Tom. Ele ajeitou os óculos no rosto e franziu o nariz.

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