No Limite

Capítulo 7

Não sei por quanto tempo dormi após chegar de viagem. Os pais de Liz nos buscaram no aeroporto. Depois do almoço, disse que estava cansado demais. Abri meus olhos lentamente, acostumando-me com a forte luz que entrava pela janela. Se a luz do sol já invadia o quarto, então era sinal que eu havia dormido mais do que devia.

O quarto era familiar, aliás, havia sido meu quarto durante dois anos. Ainda havia algumas coisas minhas ali, mas a maioria eu levei comigo para Tucson. Karen mantinha o quarto para mim, como se eu fosse seu segundo filho. Sentia-me grato por toda a consideração, ela e o Robb foram os pais que eu não tive por um longo tempo. Depois que Robb conseguiu tornar-se meu guardião legal até que eu atingisse a maioridade, eles me trouxeram para morar com eles. Para quem não tinha mais nada, era mais do que eu pudesse imaginar que conseguiria.

Chequei as mensagens no meu celular. Havia duas novas mensagens de Bryan Collins, uma me desejando boa noite e outra de poucos minutos atrás perguntando como estava sendo a viagem. Respondia uma mensagem de Luke perguntando se cheguei bem. Digitei uma mensagem para Bryan. Agora que estava novamente em Chicago, queria conversar com alguém sobre como estava me sentindo em uma cidade que eu queria deixar para trás. Bryan não é tipo de pessoa que me confortaria, ele diria algo do tipo "Foda-se essa cidade, você pode ir para qualquer lugar". E eu me sentiria muito melhor.

"Bom dia J. Estou aqui há 24 horas, dormi 12. Acho que está sendo divertido."

Deixei o celular sobre a cama, fui para o banheiro tomar um banho que me ajudasse a acordar. Quando voltei, Bryan já tinha respondido minhas mensagens.

"Você tem uma ideia estranha de diversão."

"Não fode, estava cansado depois de atravessar o país em um avião."

"Esqueci que você foi levando o avião. Muito cansativo."

"Queria que estivesse aqui. Ia te apresentar alguns bares de verdade."

"Isso é um convite, Gracinha?"

Consegui imaginar o sorriso torto e cafajeste de Bryan. Não evitei e acabei sorrindo.

"Apenas sentindo sua falta."

"Está sentindo minha falta?J Volta logo!"

"Não seja convencido. Volto em algumas semanas."

"L Contando os dias..."

Encontrei Karen retirando do forno um assado e o colocando sobre a mesa da cozinha. Ela sorriu ao notar minha presença, sem parar com suas tarefas. Depois de retirar os pratos da lava-louça, ela tirou seu avental florido e o largou sobre o encosto da cadeira.

Os longos cachos louros de Karen caíram sobre mim, formando uma cortina a minha volta. Seus braços magros me envolveram e ela beijou o alto da minha cabeça e alisou meu rosto com os dedos finos e macios.

- Como está se sentindo? - ela puxou a cadeira a minha frente e sentou-se. Seus olhos eram idênticos aos de Liz, com o mesmo tom de azul, porém, com algumas rugas em torno deles.

- Muito melhor. - retribuí seu sorriso. - Senti falta do seu assado.

- Você é um cavalheiro. - ela apertou minha bochecha, como fazia com certa frequência durante os anos que morei aqui. - Fiz torta de chocolate. Como você gosta.

- Você quer me deixar gordo.

- Olha para esses braços magrinhos. - ela ergueu meu braço e balançou. - Não tem comida onde vocês moram?