Capítulo 1 - Reencontro

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Clara

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Enquanto as duas garotas que me acompanhavam carregavam as malas, caminhei em destino a porta para tocar a campainha. No exato momento em que a porta foi aberta, todos que antes dançava alegremente, pararam para voltar seus olhos a mim. Talvez eu tenha estragado a festa deles - esse foi o motivo mais lógico que encontrei para toda aquela reação-. Mas em meio a todas aquelas caras espantadas que me encaravam, só uma me despertava uma sensação estranha... era como se eu já a conhecesse! Parada do outro lado da porta com uma expressão de incredulidade Ela me olhava abrindo e fechando seus olhos como se estivesse tentando me reconhecer/lembrar de mim ou algo do tipo. Talvez após as cirurgias meu rosto tenha mudado do seu habitual.

Meu coração palpitava cada vez mais rápido. Eu não sei o motivo pelo qual ele estava batendo de forma tão frenética, mas os olhos dela vindo de encontro aos meus me fazia sentir o corpo estremecer. Ela era fisicamente linda: cabelos escuros desalinhados em um coque, pele branca combinando com seu sorriso de neve, sorriso esse que se perdeu minutos depois que ela abriu a porta. Olhei em volta e notei que todos naquela sala me encaravam, como se eu fosse a atração principal da festa. Subitamente eu me perguntava o que estava acontecendo. Voltei meus olhos outra vez para aquela garota que vidradamente me olhava e vi em seus olhos um espanto sem fim. Tudo está tão confuso.

— Clara? — foi tudo que lembro de ter ouvido antes que ela desmaiasse.

Como ela sabia meu nome afinal?

Dane-se isso Clara, ela está desmaiada, não há tempo para explicações! Tomei seu corpo em meus braços e bati em seus rosto suavemente para que ela acordasse. —Moça, por favor, acorda? — supliquei em seu ouvido. Repentinamente todos os outros que ali estavam se aproximaram de nós. Ela abriu seus olhos quase sem forças, me encarou e quase sussurrando perguntou-me: — Isso é real? Você está mesmo aqui comigo?

Antes que qualquer palavra saísse da minha boca, uma outra garota grosseiramente gritou: — Se afasta agora da Eduarda! Eu cuido da minha namorada. — e a tomou para sí. Eu me afastei no exato momento. Senti que minha presença não era bem vinda alí.

Eduarda

**

— Isso é real? Você está mesmo aqui comigo? - falei pausadamente, quase sem forças para recuperar minha sanidade mental. Eu estava atordoada. Pouco-a-pouco sentia minha lucidez voltar, até que meu sonho-real de estar nos braços de Clara foi finalizado com um grito estridente vindo de Melissa.

— Se afasta agora da Eduarda! Eu cuido da minha namorada. - eu queria ficar ali por mais tempo, por uma vida, antes de acordar daquilo que eu tinha certeza que era um sonho, mas ela se afastou e caminhou para distante de mim e mais perto de Lívia e Laura que agora apareceram em meu alcance de visão próximas a porta.

Espera ai!

Laura e Lívia não estavam numa viagem? Como estão aqui agora? Afinal, de onde Clara surgiu?
Minha cabeça girava e girava. Eu já não sabia se aquilo era sonho, pesadelo ou realidade. Levantei-me rapidamente no exato momento em que senti como se fosse uma faca atingindo meu coração as palavras eufóricas de Guilherme:

— Clarinha, então estive certo esse tempo todo? Você está mesmo viva? — ele correu indo de encontro a ela para um abraço. A ficha finalmente estava começando a cair para mim.

— Espera ai, você sabia que Clara estava viva Guilherme? - ele não precisou me afirmar. Eu decifrei seu olhar. T-R-A-I-D-A, era assim que eu me sentia agora! Completamente traída por aquele a quem chamei de amigo. — Por que nunca me disse? Por que nunca me disse que Clara estava viva? - eu já sabia que os "porquês" agora já de nada adiantavam, mas eu estava sem norte. Sem rumo. Outra vez estava vendo minha vida girar sem controle.

Eu idealizei por tanto tempo reencontra-la outra vez, ainda que posse em um plano superior, mas nunca, nem nos meus piores pesadelos imaginei que seria assim. Estava doendo, tudo dentro de mim doía, cortava e machucava. Minhas lágrima saiam sem controle e minhas palavras já não se continham em mim. Eu gritei o mais alto que consegui. Esbravejei com rancor, raiva e alcançando até um nível de ódio:

— Por que esperou quase 4 anos para voltar? Por quê? - nada mais importava para mim. Eu não queria ouvi-la. Eu estava farta de mentiras e desculpas. Eu chorei sua morte e me culpei todos os dias e no final ela estava por aí rindo de mim e dos meus sentimentos. Tudo que eu desejava era ir o mais longe possível dali. Peguei as chaves do carro e sem destino caminhei batendo forte a porta e fugindo daquela realidade cruel.

Lívia

**

Eu jamais poderia imaginar que Guilherme ofereceria uma festa para Melissa em sua casa. Estive tão ansiosa para mostrar que ele estava certo sobre Clara estar viva, que pensei que vir diretamente do aeroporto para cá não seria um problema. Mas descobri tarde demais que meu pensamento foi errôneo. Como eu poderia saber dessa festa? Ele não avisou nada.

— Liv, eu pensei que chegariam só amanhã! - ele disse ainda mais atordoado que eu pela situação.

— Adiantamos nossa viagem. Ela aceitou vir conosco e acabamos antecipando as coisas. Eu não podia imaginar que você estaria com Eduarda aqui. Me desculpe! - eu estava tão atordoada quanto qualquer pessoa naquela sala.

— Vou a procura de Eduarda antes que ela faça alguma besteira. - disse Rafael pegando as chaves do carro de Gui e correndo logo atrás de Duda.

— Alguém pode me explicar por favor o que está acontecendo? - Clara implorou quase como uma súplica. Seus olhos estavam perdidos e culpados. Sua expressão era de espanto e medo e choro.

— Você ainda pergunta garota? - Melissa disse grosseiramente. - Para de ser sínica. Você deve estar se deliciando com tudo que causou aqui. Seria melhor para todos que você estivesse de fato morta.

Clara

**

Por que ela me odeia? O que eu fiz de tão mal no passado para que minha presença tenha causado tantos problemas? Que droga! Mil vezes droga! Por que não consigo lembrar de nada? Eu me sinto perdida dentro da minha própria vida. Minha cabeça doí. Mas nada doí mais do que a sensação de incapacidade por não saber muito sobre minha própria identidade. Eu quero respostas! Foi por isso que vim até aqui. Todo mundo grita, esbraveja, me culpa e me aponta, mas ninguém me diz o que de tão mal fiz. Sinto que sou odiada e o pior é não entender o porquê. Sua raiva por mim foi tão grande que a fez desmaiar ao me ver... Eduarda, esse nome revira meus pensamentos. Será mesmo que já tivemos uma história no passado como todos afirmam? Clara, porquê é tão difícil lembrar?

3 - Fénix, Renascida das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora