Jennifer
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Eu de fato não sabia se bater na porta do apartamento de Melissa quase duas horas da madrugada era uma boa idéia. E se ela não abrisse? E se por orgulho ferido ela me expulsasse? E se ela me mandasse embora friamente? Será que foi uma boa idéia eu ter ouvido Laura e Lívia e ter vindo até aqui?
Meus pensamentos estavam conturbados e meu corpo dava sinais claros de nervosismo. Bato ou não bato? Eis a questão! Respirei fundo, soltei pouco-a-pouco o ar dentro dos meus pulmões, me enchi de coragem e bati. Longos segundos de espera me matavam. A incerteza se ela abriria me corroía.
— O que veio fazer aqui, Jennifer? — ela disse após abrir a porta. Contrariando o que pensei, ela abriu. Apesar de tarde, eu não fui culpada por acorda-la, ela não estava com uma expressão sonolenta. Algo fez Melissa permanecer acordada até agora. Será que foi o peso da minha burrada que não a deixou dormir?
— Vim para tentar me desculpar, Melissa. — falei cabisbaixa. — Imagino que você não esteja com a menor vontade de olhar na minha cara depois do que houve na Boate e eu te entendo, mas eu precisava vir até aqui e tentar mais uma vez...
— Jennifer, estou com problemas bem maiores para ocupar meus pensamentos com seus erros e acertos. Desculpe, mas peço que vá embora pois eu preciso cuidar da minha filha e não tenho tempo para gastar aqui na porta, com você. — ela disse com um timbre trêmulo e uma expressão grandemente preocupada.
— O que? O que está acontecendo com Lara? — As palavras de Melissa me preocuparam extremamente. — Não adianta me mandar embora, não vou sair daqui sem saber o que está acontecendo com ela. — afirmei.
— Eu não sei o que ela tem em exato. Só sei ela está com uma febre altíssima e não para de chorar. — ouvindo isso, antes que ela tentasse me barrar, adentrei o apartamento e fui com a velocidade de um raio correndo até o quarto ver Lara, que neste exato momento se encontrava chorando em seu berço. Quando a peguei em meus braços, pude sentir que a temperatura de seu corpo estava muito, muito, muito elevada mesmo.
— Por Deus, precisamos leva-la agora mesmo no hospital ou ela pode ter uma convulsão. — falei muito preocupada. Eu realmente criei um carinho grande por Lara e se algo de ruim acontecesse para aquela pequena, eu não me perdoaria.
— Agradeço a sua disposição, mas não será preciso. Eu já liguei para Bernardo e ele já está no caminho para cá.
— Bernardo não é pediatra, Mel. Vamos no hospital, meu carro está la fora, eu posso te dar uma carona sem o menor problema. — tentei convence-la.
— Você não é a mãe da minha filha, eu sim e eu sei o que é melhor pra ela. Bernardo está vindo e está trazendo um médico amigo dele que é especializado em cuidar de crianças.
— Olha, eu sei que você está magoada comigo, mas isso não te dá o direito de ser cruel. De fato não sou mãe de Lara, mas a amo e me importo com ela. Não vou sair daqui até que Bernardo chegue e me diga que ela vai ficar bem. Não seja tão egoísta ao ponto de pensar só nos machucados do seu coração, há algo maior em jogo, sua filha. É por ela que estou aqui e mesmo que me mande embora mil vezes, ficarei teimosamente. Posso não ser a mãe dela, mas sabe onde está a segunda mãe em questão? Ocupada demais com seus fantasmas passados para estar aqui junto de vocês. Posso prever que tentou ligar no celular de Eduarda para implorar um socorro para sua filha e o telefone chamou até cair na caixa de mensagens... Então na boa Melissa, se eu estou aqui, agora, por ti e por ela, não é por querer roubar o lugar de mãe que você e Eduarda tem, é para mostrar que eu me importo com esse pequeno ser que aprendi à amar. — falei acalentando a pequena em meus braços, para que ela amenizasse um pouco mais seu choro.
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3 - Fénix, Renascida das cinzas
RomanceTerceira temporada do romance lésbico CLARA E DUDA.