Capítulo 38 - Boate Sprit

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Jennifer

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— Melissa? Você veio? — perguntei sem crer nos meus olhos.

— Por que tanta surpresa em me ver? Achou que pelo o atraso eu não viria e aproveitou para beijar a primeira boca que viu pela frente? — eu via em seus olhos o quanto estava desapontada comigo. Eu me sentia péssima e monstruosa, mas não sou a única culpada, sei que não, afinal foi ela quem agiu como se não me quisesse e como se beija-la tivesse sido um erro. Ela não pode simplesmente chegar e me colocar uma pressão, culpa e peso na consciência que eu não tenho.  

— Primeira e única, diga-se de passagem. — Clara disse defendendo-se.

— Não, eu não beijei a primeira que vi pela frente. Clara foi milimétricamente selecionada. — eu nem sei o porquê de ter dito aquilo, mas eu estava de fato querendo mostra-la que não sou um fantoche que ela pode ter nas mãos com facilidade a hora que quiser.

— Como fui tola de sacrificar meu tempo para vir até aqui me desculpar pelo que te disse. Fui mais idiota ainda em pensar que me esperaria chegar, já que foi você que fez tanta questão que eu viesse. No entanto, meu grau mais elevado de idiotice foi quando pensei que ao menos com você eu não teria que duelar com Clara para ter um espaço em seu coração. — suas palavras me rasgavam por dentro.

— Como assim duelar com Clara para ter um espaço no coração de Jennifer? — Eduarda indagou confusa. — Por acaso você e Jennifer estão tendo um caso e eu não sabia? Isso é recente ou só agora descobri o quanto fui corna? — Eduarda esbravejava pedindo satisfações.

— Respeita a Melissa ou não responderei por mim, Eduarda! — falei com total indignação.— Se não conhece o caráter da mulher que teve ao lado durante tanto tempo, de fato você não merecia tê-la. Fazem meses que nossa relação era algo estritamente profissional, mas hoje pela tarde acabou acontecendo um beijo e antes disso nada mais. Apesar de você ser uma babaca, infelizmente corna não foi. — Expliquei em defesa de Mel.

— Na boa? Eu não preciso que me defenda. Sei falar por mim mesma. E não venha falar de caráter quando você beija uma pela tarde e outra a noite, e pior, no mesmo dia. Você me decepcionou em tempo record, Jennifer. Quer saber? Aproveitem a festa as três e se divirtam.. Eu estou indo embora! — ao vê-la partindo em lágrimas no meio da multidão, meu coração pesou. Ela realmente veio para tentar se desculpar ou estava blefando para me fazer sentir mal? Céus, porque fui burra o suficiente para magoar Mel? Antes que ela sumisse do meu alcance de visão, corri para alcança-la, segurei em seu braço direito e a puxei para tentar explicar o que naquele momento parecia inexplicável.

— Me deixe em paz garota... Ou.. — ela tentava esbravejar mais alto que a música do ambiente.

— Ou o que? — Repeti.

— Ou isso... — ela disse jogando o resto de álcool que estava em seu corpo em meu rosto e seguiu seu caminho indo para longe.

Minha visão repentinamente escureceu e o líquido jogado ardia como se fosse me fazer perder a visão. Gritei com uma dor profunda e me abaixei lacrimejando. Ela vendo a gravidade do que fez, voltou rapidamente, me ajudou a levantar e me conduziu para fora da boate. Tombei em inúmeras pessoas, não só pelo efeito da bebida em meu organismo, mas principalmente por estar com a visão por completo alterada e sem quase conseguir ver. Estava ardendo extremamente.

— Eu devia te deixar ficar cega sua cretina! É o que você merece... — ela disse tirando o blazer que estava usando para enxugar o líquido em meus olhos, quando por fim já estávamos ao lado de fora da boate. — Ainda está ardendo muito? — ela perguntou me encarando e parecendo bastante preocupada. Não posso negar que apesar da dor, eu estava amando sua preocupação comigo.

— Sim, ainda está doendo bastante. Satisfeita com isso? Agora você pode se deliciar com meu sofrimento. — falei com uma certa revolta. 

— Eu devia mesmo estar satisfeita. Mas não, não estou. — seu timbre estava grosseiro como nunca antes ouvi. — Espera ai, eu já volto. — ela disse me deixando para trás e se afastando. 

— Onde você vai? — tentei perguntar antes que ela partisse, mas já me parecia tarde para que ela ouvisse. Afinal, onde ela poderia ter ido? Porque ficar sem sua companhia me parece tão assustador?

Melissa

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— Garçom, me dê uma gafarrinha de água mineral por favor? — pedi pacificamente enquanto encarava próximo do balcão a imagem de Clara e Eduarda a conversar. Porque tentar competir com Clara me parece tão cruel? Eu serei sempre a garota que vai ocupar os lugares vazios que Clara  deixa? Eu serei sempre a medalha de prata enquanto vejo Clara exibindo o ouro e subindo ao pódio? Olho Eduarda agora junto dela e vejo que nunca conseguirei despertar algo próximo do que ela sente por Clara. Acho que me enganei completamente. Volto nas memórias do meu passado e vejo que Eduarda nunca foi capaz tentar consertar um erro ao me machucar. Nunca veio conversar comigo ao final de uma discussão... E como se nada disso bastasse, ainda é capaz de dúvidar da minha fidelidade e ver em mim a garota de programa que no passado ela conheceu. Isso nunca foi e nunca será amor. Mas além de tudo, o que me mata ainda mais é ter tentado reconstruir meu coração e deixar alguém entrar nele, e esse alguém me trocar beijando a última garota que ela deveria. Jennifer não é diferente de Eduarda e enganei-me ao pensar que seria.

— Aqui está moça. — o garçom falou despertando-me do meu devaneio. Paguei pela garrafa e segui novamente caminhando para a saída daquele lugar para bem longe daquela imagem.

Jennifer

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— Pegue, lave seus olhos com isso... Vai melhorar um pouco mais a ardência. — ela disse quando finalmente voltou, entregando-me uma garrafa com água. Sem demora lavei meus olhos e a dor parecia estar realmente amenizando. Quando por fim consegui abrir minhas pálpebras sem sentir tanto pesar, encarei a imagem de Melissa. Ela estava com uma expressão tão triste que minha consciência quebrou. Apesar de tanta raiva e rancor ela estava me cuidando. Cuidando de uma idiota que estragou sua noite? Ela não merecia a burrada que fiz.

— Está melhor agora? — ela indagou ao me notar de olhos abertos olhando-a.

— Se eu falar que sim, você vai embora? Se for, saiba que a qualquer momento posso perder a visão. — eu realmente não queria que ela fosse.

— Creio que pelas piadas idiotas já deve estar bem. Vou indo embora, mas se precisar de algo, peça a Clara que te ajude, afinal era na companhia dela que a noite parecia mais agradável para ti. — ela afirmou antes de seguir seus passos caminhando para longe.

— Espera Mel? Por favor não vá. Me dê uma chance de explicar! Não era a companhia de Clara que eu desejava de fato essa noite. Esse beijo que você viu, só aconteceu porque ela queria causar ciúmes na Eduarda, e eu, bem, eu queria te tirar dos meus pensamentos ao menor por um minuto. A verdade é que desde que te beijei, eu não conseguia pensar em mais nada.

— Ah Claro, beijar a boca da última garota que você deveria foi a melhor forma de mostrar o quanto pensou em mim? — ela disse com total irônia. — O que você espera que eu faça com essa sua declaração estúpida? Caia de amores e te beije? Desculpa mas não estou aqui para tirar a saliva de Clara que certamente ainda está em sua boca. Sabe quanto tempo eu passei pegando as sobras do amor que Eduarda dedicou para Clara? Não me submeta a essa situação pela segunda vez, Jennifer. Seria cruel demais comigo.

Eu via nos olhos de Melissa o quanto eu tinha magoado-a. Eu quebrei o coração da garota que eu menos desejava fazer. Droga de tempo que não posso voltar e fazer diferente! Sei que um milhão de desculpas não adiantará para consertar o que fiz. Dedicar um verso não vai bastar. Falar de arrependimento não vai causar efeito. O mínimo que tenho a fazer é deixa-la ir e me convencer que estraguei tudo outra vez.

3 - Fénix, Renascida das cinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora