2ª dose

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A Disney sempre mentiu.

Não sei exatamente a que horas fui embora da festa, mas tenho a absoluta certeza que eu sorri o momento inteiro que fiquei por lá. Ítalo e eu não ficamos de novo, nem ficamos nos olhando, ou passando um do lado do outro para chamar a atenção. Apenas curtimos a festa com os amigos que fomos, ou única amiga que é o meu caso.

Bebi um pouco mais até a hora de ir embora. Em todas as doses eu pensava que aquilo era uma comemoração por ter atingido meu objetivo, que no caso era ficar com Ítalo. Eu o quis por um ano inteiro, sabia que era válido comemorar.

— Ainda quero saber detalhes, viu?

Jessica, que está deitada na mesma cama que eu, só que do lado oposto, bate o pé bem leve em mim. Ela sorri de uma forma brincalhona e balança as sobrancelhas me incentivando a contar. Tentamos não fazer barulho para não acordar a irmã dela que dorme na cama ao lado, mas Jessica falhava todas as vezes que eu contava algum detalhe a mais do que deveria. Sua risada barulhenta ecoava pelo o quarto.

— Sabe quando você faz algo e depois só consegue lembrar dos flashs?

A felicidade extrema pode resumir uma noite ou situação em poucos minutos no nosso cérebro. Não sei se é cientificamente provado, mas às cinco da manhã, tudo o que eu disser por impulso e tudo o que eu pensar sem fonte nenhuma confirmando; fará todo o sentido na minha cabeça.

Eu sabia bem que tinha ficado com Ítalo, mas lembrar de tudo nos mínimos detalhes era outra história. Quando fecho os olhos vejo o corpo dele se movendo contra o meu, quase sinto sua mão desferir um tapa em minha bunda e vejo na câmera frontal do meu celular as marcas em meu pescoço e busto. Sei de alguns detalhes. Sei que usamos camisinha, sei que ele segurou a minha mão, mas alguns momentos se perderam ou meu cérebro modificou todo o tempo que passei com Ítalo em dez minutos. Parece que foi tão pouco tempo e eu queria mais.

— E aí? Foi bom?

— Sabe quando você fica com alguém e tudo se encaixa? O beijo, o corpo...

— Tipo letra de pagode que diz que foi feito na medida? — ela me interrompe, rindo.

— Exatamente assim! Ítalo sabia como se mover, como me apertar, como me beijar. Foi tudo tão incrível que se ele me pedisse em casamento agora eu aceitaria.

Estou encarando o teto escuro porque, apesar de estar dando detalhes, estou com vergonha de tudo o que sai da minha boca. Eu sou romântica, sempre fui, mas ser esse cubo de açúcar que derrete toda vez que falo de Ítalo me deixa envergonhada.

— Quer o clichê de Las Vegas, Ju? Vocês enchem a cara e param em uma capela onde o casamento realmente é válido? Histórias impulsivas assim só dão certo em filmes, ein — ela riu alto, mas não de um jeito maldoso.

Jessica é o meu lado sensato. Ela é assim: fala tudo o que pensa sem firulas, mas de uma forma que dá vontade de rir ao invés de ficar chateada com tanta verdade.

Ela quase acorda Geovana, sua irmã de sete anos, mas ela tem um sono tão pesado que ficamos despreocupadas após perder as contas das vezes que Jessica riu alto. Tia Lindinalva também tem o sono pesado. Todo mundo dessa família tem. Toda vez que temos que acordar cedo para fazer alguma coisa, tenho que balançar os ombros de Jessica mil vezes, senão não acorda.

Apesar do meu lado "queromecasaragora" estar berrando hoje, decidi ser a garota que não manda mensagem no dia seguinte. Esperarei Ítalo me procurar, afinal ele disse que ficaria comigo novamente, então no mínimo tem que mandar uma mensagem, eu acho.

Passaram dois dias e nada de ele me procurar. Não estou surpresa, mas eu queria que ele tivesse mandado uma mensagem ou curtido uma foto que postei de forma proposital só para ele lembrar que existo, mas não teve nada. Nenhuma notificação com o nome dele.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora