2ª dose

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A Disney sempre mentiu.

Não sei exatamente a que horas fui embora da festa, mas uma coisa é certa: meu sorriso não se desfez nem por um segundo. Dancei com Jessica e, embora Ítalo e eu estivéssemos próximos, não ficamos nos olhando, tampouco passamos um ao lado do outro apenas para chamar a atenção. Eu sentia uma alegria tão boa que, bem no fundo, sabia que não seria a primeira vez que ficaríamos. Então, contrariando todo o meu corpo que estremecia só de lembrar do toque dele, apenas curti a festa com Jessica, e ele fez o mesmo, curtindo com os seus amigos.

Bebi um pouco mais até a hora de ir embora. O líquido descia pela minha garganta, e eu não sabia se o calor que eu estava sentindo era por causa do álcool, pelo clima quente do Rio de Janeiro, ou porque eu ainda estava lembrando a mão de Ítalo percorrendo todo o meu corpo de uma forma tão delicada que eu só percebi que ainda estava na festa quando Jessica, fazendo uma careta engraçada, tocou no meu ombro e perguntou se eu estava ouvindo o que ela dizia.

Em todas as doses, sentia que estava comemorando o momento com Ítalo. Pensei em como quase desisti de vir para essa festa, e bebi mais um gole para comemorar em silêncio o fato de ter passado um ano esperando por um momento como aquele, e tentei esconder todos os sentimentos que apareciam.

— Ainda quero saber detalhes, viu?

Jessica, que está deitada na mesma cama que eu, mas no lado oposto, bate o pé de leve em mim, como se quisesse me provocar. Seu sorriso é travesso e cheio de malícia, enquanto ela balança as sobrancelhas de maneira sugestiva, quase como se estivesse me desafiando a revelar todos os detalhes da noite. Tentamos não fazer barulho para não acordar a irmã dela que dorme na cama ao lado, mas Jessica falha todas as vezes que eu conto algum detalhe a mais do que deveria. Sua risada barulhenta ecoa pelo quarto.

Fecho os olhos no quarto escuro de Jessica, onde a única luz vem da cortina branca e do poste da rua lá fora. Sei que fiquei com Ítalo, mas, quando fecho os olhos, parece que alguns detalhes da noite se perderam. Sinto uma frustração quase palpável por não conseguir reter todos os detalhes vívidos que marcaram aquele momento. Eu queria ter gravado tudo para poder assistir repetidamente e ouvir a voz dele todos os dias, com aquele sotaque carioca carregado de gírias que me fascina e me deixa com um sorriso bobo. Ítalo nunca me enviou um áudio no WhatsApp, então tudo o que lembro da voz dele é o que aconteceu hoje.

Quase esqueço que Jessica está deitada ao meu lado quando um sorriso involuntário surge ao lembrar do corpo dele se movendo contra o meu. Sinto uma onda de calor subir por inteiro e, por um instante, quase posso sentir a mão dele. Forço minha mente a se concentrar, buscando desesperadamente por mais detalhes. Pego meu celular e olho na câmera frontal, observando as marcas em meu pescoço e busto. Meu coração acelera novamente com esses pensamentos. Eu gostaria de ter Ítalo de novo desse jeito íntimo.

— Foi bom? — pergunta Jessica, me incentivando a compartilhar detalhes.

Sinto uma leveza. Após escovar os dentes, o hálito de álcool ainda preenche o quarto. Tento manter os olhos fechados enquanto converso com Jessica, em parte devido a uma leve dor de cabeça, e em parte por vergonha. Sei de alguns bons detalhes. Sei que fomos responsáveis e, mesmo com nossas roupas já espalhadas pelo chão, usamos camisinha. Sei que ele segurou minha mão na frente de qualquer pessoa que passasse na rua. Sei de vários momentos, mas sempre que fecho os olhos, parece que tudo aconteceu rápido demais, como se grande parte tivesse se perdido no meu cérebro. Parece tão pouco, e eu quero muito mais.

— E aí? Foi bom? — Jessica repete, ansiosa por mais detalhes.

— Foi tudo tão incrível que se ele me pedisse em casamento agora eu aceitaria.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora