14ª dose

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Ainda não está perfeito, mas é o melhor que conseguimos fazer.

Eu tenho uma consulta marcada e Ítalo me acompanhou, sem escapatória desta vez. Estou incrivelmente nervosa, mais do que da primeira vez. Hoje eu pude deixar meu nervosismo todo para a minha gravidez e isso está fazendo as minhas unhas ficarem mais curtas do que já estavam.

— Esperar é muito chato!

Ítalo parece uma criança querendo comer a ceia de natal antes de meia noite. Ele tem sorte que não estamos em um hospital público, caso contrário, só seria atendida quando meu bebê estivesse nascendo. Ou nem isso. Claro que nem todos os hospitais são assim, mas o mais próximo da minha casa não é muito confiável. Há muitos relatos de dar medo.

Ítalo balança as pernas insistentemente, abre algumas vezes o WhatsApp, não faz nada e fecha. Parece nervoso, mas seu semblante não deixa nada transparecer.

Ele decidiu pagar por um ultrassom, já que o posto de saúde não tinha data disponível. A ginecologista que eu costumava visitar está de férias e a substituta tem a agenda lotada pelos próximos três meses. Apenas uma médica está disponível para atendimento. O que é um absurdo, eu sei, mas não há nada que eu possa fazer. Felizmente, Ítalo me deu outra opção.

Segundo sua avó, Ítalo é técnico de informática. Seus amigos sempre arranjam algum computador para ele mexer. Parece que ninguém sabe como remover um vírus, ou algo assim. Ele terminou a escola no ano passado, aos dezessete anos. Não sei como ele nunca repetiu, mas não perguntei nada quando Yara resolveu fazer um currículo sobre o pai do meu filho enquanto eu tomava café. Por isso, ele sempre tem algum dinheiro. Não muito, mas o suficiente para pagar esta consulta, que foi a minha salvação.

Ítalo continua mexendo impacientemente no celular enquanto eu tento me distrair com uma revista de cinco anos atrás na sala de espera. Há bastantes pessoas esperando para serem atendidas, menos do que esperava, mas mesmo assim a sala está cheia. Tudo cheira a cloro e desespero.

— Acho que não estou preparado para ser pai. — Ítalo diz, estalando todos os dedos de um modo que está me irritando.

— E eu estou preparada para ser mãe, por acaso?

— É sério, Julia. Você deveria ter chamado sua mãe. Ela deve saber o que fazer. Ou poderia ter chamado minha avó.

— Mas não chamei! E, se você não está pronto, eu te coloco em um curso preparatório, mas você vai ter que ficar pronto. Tem que ter vagina para poder me acompanhar? Você faz parte disso, sabia? — rebato, com a voz mais alta do que gostaria.

Olho em volta e tem algumas pessoas me olhando, mas não me importo. Este lugar é um show de hormônios transbordando, então não é como se eu fosse uma raridade.

— Não queria que interpretasse dessa forma. Eu não quero brigar. Apenas fui sincero. — Ele abaixa a voz e chega mais perto para que eu escute direito. — Olhe para todos aqui e diga se está preparada para isso. Sua mãe e minha avó já passaram por isso; elas podem te ajudar melhor do que eu. Foi isso o que eu quis dizer.

Encaro as grávidas naquela sala de espera. Observo algumas acompanhadas dos possíveis pais do bebê, que estão com a mesma expressão que Ítalo está fazendo, e outras com seus possíveis pais ou amigos. Barrigas de diversos tamanhos tornam o lugar aterrorizante de repente. Tento escutar as conversas e desisto quando os assuntos não são dos mais agradáveis. Há quatro grupos aqui: aqueles que fazem planos para o futuro, aqueles que trocam experiências de dores, sangramentos e fluídos; uma menina de catorze anos é a única no grupo que tem uma mãe que repete a idade dela a todo momento e diz coisas desanimadoras; e tem Ítalo e eu, que não temos a menor ideia de como isso vai funcionar.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora