Que as luzes não sejam apenas para comemorar, e sim uma prova clara da nossa esperança.
Amo o Natal desde sempre, mesmo sem ser muito religiosa. Parece que o mundo todo muda com essa data e isso me dá uma sensação boa, como se sobrasse tempo em uma vida tão corrida. Sinto que o Natal traz novas possibilidades, uma sensação de vida nova, quase como mágica. Talvez seja porque, por uma vez, todos esperam a mesma coisa. O resto do ano, estamos sempre esperando coisas diferentes, mas nessa época, todas as pessoas querem o melhor.
Arrumo a farofa na mesa enquanto olho ao redor. Há luzes coloridas piscando em todas as partes e o cheiro delicioso da comida invade todos os cômodos da casa. Próximo ao sofá, há uma enorme árvore de Natal, que foi caríssima, mas vai durar muitos anos. Ela está decorada com várias bolinhas, enfeites e pisca-piscas. Tudo está muito lindo.
— Vó, vê se esquecemos de algo — Ítalo pergunta.
Ítalo anda de um lado para o outro com Valentim no colo, enquanto arruma algumas travessas. Ele sorri o tempo inteiro, balançando o nosso bebê no colo toda vez que ele resmunga. Yara está ao meu lado, ajudando com a decoração. Nunca imaginei que uma casa pudesse ficar tão bem decorada. Até na cozinha há pisca-pisca. Acho que eles guardaram as decorações de todos os anos, e Ítalo ainda comprou mais. Ele queria que tudo ficasse perfeito para o primeiro Natal do Valentim e, talvez, para o último de Yara.
— Vocês são incríveis — ela diz. — Está tudo perfeito.
Todos os anos, passo o Natal com meus pais e a família de Jessica, mas este ano organizamos uma grande ceia para todos estarem ao lado do Valentim. Jessica até comprou um body branco para ele escrito "Meu Primeiro Natal".
Provavelmente, um dos muitos amigos de Ítalo vai passar aqui depois da meia-noite, e estou muito animada com tudo isso. Quero criar boas memórias para Valentim. Tenho tirado mais fotos que o que eu costumava tirar. Cada vez que ele abre os olhos, eu tiro uma foto. Já enchi todo um álbum. Estou ansiosa para viver essa data ao lado das pessoas que eu amo. Quero esquecer o caos que foi a maior parte desse ano. Só quero sentar, descansar e ficar olhando todo o mundo feliz.
Yara não tem se sentido muito bem. Dias atrás, ela foi ao médico e decidiu continuar com a quimioterapia. Disse que vai lutar contra o câncer e sair vitoriosa. Admiro a positividade, mas tenho que ser realista ao constatar que ela não está nada bem. Muitas vezes, ela tenta esconder os sintomas, como se quisesse proteger a todos. Mas eu percebo.
Não é fácil cuidar e, ao mesmo tempo, manter o otimismo, mas estou fazendo o possível para pensar no melhor. Tento focar no que posso controlar, ficar próxima de Valentim e dar o máximo de tempo a ela com ele. Apesar de tudo, tenho fé que vamos vencer essa batalha. Ela tem que vencer.
Sempre que coloco Valentim em seus braços, lembro de quando era eu quem buscava consolo neles. A mesma força que me sustentava agora parece tão frágil. Mas, mesmo assim, quando ela segura Valentim, há algo quase divino naquele momento, como se o tempo pudesse parar. Cada momento é precioso, e tiro o máximo de fotos que consigo, tentando capturar essas memórias enquanto ainda temos tempo. O sorriso que ela dá, mesmo nos momentos de dor, aquece meu coração. Estou em uma corrida contra o tempo, e, pela primeira vez, não é Ítalo o centro das minhas preocupações.
Jessica trouxe pavê e, antes que alguém fizesse a piadinha idiota, me apressei logo em dizer que não é engraçado. Uma atitude que não valeu de nada, pois assim que meu pai chegou, ele falou a frase mais ouvida no Natal e Ítalo riu, dando início a uma sequência de piadas ruins como a que fizeram da torta:
— É torta ou é reta? — Ítalo perguntou, rindo.
— É para comer! Enche a boca e para com isso — Jessica rebateu.
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Quando estiver sóbrio (COMPLETO)
Teen FictionAdolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia se deveria acreditar ou não em amor à primeira vista, mas bastou uma única vez para ela pensar em Ít...