28ª dose

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Que recomeçar seja sempre uma meta a ser seguida.

Era nove da manhã quando decidi que olhar o Facebook era a melhor coisa a se fazer. Ítalo estava falando a verdade sobre a festa. Meu feed de notícias foi presenteado com uma foto que ele postou antes de sair. Ele estava bonito, bem arrumado e com um enorme sorriso. Sua legenda era: "Minha meta é viver a vida!". Eu entendi a indireta, mas não comentei nada; apenas curti a foto para que ele soubesse que eu vi.

Quando pensei que não poderia piorar, percebi que as fotos da festa são bem piores do que a indireta. Ítalo perdeu completamente a linha. Em uma delas, ele está apenas de cueca, segurando uma garrafa de uma bebida desconhecida, próximo à piscina. Seu corpo estava molhado, como se tivesse acabado de sair da água. Na outra, ele está deitado em um canto, mostrando o dedo do meio e a língua. Na terceira foto, ele e seus trinta amigos estão ostentando seus copos de bebida, cuja procedência desconheço. Reconheci Bernardo ao lado de Ítalo.

No vídeo que postaram, duas garotas derramavam uma bebida na barriga dele e passavam a língua. Logo depois, eles deram um beijo triplo, e eu quase vomitei. Ítalo é muito cara de pau. Seus amigos aplaudiam e gritavam como se isso fosse algo legal. Vários deles estavam espalhados pela festa, beijando garotas e bebendo como se não houvesse amanhã. Não encontrei Bernardo no meio deles. Foi uma exposição desnecessária, mas quem sou eu para julgar? Só estou com raiva do quanto sou ingênua e como perdi meu tempo querendo que algo desse certo quando, na verdade, nunca vai dar.

Ítalo é um caso perdido, e cada foto e cada vídeo confirmam isso. Ele não postou nem compartilhou nada. Havia apenas um comentário dele escrito: "E aquele lance de 'o que acontece na festa, fica na festa'? Vocês são foda! Kkkk". Duas horas depois, a postagem sumiu. A sobriedade deve ter chegado para a pessoa que postou e viu como aquilo tudo estava ridículo, então apagou.

No fim da tarde, recebo uma mensagem de Bernardo. Estou deitada na minha cama, comendo pipoca, pois li que faz bem na gravidez, quando meu celular vibra. Penso que seja Jessica, mas não.

[Bernardo: Vamos ao cinema? - 16:39]

Penso em recusar e continuar fingindo que não vejo seus flertes, mas não tenho nada a perder e Bernardo é legal. Esse tempo trabalhando no mesmo lugar que ele me fez bem. Ele é engraçado e bonito. Consegue manter qualquer tipo de conversa e está sempre de bom humor. Ele é um bom motivo para eu tirar minha roupa de dormir sem graça e sair hoje, mas a pipoca me deixou enjoada, então acho que meu filho decidiu que não quer ir ao cinema. Penso em dizer isso, mas soou como uma desculpa idiota quando escrevi. Opto por ser a grávida rabugenta. Tanto tempo conversando com ele pelo o WhatsApp criei uma intimidade para falar o que eu quiser.

[Julia: Lugar fechado, duas horas de filme, cheiro de pipoca bem forte, gente se agarrando ao fundo. Dispenso! Mas topo ir à sorveteria. Se eu puder mudar o lugar, lógico. - 16:42]

[Bernardo: Você é quem manda! Mas essa negatividade toda veio no pacote da gravidez? - 17:01]

[Julia: Veio sim HaHa. - 17:02]

[Bernardo: Rs Vou aí te buscar às oito. - 17:05]

Faltando cinco minutos para o horário combinado, ele já está no portão da minha casa, buzinando sem parar apenas para me fazer raiva. Mas não consegue, pois quando saio e vejo seu carro velho, verde-ervilha, começo a ri.

— Gostou do meu primeiro carro? — ele diz, rindo.

— Ah, não, eu queria algo mais chamativo. Não tinha? — rio, perguntando de forma irônica.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora