37ª dose

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Decidi dar um tempo para a minha mente. Ítalo, por mais que esteja magoado, não precisa de mim. Conversei com os meus pais e com Jessica, e sei que tenho que aproveitar esse momento de paz para colocar as ideias no lugar e curtir o fim da gravidez. Se Ítalo estiver se sentindo triste, ele pode chamar um de seus amigos. Eu não posso fazer o papel de porto seguro se nem consigo ficar em paz sozinha.

Nos dias seguintes, eu não procurei Ítalo nem mandei mensagem. Comecei a me cuidar mais e, para ser sincera, nem lembrava a última vez que tinha finalizado o meu cabelo.

Quando contei a Jess como foi meu "término" com Bernardo, ela só disse: "Agora é hora de você pensar apenas em você mesma. Que tal um dia de spa da Jess?". Eu ri porque sempre brincávamos disso. Geovana, com seus sete anos, nunca vai saber o que é chegar da escola, ficar na casa da melhor amiga fingindo o dia todo estar em um spa chique, com famosos, enquanto tritura uma babosa e passa no cabelo e no rosto.

Pensei tanto nisso que fiz questão de chamar a irmã de Jessica para se cuidar com a gente. Ela tentou recusar, mas no final gostou tanto que queria repetir no dia seguinte. Jessica, com toda a sua criatividade, cortou uma franja no cabelo longo de sua irmã. Elas não se parecem muito, mas é só olhar para a bochecha corada e grande que qualquer um sabe que as duas têm um parentesco.

Hoje é o dia da foto dos oito meses e, pela primeira vez, estou nervosa. Todos os meses, desde o quarto, Ítalo, Yara, meus pais e eu nos juntamos e tiramos uma foto. Depois, eu revelo e colo em um álbum, escrevendo a data à mão embaixo da foto e destacando os meses em letras grandes ao lado. Fazemos isso todo mês. Mas não foi fácil convencer Ítalo. Só depois que Yara pediu, ele cedeu e acabou virando algo normal.

Quando você fica grávida, alguns clichês passam a ser necessários na sua vida. Registrar os meses através de fotos era algo que eu considerava o mais brega de todos. Achava que era só esperar os nove meses e pronto. Não precisava de festa, mas agora eu sou a pessoa ridícula que agradece pelas contrações de Braxton Hicks terem novamente dado uma trégua para tirar a quinta foto.

Não achei tão ridículo assim quando me toquei que nunca mais vou ter o Valentim em minha barriga, então eu deveria aproveitar todos os segundos. As primeiras fotos foram difíceis porque eu ainda estava em um processo de aceitação, começamos a fazer isso no quarto mês. Nos meses anteriores só tenho fotos de ultrassom e pouquíssimas fotos da minha barriga pequena que Jessica cismava em tirar. Juntei tudo isso e fiz do dois ao quatro só assim. O um vai ficar para alguém que soube logo de cara, pois eu não.

- Pensei que você não iria mais aparecer - Rômulo diz, em um tom de deboche.

Acabo de chegar na casa de Ítalo e respiro fundo, repetindo em pensamento que ele não disse nada. Não vou me estressar hoje. Cansei das piadas de Rômulo e do seu jeito de querer me envolver em tudo. Ítalo está no quarto. Depois de dar um beijo em Yara, que está deitada no sofá, vou até ele.

- Rômulo parece me odiar - falo ao fechar a porta atrás de mim.

- Não liga!

Ítalo está desenhando algo, mas não me deixa ver o papel. Assim que chego mais perto, ele esconde e eu não pergunto nada.

- Valentim está agitado hoje.

Me sento ao lado dele na cama, puxando sua mão para a minha barriga. Adoro sentir seu toque. Sua mão sempre quente em contato com meu corpo faz com que eu fique arrepiada rápido. Não menti dessa vez. Valentim está realmente agitado. Ele se revira na minha barriga, dando chutinhos como se estivesse ansioso para sair e explorar o mundo logo.

- Já sei que ele vai curtir uma festa que nem eu.

- Oh meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? - brinco.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora