37ª dose

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Talvez o maior amor que posso oferecer é aquele que tenho sentido por mim.

Decidi finalmente dar um tempo para a minha mente e focar em mim mesma. Ítalo, por mais que esteja magoado, não precisa da minha presença para superar isso. Conversei com meus pais e com Jessica, e entendi que não posso me perder tentando salvar os outros. Preciso aproveitar esse momento de paz que resta para colocar as ideias no lugar e curtir o fim da gravidez. Se Ítalo estiver se sentindo triste, ele pode chamar um de seus amigos. Ele tem o direito de buscar apoio, mas eu não posso continuar me sacrificando. Eu não posso fazer o papel de porto seguro se nem consigo ficar em paz sozinha.

Nos dias seguintes, eu não procurei Ítalo nem mandei mensagem, mas ele me mandou diversas mensagens perguntando como eu estava, se eu ia voltar para a casa dele, como estava o nosso filho e me chamando para dar uma volta. Apenas respondi sobre o Valentim e ignorei todas as outras. Comecei a me cuidar, e ao me olhar no espelho, percebi que nem lembrava a última vez que tinha finalizado o meu cabelo.

Quando contei a Jess como foi meu "término" com Bernardo, ela só disse: "Agora é hora de você pensar apenas em você mesma. Que tal um dia de spa da Jess?". Eu ri porque sempre brincávamos disso. Geovana, com seus sete anos, jamais entenderá o que é voltar da escola, passar o dia inteiro na casa da melhor amiga, fingindo estar em um spa luxuoso, cercada de celebridades imaginárias, enquanto triturávamos uma babosa e a aplicávamos no cabelo e no rosto como se fosse o tratamento mais caro do mundo.

Pensei tanto nisso que fiz questão de chamar a irmã de Jessica para se cuidar com a gente. No início, ela tentou recusar, envergonhada e tímida, mas depois de um pouco de insistência e muitas risadas, acabou cedendo. Geovana estava tão animada que disse que queria fazer isso de novo no dia seguinte.

Jessica, com toda a sua criatividade, cortou uma franja no cabelo longo de sua irmã. Elas não se parecem muito, mas é só olhar para as bochechas coradas e grandes que qualquer um sabe que as duas têm um parentesco. No final da noite, ficamos jogando Uno sentadas no tapete da sala. Eu precisava disso. Olhar aquelas cartas coloridas na minha mão e observar o riso ecoar em toda a minha sala que permaneceu vazia quase a minha gravidez inteira, fez eu me sentir melhor, mais leve, e foi bom ver que elas também se divertiram tanto quanto eu.

Faltando alguns dias para completar oito meses, resolvi buscar canais no YouTube sobre amor próprio e os desafios do fim da gravidez. Comecei a sentir um pouco de medo do parto, imaginando como seria quando o meu filho estivesse nascendo. Mantive o foco em como essa experiência seria para mim e tentei fazer de tudo para torná-la positiva. Em um dos vídeos, aprendi algumas técnicas para melhorar a autoestima. Me senti péssima durante a gravidez inteira. Quase não me olhei no espelho e me senti mal o tempo todo por estar grávida, mas decidi que isso será passado.

Nos dias seguintes, passei a caminhar pela rua bem devagar, observando as pessoas, o clima, as conversas ao redor. Tudo isso foi combinado com horas e horas deitada na minha cama, lendo algum livro e descansando para ter forças para um parto normal.

Comecei a acordar mais cedo do que o habitual e a repetir frases positivas na frente do espelho. Não sei se acredito muito nisso, mas me sinto bem melhor. Consigo assistir a filmes com a minha mãe, finalizar o meu cabelo, cuidar da minha pele, e sair com o meu pai. Consigo voltar a sentir alegria.

Hoje é o dia da foto dos oito meses e, pela primeira vez, estou nervosa. Todos os meses, desde o quarto, Ítalo, Yara, meus pais e eu nos juntamos e tiramos uma foto. Depois, eu revelo e colo em um álbum, escrevendo a data à mão embaixo da foto e destacando os meses em letras grandes ao lado. Fazemos isso todo mês. Mas não foi fácil convencer Ítalo. Só depois que Yara pediu, ele cedeu e acabou virando algo normal. Agora é ele quem lembra primeiro que a data está chegando.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora