9ª dose

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E achando que eu estava fazendo o certo, me enfiei num mar de erros

Passo o dia inteiro conversando com Yara. Ela é gentil com as palavras e, mesmo sem a conhecer pessoalmente, sinto uma confiança imensa. Parece que ela, de alguma forma, me entende. É como se tivesse vivido o que estou vivendo.

Em todas as mensagens, Yara insiste para eu ir morar com eles. Não sei explicar essa forma peculiar de resolver a situação, mas eu sempre troco de assunto a fim de não pensar demais nisso.

Minha casa está em um clima péssimo. Meus pais não brigam comigo, mas perguntam o tempo todo o que irei fazer quando o bebê nascer. Uma pergunta se arrasta com outra e, quando percebo, estou há mais de uma hora tentando explicar aos meus pais que eu não sei o que vou fazer. Eu gostaria de ter uma resposta madura e responsável, mas eu não tenho.

Lembro das mensagens de Yara. Sempre me passando confiança e um cuidado mesmo à distância. Lembro de uma em especial: "Gostaria que você estivesse aqui. Eu cuidaria de você como uma netinha. Não gosto quando você diz que está mal e eu nem posso estar perto, minha querida.". Fico pensando nessas palavras todos os dias.

Em algum momento da minha vida, eu deixei de acreditar nas coisas em que acreditava. Nunca fui o tipo de pessoa que se encanta facilmente ou sonha com contos de fada. Nunca me importei de estar solteira enquanto todo mundo está namorando, tampouco com aquelas cenas românticas de amor que aparecem em todos os filmes. Mas aí eu conheci Ítalo e engravidei dele, mudando toda a minha vida.

O clima estava pesado na minha casa. Meu pai começou a ficar estressado, andava constantemente de cenho franzido, murmurando sobre contas e preocupações com o futuro. À noite, eu podia ouvi-lo discutindo com minha mãe na cozinha, suas vozes abafadas, mas carregadas de tensão. E minha mãe começou a me perguntar com mais frequência sobre meus planos para quando o bebê nascer.

Passei a faltar mais aulas do que pretendia, incapaz de me concentrar em qualquer coisa que não fosse o turbilhão de pensamentos sobre o futuro e o que vou fazer. Cada falta se transformava em mais uma discussão, mais um lembrete de como eu estava decepcionando todos. Meus pais não gritavam, mas a decepção e a mágoa eram palpáveis em cada olhar e palavra.

Eu me sentia presa, sem saber como consertar as coisas ou dar as respostas que meus pais esperavam. Eu não estava aguentando tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, então, no auge da minha irresponsabilidade e desespero, tomei uma decisão.

— O que você está fazendo aqui? — Ítalo me olha descrente, apontando para a mala. — O que significa isso?

Não imaginava que Ítalo estaria em casa nesse horário. Não sei muito bem o que ele faz da vida, mas, com toda a sinceridade do mundo, eu não sabia que logo ele abriria a porta.

— Julia!

Yara entra toda empolgada na sala me dando um forte abraço. Ela é ainda mais baixinha que imaginei. Adotou os cabelos brancos e tem o mesmo sorriso lindo e confortante da foto do Facebook. Ítalo ainda me fita sem entender nada, enquanto sua avó coloca a mão na minha barriga ainda invisível.

— Boa tarde! — digo, sem saber onde enfiar a minha cara.

Imaginei que ela contaria a ele sobre a minha mudança, mas pela a sua cara; ele só ficou sabendo agora. Não sei se foi uma boa ideia vir, mas agi por impulso. Como sempre. Senti tanto conforto nas frases de Yara, nas noites em que eu estava perdida e ela me acalmou que eu não pensei muito bem. Minha casa já não parecia um bom lugar para ficar, e ela me ofereceu pela a milésima vez a dela, e eu aceitei.

— Porra, alguém pode me responder o que isso significa?

Não quero falar nada, pois não sei como unir as palavras e explicar que eu pirei e agora estou aqui. Espero Yara dizer algo.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora