33ª dose

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Estou parada no meio da ponte, e cada um está de um lado esperando que eu decida com quem vou seguir.

Passei a noite toda pensando em como vou contar para o Bernardo tudo o que estou sentindo. Mesmo não estando em um relacionamento com ele, sinto a responsabilidade afetiva de dizer que, embora esteja gostando de estar com ele e não queira que isso termine, ainda tenho sentimentos por Ítalo e acredito que vai levar um tempo para eu superar isso.

Não acordei me sentindo muito bem. Fiquei virando de um lado para o outro na cama e fiquei tão nervosa com o mal-estar que decidi marcar uma consulta com a Dra. Morgan. Ela explicou que não vou me sentir muito bem nos próximos dias, pois estou no fim da gravidez. Hoje completo trinta e uma semanas. Tento me familiarizar com as contas, mas acabo falhando às vezes.

Ítalo está estranho hoje. Apesar de ter me acompanhado na consulta e dito poucas palavras sobre também estar preocupado comigo, ele não comenta mais nada. Na sala de espera, ao invés de ficar balançando as pernas com sua incapacidade de esperar um pouco, ele ficou tamborilando sua coxa sem manter o olhar em mim. Quando eu falava algo com ele, apenas respondia algo rápido ou dava os ombros, sem sequer olhar para mim.

Quando saímos da consulta, ele fez questão de pegar um ônibus que não passa perto da minha casa, me deixando sozinha no ponto esperando por outro.

Na semana passada, tive contrações de Braxton Hicks. Fiquei apavorada quando comecei a sentir falta de ar, um pouco de dor e uma pressão no abdômen. Estava na casa de Ítalo e, apesar de ele estar mais nervoso que eu, conseguiu ligar para a Dra. Morgan. Ela nos explicou que isso não é anormal e que meu corpo está se preparando para as contrações verdadeiras. Como as contrações não aumentaram em frequência nem intensidade, eram apenas as contrações de treinamento. Meu corpo estava se preparando para o parto real, como se eu não estivesse surtando com tudo isso.

Sabendo que ninguém estaria em casa quando eu chegasse, convidei Bernardo para assistir a um filme comigo, na esperança de reunir coragem para conversar sobre meus sentimentos. O ônibus demorou mais do que o esperado para fazer o trajeto, e quando finalmente cheguei, um carro verde chamativo já estava estacionado em frente ao meu portão. Bernardo estava encostado nele, mexendo no celular. Antes mesmo que eu o chamasse, ele bloqueou a tela e se virou, me envolvendo em um abraço tão reconfortante que quase me fez esquecer da conversa séria que precisávamos ter.

Desde que acordei até agora, tenho sentido dores nas costas. A Dra. Morgan disse que não preciso me preocupar, pois isso é normal nesta fase da gravidez. Parece que tudo se tornou muito comum no final da gestação. A paz que eu sentia antes deu lugar a dias inteiros de dor, como se eu estivesse prestes a dar à luz a qualquer momento. No início do dia, as dores eram apenas incômodos suportáveis, mas agora, à noite, elas se intensificaram tanto que não consigo conter meu nervosismo.

— Está tudo bem?

Estou suando e minhas mãos estão cerradas em punho. Tento manter a calma, mas as dores são tão fortes que sinto meu corpo tenso e meu coração acelerado. O pensamento de que posso estar entrando em trabalho de parto só aumenta minha ansiedade.

Tento seguir os conselhos da Dra. Morgan e respirar profundamente, soltando o ar lentamente. Mas parece que nada alivia a intensidade das contrações. Mesmo assim, faço um esforço para parecer tranquila diante de Bernardo, que está ao meu lado assistindo ao filme. Minto para ele dizendo que está tudo bem, mas meu rosto não consegue acompanhar minha mentira.

Quase uma hora depois, as dores se intensificam, tornando-se mais fortes e frequentes. Sinto uma cólica persistente e uma pressão incomum, como se meu corpo estivesse se preparando para algo maior. Uma sensação de urgência começa a se instalar em mim, apesar de saber que ainda não é o momento certo para o parto. Estou com muito medo.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora