43ª dose

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Yara nos confidenciou que já sabia da sua doença há meses, mas sabia que o tratamento não levaria à cura e resolveu não prolongar seu tempo

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Yara nos confidenciou que já sabia da sua doença há meses, mas sabia que o tratamento não levaria à cura e resolveu não prolongar seu tempo. Ítalo gritou que era egoísmo e que ela não tinha o direito de achar que não daria certo sem ao menos tentar. Disse que ela sempre o incentivou a arriscar e agora desistiu antes de começar. Yara ficou quieta por um tempo, mas disse que já era tarde demais para tentar algo e que a quimioterapia a deixaria muito mal e não a salvaria, então escolheu viver normalmente esses últimos meses até a doença cansá-la. Entendi que a doença já está avançada, mas a gente sempre quer que alguém tente mais. O egoísmo talvez seja da minha parte e de Ítalo.

— E como eu vou ficar sem você? — ele grita. — Rômulo foi embora, você quer me deixar também?

— Ôh meu amor, isso não é questão de querer. — ela diz.

Conta que ficou feliz quando descobriu a minha gravidez e imaginou que Ítalo teria alguém quando ela partisse. Diz que por isso queria tanto que ficássemos bem e que estava na cara que gostávamos um do outro. Escuto tudo calada. Não quero entrar nesse assunto. Não quero imaginar que Yara já sabia que estava doente e, ao invés de se cuidar, ficou tentando criar uma família para deixar para Ítalo. Me julgo por todos os sentimentos que estou sentindo.

Ela conta um grande segredo: foi ela quem chamou Rômulo para voltar. Diz que queria alguém da família para ficar com Ítalo quando ela não estivesse mais aqui, então imaginou que Rômulo já é adulto o suficiente para poder fazer companhia ao filho.

— Ele não sabia o que eu estava pretendendo — Yara diz, cansada. — Pensei que ao te conhecer, ele te amaria tanto que ficaria aqui, meu filho.

Ítalo ignora o fato de Yara ter chamado Rômulo para cuidar dele. Quando ele começa a falar sobre casos que leu, cura, dietas, remédios que estão testando e tudo mais; saio do quarto, pois aquela conversa não é para mim. Jessica chega à casa de Ítalo minutos depois, aproveitando o seu dia de folga para ficar aqui.

Ítalo entra no quarto do Valentim e cumprimenta Jessica, que está dobrando umas roupas que minha mãe passou. Já contei tudo o que Yara disse para ela, então quando Ítalo diz que é egoísmo e que Yara não tinha esse direito, Jessica diz:

— A doença já está avançada. Ela quer viver sem vômitos, dores e enjoos pelo menos por um tempo. Trazer Rômulo foi uma péssima ideia? Sim! Mas é o filho dela! Ela acreditou que daria certo.

— Ela não é da sua família, então para de se meter!

Fico quieta. Sei que não é a minha hora de falar. Novamente essa conversa não é minha. Tenho ficado mais quieta do que o normal. É muita coisa para pensar.

— Você precisa parar de agir na ignorância quando as coisas não saem do jeito que você quer. Você faz isso com a Julia, com a sua avó, comigo e o próximo? Valentim? Se eu fosse você, aproveitaria esse tempo e curtiria a vida ao lado da sua avó, cara! Ela fez tudo pensando no seu bem. Sem ela, você ainda seria aquele babaca que só ficava em festas enchendo a cara ou jogando futebol enquanto a Julia passava por tudo sozinha. Quem dera eu tivesse a chance de passar a porra de um tempo com o meu pai.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora