Entre o milagre do nascimento e a tristeza de uma doença, estou no meio, buscando forças para continuar lutando.
Valentim nasceu dia oito de dezembro.
As primeiras noites em casa foram um misto de emoção. Ao mesmo tempo que eu estava muito feliz com o meu bebê pequenininho em meus braços, eu tentava entender tudo o que estava acontecendo com o meu corpo, e também estava aprendendo a cuidar de um recém-nascido que necessitava extremamente de mim e de Ítalo.
Mesmo com os olhos pesados de sono, aproveito cada segundo como se fosse algo muito precioso, pois realmente é. Me sinto exausta e vulnerável com essa nova fase da minha vida, mas levantar e olhar o Valentim dormindo tão sereno, como se o mundo fosse bom o bastante para ele, é o que me dá forças para acordar no dia seguinte com disposição de aguentar uma nova semana. Me sinto completa agora. É uma sensação boa que eu quero sempre ter.
Quando meus pais viram Valentim tão pequeno, enrolado em um cobertor no hospital, toda aquela pressão acabou. Meus pais começaram a chorar enquanto ninavam meu filho, e eu fiquei gravando o primeiro encontro dos amores da minha vida. Minha mãe só sabia me olhar e repetir o quanto ele era lindo. Meu pai abraçou Ítalo e chorou igual a uma criança no ombro dele, dizendo o quanto estava apaixonado pelo Valentim. Eu chorei também com aquela cena. Ver as duas pessoas que eu amo emocionadas por eu ter colocado um serzinho tão incrível e indefeso no mundo me fez entender que agora eu conheço o que é amor de verdade. Amo meus pais mais do que tudo, mas amar o meu filho é, de longe, a coisa mais forte que fiz na vida.
Ao ver Valentim tão pequenininho, vestido com um conjunto azul-marinho, Yara prometeu que faria de tudo para ficar mais tempo aqui, cuidando de sua família — e isso me incluía, já que ela disse que sou como uma filha e que me ama. Ítalo ficou tão feliz que foi para a cozinha preparar um jantar seguindo uma dieta maluca que ele viu na internet. Digamos que até o arroz, algo básico que ele deveria saber fazer, ficou um horror. Sorrateiramente, Yara e eu jogamos tudo fora, mas não falamos nada, embora Ítalo tenha encontrado a sacola perto da lixeira do vizinho. Nunca fui boa em esconder nada. Isso vale tanto para comida quanto para sentimentos.
— Vó, hora da foto!
Eu sorri quando Ítalo mudou o nosso "estúdio" para o quarto de Yara. Onde estaria minha foto de nove meses, vai entrar essa. Meus pais estão aqui como em todas as outras fotos. Apesar do semblante doente de Yara, dá para ver uma alegria nítida em seu sorriso. Ao invés de abraçar minha barriga gigantesca, Ítalo está atrás de mim com as mãos nas pernas curtinhas de Valentim enquanto o seguro firme. É uma bela foto e uma bela vida.
Meus pais foram embora cedo. Ao que tudo indica, eles vão jantar fora. Algo que não acontecia com frequência, mas que me deixou muito feliz ao ver que eles saíram da rotina e estão incrivelmente com um ar mais jovial e apaixonado. As bochechas da minha mãe brilham cada vez que ela sorrir largo olhando meu filho se mexer no berço. Consigo ver o sorriso do meu pai por trás daquela barba grande contando as histórias de quando eu era um bebê assim como Valentim, e mostrando o álbum de fotos que estava há muito tempo guardado no fundo do armário.
Fiquei por vinte minutos tentando fazer o Valentim dormir. Quando finalmente consegui, respirei fundo, soltando o ar aos poucos enquanto esticava os braços, me alongando. Ele adormeceu após passar de colo em colo o dia todo. Deixei ele em seu berço e fui até o quarto de Ítalo. Não voltamos a dormir juntos, nem estamos oficialmente juntos ou nos beijamos novamente. Nossa vida é inteiramente dedicada a Valentim e Yara, e eu gosto assim. Está tudo muito calmo.
Sei que eu voltaria para a minha casa e cheguei a arrumar algumas coisas para colocar na sala e conseguir um espaço no meu quarto para Valentim, mas meus planos mudaram. Não quero deixar Yara aqui. Quero passar todos os segundos com ela e quero que ela passe todos os segundos com o meu filho. Não sei o que vai acontecer, mas estou me preparando para tudo.
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Quando estiver sóbrio (COMPLETO)
Teen FictionAdolescência pode ser a fase mais divertida da vida, mas, quando algo sai fora do programado, ela se transforma em algo bem difícil. Julia não sabia se deveria acreditar ou não em amor à primeira vista, mas bastou uma única vez para ela pensar em Ít...