3ª dose

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Não sei o que fiz de tão errado, mas comecei a pagar por isso.

Dizem que as mulheres sentem quando estão grávidas bem antes de fazer qualquer teste. Não sei se isso é um superpoder materno, mas aqui estou eu trancada em meu quarto sabendo que foi um erro ter saído de casa aquele dia.

Se eu contasse para alguém a forma como conheci o ser que contribuiu 50% para o meu desespero, ela iria rir ao invés de achar romântico assim como eu achei.

É inacreditável como só pensamos calmamente nas coisas quando elas acontecem. Eu não deveria ter me apaixonado por Ítalo, tampouco deveria ter ido àquela festa. Eu não deveria ter feito tantas coisas, mas agora não adianta mais sofrer pelo passado. Nada vai mudar.

Sou uma boa pessoa, eu sei disso, mas agora, deitada em minha cama, só consigo imaginar que a minha vida estaria melhor sem essa sensação de ter algo dentro de mim. E eu espero muito estar enganada.

A casa de Jessica fica a vinte minutos da minha. Como sei que sua irmã está em casa e por isso não terei liberdade para surtar, envio uma mensagem dizendo que é urgente e que não sei como lidar. Ela vem na mesma hora, pois é a pessoa em quem posso contar para tudo.

- Você está grávida? Como assim, Julia?

- Shhh fala baixo, por favor.

Enquanto a minha amiga berra em meu quarto, fazendo eu quase cair da cama pra trancar a porta, meu coração bate descompassadamente. Ser discreta não faz bem o tipo de Jessica e eu não vou conseguir explicar à minha mãe se ela escutar tudo.

- Vamos recapitular tudo aqui, amada. Você disse que usou camisinha e toma pílula, tem certeza que está grávida?

Dou de ombros, pego o travesseiro e tampo o meu rosto por alguns segundos.

- Estava tão ocupada com a escola que não liguei quando a minha menstruação veio bem fraquinha em maio, e agora em junho recebi uma notificação dos aplicativos que deveriam ser atualizados e lá estava o controle do meu ciclo na lista. Não editei junho e em maio só estava um dia marcado. - Paro um pouco para respirar. Continuo. - Transei com Ítalo no final de abril.

Coloco a mão no rosto e respiro fundo. Não pode acontecer isso comigo, meu Deus. Eu tinha tanta coisa para fazer na escola que eu não pensei em mais nada. Dia vinte e cinco de maio ainda foi o aniversário de Jessica. Fizemos uma festa pequena na casa dela e, mesmo sendo pequena, deu o maior trabalho. Eu não lembrei que deveria menstruar.

- Calma! Não é só por causa de gravidez que a menstruação para - Jessica para e pensa um pouco. - Bom, eu acho que não. Você não tem ginecologista marcado para esse mês? Então, acho que estresse pode parar a menstruação. Você fez tudo certinho. Não pira agora.

Jessica tem razão. Li um artigo de medicina recentemente que disse que ausência de menstruação não significa apenas gravidez. Pode ser estresse, medicamentos, exercícios em excesso, etc. Não tive nenhum sintoma marcante. Não sei se eu deveria estar aliviada, mas estou.

- Então não é gravidez. Posso estar entrando na menopausa. - Tento fazer uma piada, mas falho. Por minha sorte Jessica rir e alisa a minha mão.

- Ok, vamos fazer assim - ela puxa do bolso traseiro de seu short jeans uma nota de dez reais. - Vamos comprar um teste! É óbvio que vai dar negativo, mas sei como você fica quando cisma com algo.

Abro a gaveta da minha pequena cômoda de madeira ao lado da minha cama e pego vinte reais amassados que joguei lá uma semana atrás.

Fomos caminhando até a farmácia mais próxima. Minhas mãos suavam e meu semblante nervoso anunciava que eu estava pirando. Passei por três mães carregando seus bebês. Quando estamos em dúvida sobre algo, parece que isso surge em todos os cantos. Ou foi eu que comecei a reparar mais nelas agora que estou quase com uma carteirinha do clube de mães na mão.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora