Quando estiver sóbrio (COMPLETO)

10ª dose

Se a gente se der mal, tudo fica mal também.

Confesso que foi extremamente desconfortável dormir ao lado dele. Foi a primeira vez, e apesar de ele mal se mexer, a sensação de compartilhar a cama com Ítalo é simplesmente horrível. Para ser sincera, é horrível porque fui incapaz de odiar a presença dele ao meu lado. Traí minha própria mente quando, em algum momento da madrugada, me senti confortável de estar ali naquela situação. Fui contra todo o ódio que venho sentindo em relação a ele, e sei que eu não deveria agir assim.

Enrolei uma coberta e a coloquei no meio da cama para demarcar os lugares. Não quero forçar uma intimidade que não temos. Pelo menos, não quero fazer isso outra vez. Ítalo, com toda a sua falta de vergonha, tira sua bermuda como se fosse a coisa mais natural do mundo e, sem me olhar, deita na cama apenas de cueca. Uma peça que eu esperava muito que fosse decepcionante, mas em todo o seu clichê, Ítalo está vestindo uma cueca branca da Calvin Klein.

Para piorar toda aquela situação e aumentar ainda mais o meu arrependimento por ter saído de minha casa e mudado para um quarto de um quase desconhecido, o corpo de Ítalo é incrível. Por sorte, ele se cobriu e consegui parar de imaginar o corpo dele completamente nu sobre o meu.

Ai, Julia, por que você está pensando nisso? —  brigo com a minha consciência.

Pelo menos, ele respeitou o espaço, não se jogando em cima de mim ou me empurrando da cama. Com todos os seus defeitos, Ítalo consegue ficar sem se mexer enquanto dorme.

De madrugada, recebi seis mensagens de Jessica. Em todas, ela perguntava se é verdade que estou morando com Ítalo e se eu tinha ficado com ele novamente. Ficar com ele novamente não é uma possibilidade a considerar. Ele pode até ser bonito, mas já testemunhei muitas coisas. Ele é completamente irresponsável, leva tudo na brincadeira e acredita que a vida se resolve apenas com um sorriso.

Ítalo Moraes é só um rostinho bonito e nada de cérebro. Deveria ter percebido no primeiro dia que ele cheirava a problema e não a loção pós-barba.

Acordo às oito da manhã. Ítalo está dormindo ao meu lado e, por um breve momento, a atração que eu sentia por ele voltou. Não sei o que está acontecendo comigo, mas toda vez que o olho, eu esqueço um pouco o desastre que ele é.

— Por que me olha assim? — diz ele, num resmungo, abrindo apenas o olho esquerdo.

Mal percebo que estou encarando-o fixamente. Sinto vergonha por ter sido pega, mas tento disfarçar.

— Você baba!

É mentira.

— Eu não... —  Ele passa a mão na boca e faz uma careta. — ...eu não babo.

— Você que pensa.

Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, levanto da cama e vou até o banheiro para escovar os dentes. Ítalo vem logo atrás, reclamando e dizendo repetidas vezes que não babou e nunca babaria.

—  Tá bom! — digo rindo, com a boca toda suja de pasta de dente.

Como se fosse um comercial, Ítalo chega perto de mim na pia e escova os dentes ao meu lado. Se não fosse o fato de que nós não somos um casal feliz e nem mesmo queria estar dividindo o pequeno banheiro do quarto dele, a Colgate nos contrataria. Ele é lindo até com a boca toda suja de pasta. Gostaria que ele fosse um pouquinho feio, mas sinceramente, foi a beleza dele que me fez apaixonar assim que o vi.

Seu cabelo liso está um pouco bagunçado por causa do travesseiro. Chego um pouco para o lado, quase encostando na porta do banheiro, tentando manter uma distância segura entre nós e seu corpo perfeito. Ítalo ainda permanece de cueca, e eu tento brigar com meus olhos, mas eles insistem em observar cada parte do corpo dele, enquanto minha mente termina o trabalho, imaginando-o sem a única peça que o cobre. Queria não me derreter por ele, mas falho.