39ª dose

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Sinto que te proteger é algo que preciso fazer, mas não deveria.

Antonella mandou uma mensagem no meu WhatsApp para confirmar a próxima sessão. Aproveitei que foi ela quem me chamou e pedi que fosse com calma ao tocar no assunto de Rômulo. Não sei o que deu em mim, mas eu precisava que a terapia voltasse a ser sobre Ítalo e eu. Não estava me sentindo confortável com tudo o que acontecia e nem com as reações tristes de Ítalo.

Meu coração estava apertado e eu não conseguia me livrar da sensação de que esse pedido poderia parecer exagerado ou até mesmo imaturo, mas, com o que havia acontecido na noite anterior, eu precisava de algum controle. Ítalo bebeu o suficiente para parar no hospital e tomar medicamento na veia. Eu sabia que o que eu estava pedindo poderia parecer que eu estava tentando forçar a situação, mas não consegui aceitar uma sessão sabendo que falaríamos sobre o que levou ele a esse ponto.

Antonella foi amorosa como sempre e aceitou, mas me respondeu algo que me fez pensar se estou agindo certo ou não:

[Antonella: Entendo perfeitamente sua preocupação em proteger Ítalo, e isso é algo muito louvável. No entanto, às vezes, a proteção pode acabar impedindo que certas questões importantes se resolvam. Prometo que não vou abordar o assunto de forma direta. Pode ficar tranquila. - 12:20]

Bernardo e outros amigos ficaram no hospital com Ítalo. Por causa da falta de disposição de Yara e suas dores repentinas, todos resolveram que cuidariam do amigo. Fiquei sabendo no dia seguinte o que aconteceu.

[Bernardo: Sei que você se preocupa, e também sei que ele não vai te contar nada, então... Ítalo exagerou na bebida e paramos com ele no hospital. Agora tá tudo bem, mas ele não tá levando tudo na boa como fala. Ele nunca passou mal assim e olha que ele sempre encheu a cara. - 15:03]

Fico conversando com Bernardo durante meia hora. Ele diz que precisa resolver algumas coisas e que assim que tiver um tempo, conversa mais comigo. Antes de se despedir, ele diz que sabe que eu não tenho nada a ver com a vida de Ítalo, mas que, por estar esperando um filho dele e viver tão envolvida em tudo o que acontece, merecia saber o que houve. Agradeço e mando mensagem para Jessica. Não sei como lidar com tudo isso agora.

[Julia: E se eu procurar alguém especializado pra ajudar Ítalo, o que você acha? Antonella é um amor, mas eu não sei se ela vai conseguir fazer com que ele se abra. O pai dele voltou e ele está na merda - 15:40]

[Jess: Você não tem que lidar com nada! Quem foi abandonado foi Ítalo. Ele que tem que procurar ajuda, Julia. Continue focando em você e no nosso bebê - 15:42]

Jessica é um amor, mas não consigo ser aquela que larga de mão uma pessoa que precisa. As opiniões dela são influenciadas pelo o fato de ela não gostar de Ítalo. Ela diz que não podemos ajudar quem nunca pediu ajuda e eu sei que está certa, mas agora não é apenas sobre mim.

Recebo mais algumas mensagens de Jessica e seriam ótimos conselhos, mas ela não está esperando um filho de Ítalo. Tudo de ruim vai respingar no Valentim e sou eu que terei que lidar com todo o caos que aparecer. Não tenho nada a ver com a vida de Ítalo, mas eu tenho a ver com a vida do nosso bebê e não pretendo deixar o pai dele se afundar assim. Jessica não sabe o que estou passando. Eu conto, mas ela não consegue se colocar no meu lugar quando digo o que houve. Não sei mais se é uma boa ideia contar as coisas para ela, mas eu não tenho mais amigas. Fico limitada nas opções. Será que é por isso que as amizades acabam quando alguém vira mãe? É tudo tão complicado.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora