21ª dose

1.9K 201 281
                                    

No teatro da vida, queria atuar na cena onde não te amo mais.

Começamos a organizar as coisas para a chegada do bebê. Acho que já adiamos demais. Ao lado do quarto de Ítalo, tem um cômodo que eles usam como "depósito", e Yara cedeu aquele lugar. Questionei o motivo de não ter cedido aquele espaço para mim, mas ao entrar e ver a bagunça, entendi de imediato. Levaríamos semanas para arrumar tudo. Juntar todas as coisas em caixas e se desfazer ou guardar na varanda ou parte de trás da casa. Seria um trabalho pesado.

Cada dia que passa, eu perco mais roupas e meu bebê se mexe com mais frequência. Depois que fiz cinco meses, minha barriga esticou de tal forma que as dores nas costas começaram a fazer parte da rotina. No entanto, mesmo com esses desconfortos, sinto que estou mais preparada para receber meu filho.

Yara tem sido uma grande ajuda, e aos poucos, consegui aceitar a gravidez e sair de casa para enfrentar o mundo lá fora. As conversas que nós temos, o modo como ela não romantiza a gravidez na adolescência por ter passado por uma, a forma como me inclui na família; tem sido algo tão bom. Até mesmo postar fotos nas redes sociais se tornou algo mais fácil e natural. Estou com medo, mas, ao mesmo tempo, sei que estou pronta.

Ítalo continua empolgado e agora resolveu que devemos procurar fotos para inspiração do quarto na internet. Contratar alguém para decorar não faz parte do nosso orçamento de zero reais, então tudo ficará nas nossas costas, com a bela ajuda de Jessica. É reconfortante saber que estamos juntos nesse processo, e a ideia de decorar o quarto do nosso bebê com as próprias mãos só aumenta a expectativa e a alegria pela chegada desse momento tão especial.

— Você quer a parede de qual cor? — ele pergunta.

— Verde bem clarinho.

— Pensei que fosse dizer azul.

— Clichê demais!

Ele ri dizendo que estou implicando com ele por seu quarto ser azul, mas me defendo dizendo que falei sem querer. Vi algumas fotos no Pinterest e o que mais me chamou atenção foram os quartos da cor verde clara com tema de animais. Gostei dos estilos e variações.

— Aposto que o seu quarto é rosa — retrucou.

— Desculpa estragar os seus sonhos, mas meu quarto é cinza — digo, como se aquela cor tivesse mais letras. — Meu armário é lilás, então escolhi algo clean.

— Preciso ver isso — ele diz, rindo.

— É só ir lá em casa — digo, e me arrependo de como aquilo soou.

— E eu vou — declara sem tirar os olhos do computador.

Ficamos um tempão vendo as fotos e salvando algumas em uma pasta denominada "Coisas do bebê". É sexta-feira à noite. A festa em que trabalhei havia terminado às dez. Vantagem de festa infantil.

Ítalo se levanta sem dizer nada e eu o fito. Já havíamos terminado a pesquisa de hoje. Estávamos cansados de olhar tantos quartos de bebê.

— Vai onde? — pergunto, curiosa.

— Tem uma festinha que está rolando aqui perto. Vou ver se encontro alguém interessante o bastante para eu beijar.

Ele fala rindo como se estivesse batendo papo com um amigo. Confesso que senti uma pontada de ciúme, mas não deixei transparecer. Afinal, não sou nada dele. Nem deveria me importar. Estamos indo bem. Não quero briga e sei que ele tem o direito de viver a vida normalmente. Ele continua solteiro. Eu também.

— Boa sorte! — Tento soar o mais natural, e até consigo.

Assim que ele sai, pego meu celular e vejo que há três mensagens de Jessica. Em todas elas, ela pergunta se eu quero ir a uma festa que está acontecendo na rua. Considerando que agora moramos no mesmo bairro e tudo acontece no Morro do Riacho, aposto que é a mesma festa para a qual Ítalo está indo.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora