30ª dose

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De tudo o que venho descobrindo, o que mais me impactou é que a amizade também é uma forma de amor.

Apesar de eu estar muito bem, tive que encontrar com Ítalo mais algumas vezes. As consultas passaram a ser mais frequentes por estar na reta final da gravidez, e os preparativos para a chegada do bebê se tornaram mais corridos, já que gastamos nosso tempo brigando. Nosso relacionamento era uma montanha-russa emocional, alternando entre momentos de tensão e breves instantes de paz. Agora estamos indo bem.

Fiz a ultrassonografia morfológica, e apesar de estar ansiosa, meu filho está forte e saudável, aliviando um pouco da minha preocupação. Apesar de ficar extremamente nervosa, a médica me tranquilizou, garantindo que meu filho não apresenta nenhum problema de saúde. Devo confessar que é um alívio saber que, apesar de todas as dificuldades e brigas, meu bebê está bem. Fiquei com muito medo de ele ter algo por culpa minha e de Ítalo. Não estava sendo bem uma gravidez calma.

Depois da consulta, fomos ao shopping juntos e compramos algumas roupas para o nosso filho. Bernardo comentou que trabalha em um shopping, mas, quando questionei se era esse que todo mundo frequenta, o mais popular, ele me disse que era um outro um pouco longe, então não encontraria com ele hoje.

Compramos mais peças do que já havíamos comprado usando o salário de Ítalo e um pouco do que juntei trabalhando nas festas. Faltam apenas dois meses e tudo deve estar arrumado. Até agora, temos poucas roupas: alguns presentes e algumas peças que ganhamos, mas só o básico. Vamos precisar comprar muito mais.

Ítalo e eu não brigamos em nenhum momento. Ele tocou nas roupas, viu os detalhes, me perguntou se eu também tinha gostado e foi incrível o tempo inteiro. Não sei se ele levou o meu conselho a sério sobre apenas imaginar o nosso filho na roupa ou escolher o que acha bonito, mas ele não foi um idiota. Aliás ele foi bem diferente do que imaginei.

— Será que ele vai nascer desse tamanho? — Ele levanta um body azul tão pequeno que quase tremo em pensar no meu bebê nesse tamanho. — Que caralho é "RN"?

Eu rio alto não me importando que estou em uma loja. A cara que Ítalo fez mostrando que realmente não sabia o que significava "RN" me deu vontade de gargalhar.

Naturalmente rico. Só inverteram as letras. Não podemos comprar. É só para os ricos — Tento falar séria, mas logo estou gargalhando. — É recém-nascido, Ítalo. São as peças menores.

— Há-Há, você é muito engraçadinha!

No fim da tarde, Ítalo insistiu que deveríamos terminar de comprar os móveis do quarto e escolher o nome do nosso filho. Eu sei que ele está certo quanto a isso, mas não queria ficar muito perto dele. Está tudo bem e eu não queria correr o risco de brigar. Ainda não brigamos. Desde o dia que voltei para a minha casa quase um mês atrás, mas, lembrando do pouco tempo que temos, decido ir direto do shopping para a casa dele. Não podemos adiar mais nada.

— Já pensou em um nome? — ele questiona, enquanto procura um berço na internet.

— Não.

Mentira. Pensei em alguns, mas descartei todos, sempre encontrando algum defeito. Ítalo assume que não conseguiu pensar em nada e continua digitando algumas coisas no notebook.

— Por que você tem notebook e computador?

Ele ri com a minha pergunta e dá de ombros.

— Tem coisa que eu não gosto de fazer no computador aí eu faço no notebook, e jogo roda melhor no computador.

— Mas você tem videogame também — lembro.

— Tem jogo que roda melhor no computador — ele ri. — Sei lá, eu mexo com computador o dia todo e tem bastante tempo que faço isso, então só fui comprando as coisas. O computador eu montei comprando uma peça ou outra dos clientes. — Ele me olha. — Tu é curiosa pra caralho. Quero ver se o nosso filho puxar a você.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora