38ª dose

1.1K 117 96
                                    

Para provar que não está magoado, Ítalo voltou a ser o mesmo de antes. Na noite anterior, foi à balada com seus amigos e postou o mesmo vídeo idiota de sempre, mas agora sem nenhuma mulher. Até Bernardo estava virando uma garrafa de vodka. Sua ironia e mau humor voltaram também e, por mais que ele tenha me irritado a gravidez toda por ser assim, gostei do retorno do Ítalo Moraes rabugento e sem filtro.

Apesar da volta do Ítalo, que conheço muito bem, não há brigas. Às vezes ele vai a minha casa e me deixa algum lanche. Fica ali me rodeando, perguntando sobre o nosso filho e falando algumas coisas que tem visto para comprar. Ainda não falamos sobre a questão do quarto, mas venho pensando em me desfazer de algumas coisas, levar outras para a sala, para ter um espaço para colocar o berço do meu filho. Não tenho um quarto grande como o de Ítalo, mas tenho que me virar com o meu mesmo. Não tenho intenção de voltar a morar com ele.

Por razões maiores, voltamos com a terapia. Yara insistiu em tentarmos de novo como se ela já tivesse enfrentado algo assim e acabou dando certo, não sei. Ítalo reclamou muito, mas eu consegui fazer com que ele aceitasse. Sem precisar que Yara peça dessa vez.

Todas as vezes, fiz questão de ser atendida primeiro, mas dessa vez eu quis que ele entrasse na minha frente. Sinto que ele precisa falar com alguém, e sinto que também preciso, mas ele precisa muito mais. Não está nada fácil.

— Como se sente com a volta do seu pai? — Antonella pergunta com uma voz suave.

Não sei se é antiético, pois não sei muita coisa sobre terapia alternativa. Apenas sei que se fosse com um psicólogo, não poderia fazer o que ela está fazendo, mas é alternativa, então, quando ela me entrega um tablet dizendo que está implementando imagens ao seu método e que vai começar testando comigo e Ítalo, eu não reclamo e nós dois assinamos uma permissão. A sala é gravada e eu continuo ouvindo tudo pelo fone.

Antonella cruza suas mãos em cima de seu joelho. Seu coque está bem feito, sem nenhum fio fora do lugar. Ela encara Ítalo e agora eu encaro também.

— Chame de Rômulo apenas — Ítalo diz ríspido e ela balança a cabeça gentilmente mostrando compreensão. — É como se ele não estivesse ali. Normal!

— Entendo que parece que não está presente, mas ele está ali. O que mudou para você?

— Nada!

— Entendo. — Ela se mexe na cadeira. — Muitas vezes... negamos algo na nossa vida como uma forma de nos proteger dos sentimentos — ela gesticula, dizendo tudo de uma forma bem calma. — Acha que vai mudar?

É óbvio que ela sabe que algo mudou. Não precisa ser uma profissional para perceber isso. Ítalo diz que não vai deixar que nada mude e ela insiste. Pergunta se ele acha que Rômulo está arrependido pelo que fez. Sinto que ela expressa isso como se Ítalo tivesse sido simplesmente deixado de lado por um tempo, como se fosse apenas um incidente após o horário escolar. Ela não trata a situação com a gravidade que tem. Não consigo entender como isso vai dar certo.

— Óbvio que não.

— Às vezes lidar com mudanças sem um aviso prévio pode ser muito doloroso. — Ela fica quieta um pouco, esperando Ítalo dizer algo. Como não vem, ela continua: — Você já sentou e conversou com ele?

— Pensei que essa terapia fosse para eu ficar de boa com a Julia. Até agora não falou nada sobre ela. Estou no direito de pedir meu dinheiro de volta então — responde de forma rude.

— Me desculpe! — ela diz com um sorriso no rosto. — Vamos falar sobre a Julia. Você e Julia estão se dando bem?

— Uhum.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora