34ª dose

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A balança está pendendo para o lado da dor, mas dessa vez quem sofre não sou eu.

A semana foi dolorosa e, para piorar, passou bem devagar. Fiquei na casa de Ítalo nos dias em que Bernardo não pôde ficar comigo. Fui para ser cuidada por Yara, não por ele. Ela que me convidou. Cada vez que eu pensava que não iria sentir mais dor, ela aparecia forte, intensa e por mais tempo. Cheguei a arrumar a bolsa da maternidade, um presente de Yara, toda em verde claro, com o nome Valentim bordado no meio.

Minha barriga está cada dia maior. As dores cessaram, para o meu alívio e o de Jéssica, que passou todas as noites comigo ao telefone, conversando com o meu filho para ele esperar um pouquinho. Este final da gravidez não está sendo nada do que eu esperava. Estou passando mal o tempo todo e ainda estou afogada em um mar de sentimentos conflitantes. Penso nos relatos que li e coisas que outras pessoas me contaram na fila do mercado e vejo que estou tendo tudo. Tem gente que não sente nada na gravidez. A criança simplesmente nasce quando é a hora. Já a minha gravidez é um alarme falso atrás de outro e eu não sei se aguento mais um treinamento de parto.

Hoje é o dia do chá de bebê.

— O que estão aprontando? — pergunto ao tatear a porta da sala de Ítalo com os olhos vendados.

Jessica está me guiando pela casa de Ítalo. Optamos por realizar o chá de bebê aqui. Embora minha casa não seja pequena demais para ter um chá de bebê e minha sala reformada ainda precisa de uma festa para comemorar, optamos por fazer aqui porque, por algum motivo, Yara está se sentindo cansada demais para pegar ônibus. Ela passou a maior parte do tempo que estive aqui deitada. Não sei o que está acontecendo, mas ela diz que é só gripe e que, apesar de estar melhor, o cansaço continuou. Mesmo preocupada, decido acreditar nisso, pois o tempo oscilante está fazendo muita gente ficar gripada.

— Confia em mim! — Jessica diz, retirando a venda dos meus olhos.

Assim que abro os olhos, vejo Ítalo à minha frente, mas não apenas ele: meus pais, Yara, Bernardo, os amigos de Ítalo e alguns dos meus amigos com quem não falo há tempos. Rita está aqui e também a nova amiga de Jessica e sua irmã. A casa está cheia.

— Jessica é a culpada por isso — Ítalo diz, rindo.

Olho ao redor e vejo que a arrumação está melhor do que se eu tivesse feito algo. Observo cada detalhe, pois também é um dia importante para mim: meu primeiro chá de bebê. Vou me lembrar disso a vida toda.

Há um castelo feito de fraldas no centro da mesa, e todos os detalhes são verdes e brancos. Plaquinhas estão espalhadas por todos os lados, como: "Dá até vontade de ter um!", "Quem serão os próximos?" e o pior, "Usem camisinha!"

— Sempre se superando — digo, batendo palmas para Jessica.

— Ah, eu sou incrível, eu sei.

Não me canso de olhar para cada detalhe e para as pessoas que estão ali. Falo com cada uma delas e tiro algumas fotos. Observo meus pais conversando com Yara um pouco afastados de mim. Ítalo e seus amigos estão bebendo algo que eu gostaria muito de saber o que é.

— Eu queria tanto poder beber! — Faço uma careta.

Rita vem para perto de mim trazendo duas garrafinhas de plástico e me entrega uma. Olho e fico surpresa ao ver que Jessica fez vitamina e desenhou todas as laterais das garrafinhas com as medidas, e colocou tampa e canudo como se fosse uma mamadeira de verdade. Pergunto se só há vitamina, e ela ri, dizendo que fez de tudo. Apresento as duas, e elas começam uma conversa animada sobre séries. Rita é um pouco gaga, mas Jessica espera pacientemente cada palavra que ela se enrola na pronúncia.

Quando estiver sóbrio (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora